sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

Aos cidadãos do "Mundo da Cásper"

Tive algumas conversas avulsas, bem de corredor mesmo, com pessoas sobre o futuro desse weblog, que perteceu às avaliações da disciplina de Filosofia, com o professor Dimas Künsch. Não cheguei em conclusão nenhuma, pois toparia até continuar, embora tenha outros projetos.

Cheguei num consenso pessoal, nem tanto com os outros integrantes do grupo, de deixar esse espaço da internet "aceso", mesmo que ninguém visite, que ninguém se importe. Parte de nossas histórias pessoais se encontram nessas páginas, mesmo que feitas sem planejamento, sem nenhum senso histórico ou algo do tipo.

Outro ponto interessante a ressaltar é, se os calouros, vulgo bixos, se apresentarem ano que vem com trabalhos que necessitem de blogs, que o nosso seja, quem sabe, um modelo.

Não tenho muito o que dizer com essa postagem. Talvez tenha sábias palavras do filósofo Friedrich Nietzsche, do livro Assim Falou Zaratustra para esse momento:





"Criar é a grande emancipação da dor e o alívio da vida; mas para o criador existir são necessárias muitas dores e transformações. Sim, criadores, é mister que haja na vossa vida muitas mortes amargas. Sereis assim os defensores e justificadores de tudo o que é perecível. Para o criador ser o filho que renasce, é preciso que queira ser a mãe com as dores de mãe."


Aos meus amigos de grupo e colegas da Cásper Líbero,

Um forte abraço com sentimento de amigo, desejos que não sejam só de "bom Natal e feliz Ano-Novo", mas sim de inspirações para concluírmos um curso realmente bom em nossas vidas. Que a caminhada seja única, mesmo com as coisas que temos em comum.

Aos demais,

Obrigado pela paciência de comentarem, obrigado pelas contribuições inspiradoras e obrigado por nos ajudar a existir, até mesmo nos problemas de grupo.



Fiquem livres para reler o weblog, fiquem livres para esquecê-lo também. Revivam o que acharem que deve e enterrem o que deve morrer. Boa sorte a todos.

terça-feira, 13 de novembro de 2007

Parabéns!!! É 100!!

Olha só!! Parabens Cidadãos do Mundo, vocês chegaram ao post número 100!!!!

Com uma reles ajudinha do Pedro e da Marília, o Cidadão do Mundo se consolida como um dos blogs de filosofia de 1º ano da Cásper Líbero que possui o maior número de posts. Ser um dos mais produtivo não é para qualquer um não!!

Por isso, dirijo meus parabéns a cada membro do grupo e...

Ah, vocês sabem que são bons.

Sem mais.

Ai de nós...

CANÇÃO DO SUICIDA

Não me matarei, meus amigos.
Não o farei, possivelmente.
Mas que tenho vontade, tenho.
Tenho, e, muito curiosamente.

Com um tiro. Um tiro no ouvido,
Vingança contra a condição
Humana, ai de nós! sobre-humana
De ser dotado de razão.



(Manuel Bandeira, 1963)

Razão! Temos razão.

Orgulho de nossa condição.

Tormeto. Agonia. Depressão.

Nos faz rimar... Melhor fosse que não.

Suspiro do Copyleft?

"Privatizado

Privatizaram sua vida, seu trabalho, sua hora de amar e seu direito de pensar.
É da empresa privada o seu passo em frente,
seu pão e seu salário. E agora não contente querem
privatizar o conhecimento, a sabedoria,
o pensamento, que só à humanidade pertence."


De Bertold Brecht, 1898 - 1956.

Naquele tempo ele já pensava em copyleft? Que estava perdendo os direitos artísticos pelos direitos autorais? Será?

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

A própria voz é a que mais machuca

Sexta-feira, por ocasião de um evento, fui convidada a visitar uma base de aviação do Exército. Vimos toda a estrutura do lugar, a logística, o refeitório, o batalhão de manutenção, um hangar de helicópteros e o centro de ensino de pilotos e mecânicos (Aliás, o próprio Exército montou a estrutura de ensino dos pilotos, o que inclui um software desenvolvido pelos sargentos, que custaria mais de 400 mil reais se fosse encomendado em uma empresa civil. Senhores, contemplem: talvez o ÚNICO software NÃO pirateado do Brasil).

Como todo bom jovem, fiquei besta na frente de todo aquele maquinário voador de 740 cavalos que provavelmente eu nunca verei de novo. Você sabe né? Aquele lugar onde a parte pivete-de-onze-anos do seu cérebro sempre sonhou em estar. Tudo muito bem organizado, entiquetado e limpo.

O comandante nos levou a uma sala onde havia um simulador, baseado na tecnologia de um jogo da Microsoft, porém mais complexo, com um telão, dois monitores para imitar os relojinhos e dois controles de helicóptero adaptados ao computador. Tudo muito caseiro, porém extremamente bem feito, como é o hábito dos militares.

O sargento-professor perguntou se algum dos civis queria experimentar. Haha, veja se eu, uma apreciadora de jogos eletrônicos (mas não tão fã de simuladores de vôo, pois isso é jogo para meninos, eu prefiro os de ação), perderia uma chance dessas? Meu dedinho coçou, e, timidamente, mas energicamente, se levantou. O comandante me convidou à cadeira, eu me sentei, emocionada. Ele deu uma demonstração, explicou os comandos, eu bebia suas palavras.

Aquela base tinha em torno de 2.400 militares, se 100 deles tivessem sentado uma vez na vida onde eu estava, era muito. Civis como eu? Cof, cof.

Puxei a alavanca que parecia um freio de mão. O helicóptero na tela subiu, como eu planejava. Com os pedais eu o fazia girar no próprio eixo vertical, para esquerda ou para a direita. Confesso que manter essa estabilidade me foi uma tarefa dificultosa, pois os pedais estavam descalibrados. Pô-lo no ar e deixá-lo lá foi fácil. O difícil era mantê-lo equilibrado, através do joystick que eu controlava com minha mão direita. Achei o máximo conseguir pilotar aquele brinquedinho, principalmente porque estava na frente dos militares. Uma moça também experimentou antes de mim, mas ela foi muito mal mesmo, seja por inexperiência (que eu tamém tinha) ou falta de vontade ou até mesmo uma farda bem preenchida (que eu também via), fato é que, nas mãos dela, as pás da aeronave sempre chegavam antes no chão.

Comigo não foi assim, não. Eu não caí. Não perdi (muito) o controle. Só parecia um helicóptero meio bêbado, mas tudo bem. Fui pra lá, fui pra cá. Voei? Voei. Cheguei a algum lugar no cenário? Aí já é pedir muito, meu chapa. Mas, no fim, um major me elogiou, acho que estava só brincando, disse que eu levava jeito, que era a primeira vez que mexia e já conseguia muita coisa, conseguiu ir muito bem, parabéns, mulheres têm jeito com essas coisas, porque tem as mãos delicadas e precisas (engraçado, isso ele não falou na vez da moça), e blablablá. Mesmo assim, fiquei muito lisonjeada com o elogio. Muito mesmo. Se fosse uma cantada... com certeza seria melhor do que "Oi, você tem miopia ou astigmatismo?". Enfim, adorei aquilo mesmo, de coração e honra, encheu meu ego, e olha que raras vezes me sinto confortável quando elogiada.

Alguém não-lembro-quem-isso-não-importa, perguntou se mulheres poderiam ser pilotos. O comandante respondeu que não, que ainda não havia esse tipo de abertura, pelo mesmo motivo que não havia mulheres praças (os que se metem com a parte de combate mesmo), aquela velha discussão maçante que volta e meia sempre volta e não leva a nada. E o Quico? Pois é. Dane-se. Sabe, não me importo mais com essas coisas. Tá cheio de mulher lá dentro e é questão de alguns anos que elas consigam tudo o que querem. Isso não tem nada a ver comigo. Eu nunca quis me meter com forças armadas, não gosto de armas. Aliás, por motivos além dos habituais, quero distância desse meio. É legal? É legal para um deslumbrado de onze anos, mas não para uma vida. Aqueles homens e mulheres são muito corajosos. Mexer com a vida dos outros não é para qualquer um. Meu negócio ali foi brincadeira.

Cheguei em casa. Contei a história do simulador para todos, a mãe, a irmã, o gato e até o primo (que nunca me deixou usar o Comandos em Ação para dar carona para a Barbie, ela sempre tinha que andar a pé, porque só os brinquedos dele tinham carro, os meus não. Claro, até porque o carro da Barbie era mais caro por ser bem mais equipado do que um blindado de plástico), que ficou deliciosamente morrendo de inveja. À noite, resolvi contar tudo para o meu pai, que ficou admirado de tantas coisas novas que agora eu sabia. Até de motor eu aprendi bastante!

No fim de tudo, ele olhou para mim e perguntou:
- Por que você não presta concurso para a Aviação do Exército?

E eu respondi com a maior tranqüilidade do mundo:
- Ah, nem rola. Nem quero. E não posso, porque sou mulher.

Aí, fui fazer outra coisa qualquer. Trinta segundos depois, comecei a chorar, foi como se tivesse tomado uma facada no peito. Meu pai sempre gostou dessas coisas, talvez por isso tenha se tornado engenheiro. Tentou entrar na Aeronáutica quando moço, mas desistiu ao ser reprovado por ter 0,25 de miopia no olho esquerdo. Eu tenho 2,5 em cada olho, nunca passaria num troço desses, e mais do que isso, nunca tentaria, credo, fora de questão.

Então, por que me de repente fiquei tão mal? Que remorso era esse que eu sentia! Sentia até culpa por ser mulher, dar despesa pro País e não retribuir, olha que absurdo.

Acho que respondi isso por não querer admitir que era míope, fraca, sem cordenação, burra, ou qualquer outra coisa. Era mais fácil me desculpar pela falta de oportunidade do que pela falta de competência.

Pensando bem, nunca mais farei isso. É doloroso demais.

Vida na Terra? (Life on Mars?)



Life On Mars? (Vida em Marte?)
David Bowie

"It's a God awful small affair
É um pequeno romance trágico
To the girl with the mousey hair,
Para a garota com o cabelo castanho claro,
But her mummy is yelling, "No!"
Mas a mãe dela está gritando "Não!"
And her daddy has told her to go,
E o pai dela a mandou ir,
But her friend is no where to be seen.
Mas o amigo dela não está em lugar algum.
Now she walks through her sunken dream
Agora ela anda através do seu sonho afogado
To the seats with the clearest view
Para os assentos com melhor vista
And she's hooked to the silver screen,
E ela está vidrada pela tela prateada,
But the film is sadd'ning bore
mas o filme é terrivelmente tedioso
For she's lived it ten times or more.
Pois ela o viveu dez vezes ou mais.
She could spit in the eyes of fools
Ela poderia cuspir nos olhos dos tolos
As they ask her to focus on
Assim como eles pedem para ela se concentrar

Sailors
Marinheiros
Fighting in the dance hall.
Brigando no salão de dança.
Oh man!
Oh, cara!
Look at those cavemen go.
Olhe aqueles primitivos irem.
It's the freakiest show.
É o show das loucuras.
Take a look at the lawman
Dê uma olhada no juiz
Beating up the wrong guy.
Espancando o cara errado.
Oh man!
Oh, cara!
Wonder if he'll ever know
Imagino se ele vai saber
He's in the best selling show.
Que ele está no melhor show comercial.
Is there life on Mars?
Existe vida em Marte?

It's on America's tortured brow
Está na testa torturada da América
That Mickey Mouse has grown up a cow.
que o Mickey Mouse virou uma puta.
Now the workers have struck for fame
Agora os trabalhadores atacam por fama
'Cause Lennon's on sale again.
Porque "Lennon" esta à venda de novo.
See the mice in their million hordes
Veja os ratos em suas milhões de hordas
From Ibeza to the Norfolk Broads.
De Ibeza até Norfolk Broads.
Rule Britannia is out of bounds
Dominar Britania está além dos limites
To my mother, my dog, and clowns,
Para a minha mãe, meu cachorro e palhaços,
But the film is a sadd'ning bore
Mas o filme é tragicamente tedioso
'Cause I wrote it ten times or more.
Porque eu o escrevi dez vezes ou mais
It's about to be write again
Está prestes a ser escrito de novo
As I ask you to focus on
Enquanto eu peço que você se concentre


Sailors
Marinheiros

Fighting in the dance hall.
Brigando no salão de dança.
Oh man!
Oh, cara!
Look at those cavemen go.
Olhe aqueles primitivos irem.
It's the freakiest show.
É o show das loucuras.
Take a look at the lawman
Dê uma olhada no juiz
Beating up the wrong guy.
Espancando o cara errado.
Oh man!
Oh, cara!
Wonder if he'll ever know
Imagino se ele vai saber
He's in the best selling show.
Que ele está no melhor show comercial.
Is there life on Mars?
Existe vida em Marte?"

Embora minha tradução porca tenha deturpado a música do gênio do rock pop e estrela do andrógino, David Bowie, o intuito foi apenas um.

Apesar da letra não ter frases concisas, não seria nossa vida, um show comercial?

Acho essa música excelente na crítica que ela se propõe, mas é preciso um cuidado especial ao lê-la.

O desafio dos desafios

"Vestibular

Paulo Roberto Parreiras
desapareceu de casa.
Trajava calças cinza e camisa branca
e tinha dezesseis anos.
Parecia com teu filho, teu irmão,
teu sobrinho, parecia
com o filho do vizinho
mas não era. Era Paulo
Roberto Parreiras
que não passou no vestibular.

Recebeu a notícia quinta-feira à tarde,
ficou triste
e sumiu.
De vergonha? de raiva?
Paulo Roberto estudou
dura duramente
durante os últimos meses
Deixou de lado os discos,
o cinema,
até a namoradinha ficou dias sem vê-lo,
Nem soube do carnaval.
Se ele fez bem ou mal
não sei: queria
passar no vestibular.
Não passou. Não basta
estudar?

Paulo Roberto Parreiras
a quem nunca vi mais gordo,
onde quer que você esteja
fique certo
de que estamos do seu lado.

Sei que isso é muito pouco
para quem estudou tanto
e não foi classificado (pois não há mais
excedentes), mas
é o que lhe posso oferecer: minha palavra
de amigo
desconhecido.
Nesta mesma quinta-feira
em Nova York morreu
um menino de treze anos que tomava entorpecentes.
Em São Paulo, outro garoto
foi preso roubando um carro.
E há muitos outros que somem
ou surgem como cometas ardendo em sangue, nestas noites,
nestas tardes,
nestes dias amargos.

Não sei pra onde você foi
nem o que pretende fazer
nem posso dizer que volte
para casa,
estude (mais?) e tente outra vez.
Não tenho nenhum poder,
nada posso assegurar.
Tudo que posso dizer-lhe é que a gente não foge
da vida,
é que não adianta fugir
Nem adianta endoidar.
Tudo o que posso dizer-lhe
é que você tem o direito de estudar.
É justa a sua revolta:
seu outro vestibular."

Ferreira Gullar.

Morin, sim, Edgar Morin, defende uma escola diferente. Mestres diferentes, alunos pensantes, principalmente no livro Cabeça Bem-Feita.

Agora, com a poesia de Gullar, me indago se a luta por essa outra educação, passando pelos moldes da de hoje e sua reprovação com outras, vale a pena (...).

segunda-feira, 29 de outubro de 2007

Produção de dissonância eletromagnética

Ligo um sintetizador por cabos até um computador. Abro o software e posso reproduzir toda uma escala de notas numa velocidade alta, como se estivesse dedilhando freneticamente ou palhetando algo que não conseguiria normalmente em uma guitarra elétrica. Não satisfeito com isso, eu ainda posso reproduzir sons em alturas e seqüências que me demandariam tempo e prática se fosse executar em um piano, em um teclado ou em um banjo.

Conhecido por ter explodido na música pop na década de 1980, a música eletrônica é isso: poder de tornar o som que você deseja real. Não se resume ao techno, às festas raves e ao pessoal dançando uma música considerada estranha para os padrões mais eruditos. Os primeiros testes que geraram música através dos sintetizadores remontam o começo do século XX: o movimento futurista que se apropriou das mais diversas formas de arte e rompeu fronteiras dentro delas, além da criação dos primeiros dínamos elétricos, que convertiam energia mecânica em energia elétrica, sendo induzidos e produzindo freqüências.

Essa forma técnica, praticamente industrial, de criar arte começou a ocupar o tempo de personalidades mais experimentalistas, como bandas de rock famosas, os Pink Floyd e The Beatles. No entanto, as composições consideravam a geração de sons por sintetizadores algo secundário, dando mais atenção ainda aos instrumentos em si. Teclados e guitarras elétricas eram amplificados por sons alterados, mas permaneciam necessários na geração dele.

Considerando esse passado mais esquecido, é bom ressaltar que a consolidação das experiências eletrônicas na música como um gênero posteriormente não a tornou a “decadência da música”. Por algum período dos anos 80, com bandas como Pet Shop Boys, New Order (com a morte recente de Ian Curtis e do movimento punk) e Depeche Mode, pensou-se que a digitalização da produção do som eletrônico aboliria os demais instrumentos musicais. Apesar do som cada vez menos trabalhado e mais “pronto”, os anos 1990 provaram que o peso da música instrumental não morreu com a ascensão da música eletrônica.

Um último exemplo que uso para encerrar essa minha crítica é um compositor famoso em filmes, formado como maestro em música no Japão, mas especializado em música eletrônica. Ryuichi Sakamoto, autor das trilhas sonoras como Merry Christmas Mr. Lawrence (Furyo) e Little Buddha (O Pequeno Buda), é um expoente em associar composições mais clássicas, mais focadas no erudito das orquestras, mas não sem deixar de explorar a capacidade dos sintetizadores, dos teclados e suas funções que ultrapassam a funcionalidade simples do piano. Prova de seu êxito musical, Sakamoto tocou, entre 1980 e 1990, com estrelas da música pop, como Iggy Pop e David Sylvian. Pertenceu a famosa Yellow Magic Orquestra, banda de eletropop que se inspirou em outra famosa alemã chamada Kraftwerk. Essa última é percursora de muitos sub-estilos do eletrônico dos anos 80, tais como o próprio techno, house, hip hop e industrial.

Entre as inspirações de Sakamoto, está o maestro Antônio Carlos Jobim, que contribuiu com os conhecimentos de jazz desse músico de renome.

Para fechar, uma música da banda inglesa de rock Radiohead, Idioteque, onde não há nada de guitarras, somente sintetizador, chocalho e bateria. Representa bem a mesclagem da produção de som X fazer arte na música:


E a obra-prima de Sakamoto para os cinemas. Merry Christmas Mr. Lawrence, incluindo suas partes eletrônicas.


sábado, 27 de outubro de 2007

"Faz o que tu queres pois é tudo da Lei"


Sociedade Alternativa- Raul Seixas

Viva, viva, viva a sociedade alternativa
(Viva! Viva!)
Viva, viva, viva a sociedade alternativa
(Viva o novo aeon)
Viva, viva, viva a sociedade alternativa
(Viva! Viva! Viva!)
Viva, viva, viva a sociedade alternativa

Se eu quero e você quer
Tomar banho de chapéu
Ou esperar Papai Noel
Ou discutir Carlos Gardel
Então vá
Faz o que tu queres
Pois é tudo
Da lei, da lei

(Viva, viva, viva a sociedade alternativa)

Faz o que tu queres há de ser
Tudo da lei

(Viva, viva, viva a sociedade alternativa)

Todo homem, toda mulher
É uma estrela

(Viva, viva, viva a sociedade alternativa)

Mas se eu quero e você quer
Tomar banho de chapéu
Ou discutir Carlos Gardel
Ou esperar Papai Noel
Então vá
Faz o que tu queres
Pois é tudo
Da lei, da lei

(Viva, viva, viva a sociedade alternativa)

O número 666 chama-se Aleister Crowley

(Viva, viva, viva a sociedade alternativa)

Faz o que tu queres
Há de ser tudo da lei

(Viva, viva, viva a sociedade alternativa)

A lei de Thelema

(Viva, viva, viva a sociedade alternativa)

A lei do forte, essa é a nossa lei, e a alegria do
mundo.

(Viva, viva, viva a sociedade alternativa)


A música “Sociedade alternativa”, de Raul Seixas, é até hoje um grande sucesso. Muitos ainda cantam essa música, sempre que em um grupo de amigos com um violão alguém grita: “Toca Raul!”. Mas será que essas pessoas sabem o que está por trás de sua letra, conhecem a filosofia que inspirou Raul a compô-la? Será que sabem quem é Aleister Crowley?

Aleister Crowley foi um polêmico ocultista britânico que se autodenominava “Besta 666”. Ele desenvolveu (em seu famoso Livro da Lei) a Lei da Thelema, que inspirou inúmeros músicos, como os Beatles, Led Zeppelin, Iron Maiden e Ozzy Osbourne (que o homenageou na música Mr. Crowley).

A Lei da Thelema se resumia na frase “Faz o que tu queres há de ser o todo da Lei”. Segundo essa lei, todo ser humano era divino, e perdia essa divindade por negar seus verdadeiros desejos, através de valores falsos, como a moral, os padrões de comportamento da sociedade e o conceito de pecado. Todos deveriam então conhecer sua Verdadeira Vontade, e persegui-la, sem que ninguém pudesse impedir a realização de seus verdadeiros desejos.

Porém, ao contrário do que muitos afirmam, isso não significa se entregar a caprichos e vícios. Primeiro, a pessoa deveria tentar conhecer sua Verdadeira Vontade, uma vontade superior, que não é um simples capricho e que não interfere nas vontades das outras pessoas. Afinal, segundo a Thelema, “Todo homem e toda mulher é uma estrela”, ou seja, eles vivem independentemente, sem que a vontade de um possa atrapalhar a de outro.

Assim, Crowley e muitos que acreditavam nele sonhavam em uma nova era, o Novo Aeon, em que cada um buscaria seu verdadeiro propósito, com liberdade, sem falsos moralismos ou sentimentos de culpa, e sem interferir nas vontades de outros. Raul acreditava nisso, o que o levou a escrever “Sociedade Alternativa”.

Muitos projetos de construir sociedades alternativas fracassaram. Hoje, muitos cantam a música de Raul Seixas sem ter idéia das idéias contidas em sua letra. O sonho de uma sociedade alternativa parece cada vez mais distante e impossível. Será?

terça-feira, 23 de outubro de 2007

Na estrada das privatizações


Seguindo o caminho trilhado pelo governo F.H.C, o governo de Lula - mais uma vez contrariando um antigo princípio – encabeçou outro processo de privatização: dessa vez o alvo é o sistema rodoviário.

Após a largada dada pelo governo, realizou-se uma verdadeira corrida entre as empresas privadas para a privatização das rodovias federais. De Brasília partiram algumas determinações que deixaram claras as características de sua realização.

Houve, por exemplo, a não exigência de que participassem empresas com experiência na gestão de concessões rodoviárias. Esse fator é muito preocupante, pois acaba por deixar claro a priorização da questão do lucro pelos cofres nacionais. Mais inquietante ainda são as palavras do superintendente da Exploração da Infra-Estrutura da ANTT, Carlos Serman, que explicitam os interesses do governo: "Entendemos que o grande requisito é a capacidade financeira", afirmou Serman. "Depois que ganhar, o vencedor vai buscar os parceiros especializados que precisar”. Essas posições são alarmantes, porque os grandes acidentes ocorridos na construção das linhas do metrô em São Paulo tem como um de seus grandes causadores um sistema parecido, no qual é dada preferência ao lucro e ao prazo de entrega.

Realmente, as dimensões do negócio impressionam: calcula-se que a operação envolveu algo em torno de 20 bilhões. Nela, estiveram em jogo a concessão de 2.601 quilômetros de rodovias federais por 25 anos, incluindo os trechos São Paulo-Curitiba da BR-116 (Régis Bittencourt) e São Paulo-Belo Horizonte da BR-381 (Fernão Dias).

Na disputa a espanhola OHL Brasil predominou no leilão, arrematando cinco editais, que somam 2.078 quilômetros. Após isso, a empresa tornou-se a maior concessionária de rodovias no país. Outra empresa que adquiriu trechos foi a empresa BRVias – que tem como uma das sócias a família Constantino, dona da Gol Linhas Aéreas - arrematando um trecho da BR-153, de 321,6 quilômetros. A espanhola Acciona do Brasil também tornou-se dona de um trecho de 200,4 quilômetros da BR-39. Um dos quesitos para a concretização das vendas foi o menor preço de pedágio oferecido pelas empresas.

Desde já, o leilão enfrenta representações na justiça para seu cancelamento, uma delas foi apresentada pela Justiça Federal do Paraná, antes de sua realização. A liminar concedida suspendeu o leilão de rodovias naquele Estado. No pedido de liminar, o MP alega que não se ofereceram vias alternativas às rodovias leiloadas e aponta a falta de audiências públicas para discutir o assunto com a comunidade.

A controvérsia é mais um indicador de que o processo de privatização trará duvidosas conseqüências para a população. Mostra também que os utilizadores das rodovias, principais influenciados pelas privatizações, não estão convencidos dos benefícios trazidos pelas resoluções tomadas. Só é de se esperar que mais uma vez o consumidor não seja prejudicado em detrimento aos lucros do governo, como já é comum em tantas outras privatizações.

Por Luca Contro

segunda-feira, 22 de outubro de 2007

Eternidades de segundo

Noite de domingo. E não é que a musiquinha do Fantástico realmente faz a gente querer morrer? Deito na cama, respiro fundo e encaro o teto até passar.
Mamãe chama: - Joana, vem jantar!
Tudo o que eu preciso agora é aquela conversinha sobre futuro que papai insiste em abordar toda vez que eu sento à mesa com o olhar perdido. Olho perdida... A bunda ainda dói devido ao pé que levou na sexta-feira. Perco-me para não pensar. Quando penso, um outro lugar dói, o ego, a cabeça, o cotovelo. Como dói o cotovelo!
- Joana, vem jantar!
Mamãe insiste. Melhor levantar. Respiro fundo. Adeus teto. Um som lá fora me faz parar. É só o vento nas árvores. ... Se é assim, por que eu tive que olhar?
O vento nas árvores são os deuses fazendo uma criança rir. Um momento, a dor sumiu. E a lembrança...
Alguém cantarolando nas escadas do metrô.
...
Jantei. Dormirei. E quero, como quero acordar!

Se fosse dor tudo na vida,
Seria a morte o sumo bem.
Libertadora apetecida,
A alma dir-lhe-ia, ansiosa: - "Vem!

(...)
Mas horas há que marcam fundo...
Feitas, em cada um de nós,
De eternidades de segundo,
Cuja saudade extingue a voz.

(...)

A vida assim nos afeiçoa,
Prende! Antes fosse toda fel!
Que ao se mostrar às vezes boa,
Ela requinta em ser cruel...
A vida assim nos afeiçoa - Manuel Bandeira

sexta-feira, 19 de outubro de 2007

Sobre Hegel: Note a semelhança


Sistema racionalista do filósofo moderno Hegel (razão É história, é processo, dialética, tese-antítese-síntese) em esquema segundo o site hegel.net (http://www.hegel.net/br/b0.htm)

Personagem Link (de verde), dos jogos de videogame da série The Legend of Zelda, usando uma relíquia do jogo chamada Triforce, uma arma que reúne três virtudes: Coragem, Poder e Sabedoria (Coragem + Poder).

Eu sei que associações em excesso fazem mal à saúde, mas não é MUITO parecido os conceitos da Triforce no joguinho e a filosofia hegeliana? (o que diria, então, das figuras?)


Postagem sem nenhum compromisso sério, exceto essas relações bizarras (...).

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Eu tenho o sexto sentido, e você?

Diz por aí que o ser humano tem cinco sentidos. A professorinha faz a gente decorar isso religiosamente. Pois isso é uma grande besteira. Todos temos seis. EU DISSE 6 (meia dúzia). E eu não estou concordando com os místicos paranormais que têm por aí. Até o fim desse post você estará convencido de que são seis... ou não.

Não, nem todos podem ver gente morta. Não é a aura, não é o espírito, não é visão do futuro.

O sexto sentido é o equilíbrio.

— Hã? Só isso? — diriam uns.

Como assim só isso, rapaz? Nada mais banal, revelador e imprecindível que o equilíbrio. Já imaginou sua vida sem ele? Ah, os bebuns que sabem como é. Não poderíamos ser chamados de bípedes sem ele. Toda a orientação espacial que temos está ligada a esse pequeno labirinto membranoso dentro do osso da têmpora.

Seria pretenção minha querer explicar como funciona o equilíbrio, porém segue aqui um pequeno resumo para não dizer que eu não falei das flores.

A função do equilíbrio é gerada a partir de um órgão no ouvido, mas não é totalmente restrita a ele. Essa sensação direcional que sentimos é uma resultante e está relacionada a três sistemas:

O Sistema de Entrada Visual

Nós recebemos muita informação sobre o que nos rodeia a partir do que vemos. Quando estamos desequilibrados nos baseamos muito na imagem para nos orientarmos.

O Sistema Proprioceptivo

Receptores nos pés e nas juntas e também no pescoço nos fornecem informações sobre como o corpo está se movendo e se estamos em chão firme.

O Sistema Vestibular

Calma, não se assuste, já passou... você já está na faculdade... isso... calma... respira. Ufa. O sistema vestibular é o órgão do equilíbrio que está localizado no ouvido interno. O caracol está ligado à audição. Os canais semicirculares estão ligados ao equilíbrio. Claro que há detalhes muito mais complexos que minha ignorância não permite descrever, mas se quiser saber mais leia essa página [BioCiência.org]. Cada um deles está disposto direcionalmente de forma a interpretar cada uma das três "dimensões" do espaço. Ou seja, um está horizontal, o outro está vertical e o terceiro está vertical também, porém transversal em relação ao segundo. Não entendeu? É simples, eles estão estruturados de forma a poder sentir o posicionamento da sua cabeça nos três planos espaciais.

Feche os olhos de uma pessoa e vire-a de todo jeito e depois pergunte para onde é o chão (não tente isso em casa). Se ela souber que o chão fica sempre para baixo com certeza vai acertar. O equilíbrio sempre garante que saibamos para onde o santo ajuda, estejamos sendo girados horizontalmente, verticalmente ou transversalmente.

Isso dá pano pra manga de uma discussão exposta por Edgar Morin em seu livro A Cabeça Bem Feita, a retroação do ser humano como ser biológico e como ser cultural. A partir da constituição do ouvido podemos compreender que o ser humano não é apenas culturalmente capaz de perceber as três dimensões (através do pensamento e da filosofia) é também biologicamente capaz de sentí-las. Por outro lado, só nos percebemos seres biológicos com todos os nossos aparatos quando nos estudamos, o que já configura uma construção cultural. Ou seja, o ser cultural pensa o ser biológico, que por sua vez permite a plena existência e capacidade do ser cultural. O ser cultural não é uma coisa abstrata e nem o ser biológico é um amontoado de carne.

Voltando ao sexto sentido: É por causa desses canais que quando você dá um tapa em uma pessoa na orelha, mesmo que fraco, ela tende a cambalear. Isso porque, por um momento, os canais semicirculares do ouvido que foi atingido vão vibrar por causa da força do impacto, bagunçando e agitando a endolinfa (líquido que estimulas as células sensoriais e que serve de referência para a mudança de posição), o que faz o cérebro fazer uma medição errada, logo, cambaleamos por falta de orientação. O outro ouvido tende a compensar evitando que a pessoa caia. Bata nas duas orelhas e a pessoa irá ao chão (não tente isso em casa).

Quando sua cabeça muda de ângulo em relação à superfície da Terra, a endolinfa mudará para o ângulo oposto, estimulando as células sensoriais e avisando que você (seu eixo de equilíbrio, cada pessoa tem o seu) não está alinhado com a direção da força da gravidade, na posição ideal que o faz ficar de pé, correndo o risco de cair. Esses três sistemas trabalhando em conjunto, de forma complexa, enviando um fluxo contínuo de avisos ao cérebro e à medula espinhal acabam nos dando noção de posição do corpo inteiro, embora a posição da cabeça seja a mais perceptível e precisa por causa do sistema vestibular. Já notou como temos a tendência a sempre deixar a cabeça em posição vertical? Toda pessoa quando aprende a andar desenvolve a percepção de seu próprio eixo para usá-lo como ponto ideal e tudo que estiver fora disso o equilíbrio irá alertar o cérebro de que algo precisa ser feito.

Vale lembrar: o equilíbrio não é uma bússola que aponta para o centro da Terra. É apenas um sentido que capta a aceleração do seu corpo e a usa para determinar seu posicionamento e a mudança dele.

Importante salientar: aceleração.

Fisicamente, não há diferença entre um corpo em repouso e um corpo em velocidade constante. Você está dirigindo um carro em altíssima velocidade, porém constante. Se fechar os olhos, sua sensação será de total imobilidade (não tente isso em casa). Se não fosse assim, ficaríamos malucos ao sentir a absurda velocidade de rotação do planeta, que, ainda bem, é constante.

Agora, porque o equilíbrio não foi reconhecido antes como sexto sentido? Principalmente por sua condição estrutural. Ele praticamente divide o aparato neural com a audição e é auxiliado em parte pela visão e pelo tato. Não podemos esquecer também que a recíproca também acontece com todos os sentidos entre si, se tratarmos como um sistema complexo, já que o corpo humano não é apenas uma receita de bolo cheia de carbono, enxofre e oxigênio como pensa o alquimista Edward Elric (do anime Full Metal Alchemist) ou um amontoado de braços, tripas e cicatrizes como em Frankstein. Não podemos conhecer o todo sem conhecer as partes, mas também não podemos conhecer as partes sem conhecer o todo, como já diria Pascal.

Já notamos anteriormente que a visão contribui para o equilíbrio e que o equilíbrio contribui para a percepção visual das três dimensões. A audição está ligada ao equilíbrio porque estão localizados na mesma região. O tato, através do sistema proprioceptivo, também contribui para nossa sensação de orientação e peso. Por sua vez, o tato enriquece a visão dando-nos idéia de textura associada às sombras de uma superfície. Daí podem vir infinitas combinações só para exemplificar que temos na verdade um complexo sistema sensorial (biológico) e que por ele passa e se baseia nossa percepção de realidade (cultural). O que sentimos na verdade é a resultante da ação conjunta de todos os nossos sentidos. Isoladamente e separadamente duvido que eles sejam tão úteis, preciosos e significantes quanto seu conjunto.

Se você se centra em uma maçã na árvore, você pode ver seu formato, sua cor vermelha, sentir seu cheiro, pode compreender sua posição no espaço, pode ouvi-la cair na sua cabeça e mesmo perceber antes que ela caia o lugar exato onde irá cair, pode tocá-la, comprovar sua textura lisa, sentir seu volume, seu peso, depois seu sabor ao mordê-la. Se um dos seis sentidos faltasse, a realidade que percebemos seria modificada drasticamente, pois todos os outros sentidos seriam de alguma forma comprometidos, uns mais que outros, pois estão todos interligados, trabalhando juntos, não dependentes, mas aliados e, como diria Edgar Morin, complexos.

Sobre o sétimo sentido? Isso para mim é um mistério.

terça-feira, 16 de outubro de 2007

Algum cheirinho de alecrim

O décimo nono artigo da Declaração Universal dos Direitos Humanos nunca foi tão importante: “Todo indivíduo tem direito à liberdade de opinião e de expressão”.

Que o diga Lobão. O polêmico roqueiro lançou no final de setembro o “Peidei, mas não fui eu”. Trata-se de um misto de movimento anárquico e embrião de partido político. Destina-se, segundo ele, a combater a corrupção que grassa no país.

Um dos objetivos do “Peidei” é o de “acordar” a oposição que, a seu juízo, anda meio “adormecida”. Para tanto, Lobão lançou uma música tema para o movimento: uma paródia da célebre melodia “Que será que será”, do lulista Chico Buarque.

Na versão de Lobão, “Que será” virou “Quem Será que Peida”. O cantor revisita não só a música de Chico, mas também o espírito de luta contra as barbáries promovidas pelos políticos de nossa nação.

Mas não está tudo sob controle? Claro que está. E este é o problema. Tenhamos, pá, a febre d’Além-Mar, pois do contrário não passaremos de cadáveres adiados que procriam. Naveguemos para um porto seguro, onde estejamos fadados ao axé de todos os santos. Desbravemos o mar de lama do Planalto, nem que seja no mais frágil dos barcos de papel.
Precisamos revitalizar o velho Chico. Acabar com os estigmas de um país “que não tem governo nem nunca terá/ que não tem vergonha nem nunca terá”. Lobão nos traz um cravo, ao som de um alegre fado. Esperamos que o “Peidei” nos traga novamente algum cheirinho de alecrim.

sábado, 13 de outubro de 2007

Homens e Mulheres - Trilogia Musical Parte II

Olá a todos! Devido ao estrondoso sucesso de crítica e público (2 comentários até o momento!), imploraram para que eu adiasse ao máximo a continuação desta empreitada, que não são os sete saberes que o Pedro estudou, mas que é minha humilde colaboração a tão querido e tradicional veículo de comunicação, o blog Cidadão do Mundo! Conforme sugestão do nosso ilustre administrador, Pedro, este é Homens e Mulheres Reloaded (sem quaisquer referências ao Macaco Simão), que vai falar de “A Gente é Tudo Igual”, música de Roger Moreira em parceria com o baixista Mingau, também encontrada no disco “Os Invisíveis” (letra logo abaixo).

Depois daquela noite em que você chutou a Miss Simpatia, talvez no domingo pós-ressaca tenha vindo um certo arrependimento, algo que te fez refletir sobre sua gloriosa carreira amorosa. Das suas inúmeras conquistas (vejamos, você sai uma vez por semana, nunca volta zerado, faz uns três anos que a balada é sua companheira de aventuras... são cento e poucas conquistas! E você nem começou direito!), quantas realmente valeram a pena? Quantas, como conta Roger (e olha que ele gosta de mulher!), você não quis que sumissem logo depois da primeira vez? E depois do primeiro encontro fora da balada, quantas não te trouxeram aquele baita arrependimento, do tipo, Meu Deus, era melhor eu ter ficado quieto em casa? Pois é... mas fique tranqüilo, porque o Roger já perguntou pros amigos dele, que confirmaram: homem é tudo igual!

Mas como tudo tem dois lados (para o Samuel Rosa, chega a ter três lados...), a gente também sofre. Quantas vezes você não foi surpreendido por uma paixão fulminante, achando que sim, ela era a garota que você ia pedir em namoro assim que encontrasse novamente (e eis aqui um conselho, que nem é meu: take it easy, my brother Charles). Mas ela te atende no telefone com aquela voz de quem está louca para desligar e fazer coisa melhor, mesmo que passar esmalte esteja nessa categoria. Aí você liga de novo, ela não atende (tudo bem, ela deve estar ocupada, eu tento mais tarde). Você liga mais tarde... será que ela bloqueou o meu número??? Para descobrir, você, um cara esperto, pede o celular do irmão, pai, mãe ou até o do amigo emprestado e ela atende: AHÁ, o problema é mesmo seu! Isso para ficar nas relações que não chegam a se estabelecer, porque quando a gente namora, só nós importamos com nosso par, chega a tomar jeito, ficar responsável e fiel, não é mesmo?

Bem... e se ela não pensar assim? Quem ainda não foi traído, más notícias: a chance de que isso aconteça no futuro é maior do que eu desejaria. Pouts, será que isso acontece só comigo, pensaríamos os mais desavisados? Acho que não, isso deve ser normal, porque o Roger perguntou para os amigos dele, que felizmente confirmaram: mulher é tudo igual!

Espero apenas que um dia alguém tenha provado ou possa provar o contrário para todos nós, embora individualmente: que ele ou ela, desde que não tivéssemos desejado que sumisse, não é igual a todos os demais! Para o grand finale, a mais famosa das três músicas desta incrível (e felizmente independente de bilheterias) trilogia: “Agora é Tarde”. Até lá!

“De todas as mulheres que eu já tive/ Acho que só duas ou três/ Que eu não desejei foi que sumissem/ Logo depois da primeira vez

Será que acontece só comigo?/ Acho que não, isso deve ser normal/ Eu já perguntei pros meus amigos/ E eles me confirmaram/ Homem é tudo igual!

De todas as mulheres que eu já tive/ Acho que só duas ou três/ Que não foram ciscar noutro terreiro/ Nem que fosse só uma vez

Será que acontece só comigo?/ Acho que não, isso deve ser normal/ Eu já perguntei pros meus amigos/ E eles me confirmaram/ Mulher é tudo igual!

De todas as besteiras que eu já disse/ Acho que só duas ou três/ Que eu preferia não ter dito/ E acho que essa é uma das três!”

sexta-feira, 12 de outubro de 2007

Brasil com P

Mesmo enfrentando muitas resistências e preconceitos, o rap continua transformando a realidade em poesia, e a poesia em protesto.
Bom exemplo é o genial rap "Brasil com P", composto pelo rapper Gog, mas que ficou mais famoso na versão dos Racionais MC's.

Pesquisa publicada prova:
Preferencialmente preto, pobre, prostituta pra polícia prender
Pare
Pense
Por quê?

Prossigo...
Pelas periferias praticam perversidades
PMs
Pelos palanques políticos prometem, prometem...
Pura palhaçada
Proveito próprio
Praias, programas, piscinas...
Palmas

Pra periferia?
Pânico, pólvora, pá-pá-pá!
Primeira página!
Preço pago:
Pescoço, peito, pulmões perfurados
Parece pouco?

Pedro Paulo
Profissão: pedreiro
Passatempo predileto: pandeiro
Preso portando pó passou pelos piores pesadelos
Presídios, porões, problemas pessoais, psicológicos
Perdeu parceiros, passado, presente,
Pais, parentes, principais pertences

PC
Político privilegiado preso parecia piada
Pagou propina pro plantão policial
Passou pela porta principal

Posso parecer psicopata
Pivô pra perseguição
Prevejo populares portando pistolas
Pronunciando palavrões
Promotores públicos pedindo prisões
Pecado
Pena
Prisão perpétua
Palavras pronunciadas
Pelo poeta, irmão

domingo, 7 de outubro de 2007

Um tapa do cinema na classe média


Um filme sério numa época de muitas palhaçadas, não só no Brasil.

José Padilha, o diretor, estruturou o filme para não esconder nada, mesmo que seja numa obra de ficção como Elite da Tropa. Wagner Moura interpreta dois personagens dentro de um: o capitão Nascimento narrador e o Nascimento personagem, chefe do BOPE (Batalhão de Operações Policiais Estratégicas, Rio de Janeiro). Os recrutas são avatares do caos da sociedade, tendo Matias como contato na corrupção civil e Neto na corrupção do Estado.

E o que resta ao final do filme é uma forte mensagem convocando as pessoas para uma cidadania, para um repúdio de vez ao tráfico de drogas e às corrupções. Resolve? Não sei, mas eu saí do cinema satisfeito com uma obra de arte e consciente de que há pessoas querendo transmitir mensagens.

Se você não gosta de filmes sobre tráfico, eu faço o desafio de você assistir esse filme e verificar, realmente, se a violência é de graça.

Se você já fumou um beck, uma maconha, faço o convite pra ver se você não se envergonha do que faz.

Falta de auto-educação. É.

Trailer do filme:

quarta-feira, 3 de outubro de 2007

Reutilizando a prosa poética

Toda renovada lá estava sem seu lugar a atrair excursões, admiradores, de cabelos brancos aos mais coloridos possíveis, rosa púrpura brilhava em meio a todos os outros.
Um universo paralelo que se configurava naquele momento e reunia diversas intenções, desejos secretos que se revelavam pelo simples modo de olhar.
Era um mar de gente com estrelas no lugar dos olhos, e que por mais diferentes que fossem entre si, conseguiam compreender o sorriso bobo, ainda meio tímido de quem lê uma poesia na parede de gesso e ali encontra uma parte sua que estava faltando.
O que não teria a dizer a Antropologia?
Nas palavras da poeta: “Queria ao menos entender que não entendo”, é nesse segundo que o peso da idade apoiado na bengala encontra o olhar vislumbrante da mocidade e como em um passe de mágica uma gotinha de chuva cai de cada estrela que ocupava o lugar dos olhos. Entendem-se de modo que a careca parece ser amiga íntima daquele black power que há pouco estranhara.
As centenas de gavetinhas marrons são portas que nos imergem em uma interação surreal em instante nada virtual. Cada uma abre espaço para percepções distintas que incrivelmente tocam a todos de maneiras diferentes e ao mesmo tempo similares. São pequenas gotas d’água escorrendo, são verdadeiras tempestades inundando rostos, são sorrisos tímidos de quem ainda não se permitiu gostar e são também verdadeiras gargalhadas de emoção.
O céu se faz na mesa azul que não só pela cor o remete, são sufixos e radicais unidos a formar muito mais do que palavras, eles formam brincadeiras entre pessoas que antes diriam nem se conhecer.

terça-feira, 2 de outubro de 2007

Canção Simples

Ontem, dia 1 de outubro, foi lançado em Portugal "Jardim", o primeiro álbum solo de Tiago Bettencourt, antigo vocalista e letrista dos Toranja, banda portuguesa que excursionou pelo Brasil a convite do Los Hermanos no ano passado, época em que as duas bandas ainda existiam.

O primeiro single chama-se "Canção Simples", e tanto a letra quanto o clipe me fascinaram. A música é trilha sonora da novela portuguesa "Deixa-me Amar". Espero que vocês também gostem!




"Há qualquer coisa de leve na tua mão,
Qualquer coisa que aquece o coração
Há qualquer coisa quente quando estás,
Qualquer coisa que prende e nos desfaz

Fazes muito mais que o sol
Fazes muito mais que o sol

A forma dos teus braços sobre os meus,
O tempo dos meus olhos sobre os teus
Desço nos teus ombros para provar
Tudo o que pediste para levar

Fazes muito mais que o sol
Fazes muito mais que o sol
Fazes muito mais que o sol
Fazes muito mais...

Tens os raios fortes a queimar
Todo o gelo frio que construí
Entras no meu sangue devagar
E eu a transbordar dentro de ti

Tens os raios brancos como um rio,
Sou quem sai do escuro para te ver,
Tens os raios puros no luar,
Sou quem grita fundo para te ter

Fazes muito mais que o sol
Fazes muito mais que o sol
Fazes muito mais que o sol
Fazes muito mais...

Quero ver as cores que tu vês
Para saber a dança que tu és
Quero ser do vento que te faz
Quero ser do espaço onde estás

Deixa ser tão leve a tua mão,
Para ser tão simples a canção
Deixa ser das flores o respirar
Para ser mais fácil te encontrar

Fazes muito mais que o sol
Fazes muito mais que o sol
Fazes muito mais que o sol
Fazes muito mais...

Vem quebrar o medo, vem
Saber se há depois
E sentir que somos dois,
Mas que juntos somos mais

Quero ser razão para seres maior
Quero te oferecer o meu melhor
Quero ser razão para seres maior
Quero te oferecer o meu melhor

Fazes muito mais que o sol
Fazes muito mais que o sol
Fazes muito mais que o sol
Fazes muito mais que o sol
Fazes muito mais que o sol"

sábado, 29 de setembro de 2007

Homens e Mulheres – Trilogia Musical parte I

Já que o cinema hollywoodiano considera tudo divisível por três de uns tempos para cá, realizo agora minha própria trilogia (por favor, sem comparações com Peter Jackson ou os Irmãos Wachowski), valendo-me de três músicas de um álbum chamado “Os Invisíveis” (Deckdisc, 2002), último trabalho inédito de um grupo conhecido por suas letras sérias e quase nada irônicas: Ultraje a Rigor, capitaneado desde os anos 80 por Roger Moreira.

Mas a que se propõe tudo isso? Uma trilogia? Isso mesmo. Ninguém resolveu essa questão (nem eu pretendo fazê-lo), mas cada uma dessas músicas reflete o comportamento masculino de maneira muito próxima da realidade: afinal, o que nós homens queremos das mulheres, e o que será que elas querem? (todas as sugestões neste sentido são bem-vindas).

Começando por “Miss Simpatia”, canção que reflete bem os momentos daqueles acostumados a esperarem alguma coisa de um sábado à noite. A letra de Renato e Gabriel Thomáz conta a história da uma mulher simpática, boa de papo, merecedora de um cara melhor do que a maioria, que já serviu como companhia para quem a esnoba nesse momento, pois “beleza plástica é o quesito que hoje mais me agradaria” (confira a letra e o som abaixo).

Quem nunca foi a uma balada acreditando que conheceria o clone da Gisele Bündchen ou do Reynaldo Gianechinni que atire a primeira pedra. Todo mundo que vai (e talvez a Pacha hoje seja a melhor pedida para quem aprecia o estilo de vida Ricos e Famosos) com a esperança de encontrar alguém, quer que sua conquista seja a oitava maravilha (antiga ou moderna, tanto faz) do mundo, cheio de qualidades, mas, se não puder conseguir tudo isso, ser bonita já é meio caminho andado. Depois das quatro, quatro e meia da manhã, até a beleza é jogada para escanteio: o negócio é não zerar na balada, porque isso é só para losers.

Acontece que vem o dia seguinte, e, meu Deus, como ela consegue ser tão chata? Será que cabe uma azeitona dentro do que a chapinha dela esconde? Ela consegue pronunciar uma frase que não comece com “tipo” ou “então, né”? Você começa a duvidar da escolha que fez na noite anterior, quando simplesmente ignorou aquela sua amiga gente finíssima que te dá bola, mas que fica ali no cantinho, na dela, e que foi seu “casinho” algum tempo atrás, mas, obviamente, você não contou para ninguém (o que vão pensar de mim?), e mais, se dispôs até a apresentá-la a um amigo seu (o que isso causou nela, vale a regra do ema, ema).

Enfim, o fato é que no fundo nós não sabemos o que queremos (tanto quanto dizemos das mulheres), mas isso tem que ficar só entre nós, e quanto menos aparentamos insegurança, melhor. Mesmo que o preço disso sejam relações superficiais e insatisfatórias, vamos pagando em suaves prestações mensais, que assim percebemos um pouco menos. Semana que vem: “A gente é tudo igual”.

http://app.radio.musica.uol.com.nr/radiouol/linklista.php?nomeplaylist=007167-5<@>Os_Invisíveis&opcao=umcd#

“Ei, Miss Simpatia/ Me desculpe mas hoje não vamos deixar pra outro dia/ Ei, Miss Simpatia/ Beleza plástica é o quesito que hoje mais me agradaria/ Você é muito inteligente mas hoje eu não tô a fim de conversar/ Se você estiver sozinha tem um amigo que eu posso apresentar

Não me leve a mal mas hoje eu quero ser superficial/ Eu até acho que a gente formaria um bom casal/ Quem sabe um dia eu te procure pra que a gente bata um papo com um teor mais intelectual/ não me leve a mal

Ei, Miss Simpatia/ Você merece um cara bem melhor do que a maioria/ Ei, Miss Simpatia/ Não sou do tipo que mulher como você se interessaria/ Eu agradeço pelo dia em que você me deu sua companhia/ Quando voltar pra casa sozinho era o que eu menos queria”.

quarta-feira, 26 de setembro de 2007

"Jornal 24 horas do Pastor"


"Net vai ignorar RecordNews, que estréia em 27 de setembro

Ricardo Feltrin
Colunista do UOL News

No dia 27 de setembro a Record colocará no ar seu novo canal de notícias com o objetivo de concorrer com a GloboNews e ir além: o RecordNews estará disponível tanto na TV paga quando na aberta, em UHF.
Justamente por ser concorrente da Globo, a Net (a Globo detém o controle acionário) não vai distribuir o canal. Ao menos num primeiro momento. Na TV paga isso deverá ficar a cargo da TVA (que já transmite a BandNews).
Projeto milionário da emissora, o canal deve estrear com 200 funcionários (mais da metade, jornalistas). Segundo a Record, a programação será exclusiva "e inédita" das 6h à 0h. Da 1h Às 6h será repetição do que já foi exibido.

Fonte: http://noticias.uol.com.br/uolnews/celebridades/ooops/2007/08/16/ult2548u369.jhtm

A "RecordNews" do Pastor Macedo entra ao ar amanhã.

Nada como faturar com a Universal do Reino de Deus e conseguir outra concessão em TV aberta, não é?

terça-feira, 25 de setembro de 2007

Cristo e Marx

Quem disse que os seguidores de Marx são todos ateus?
Ou mesmo iguais?
Não interessa sua crença política ou religiosa.
É interessante esse vídeo.

Lembrando que o pedagogo Paulo Freire ajudou Venício Lima a escrever a nossa bíblia de Teoria da Comunicação, Mídia: Teoria e Política.

sexta-feira, 21 de setembro de 2007

"Buzina ai!"







Dia 17 de setembro, cerca de 40 alunos da Cásper Líbero protestaram contra a absolvição do senador Renan Calheiros. Aparentemente, isso não deu em nada, mas foi interessante observar a quantidade de motoristas que buzinaram com o pedido dos alunos. Sem atrasar o trânsito, os estudantes conseguiram aparecer no site da UOL, Terra e Estadão, além da revista Veja.

No mesmo ano das manifestações contra o Bush, em março, tivemos esse pequeno, mas notável, ato de ativismo político (...).

Fotos por Marcelo Cabreira, do blog Bocejos de Felicidade.

segunda-feira, 17 de setembro de 2007

De Gullar para Renan Calheiros

Me aproprio de uma poesia do admirado crítico acadêmico maranhense, Ferreira Gullar (pseudônimo de José Ribamar Ferreira) para homenagear o querido presidente do Senado absolvido, mesmo após um escândalo comprovado envolvendo denuncias de sustento por um lobista, nessa última quarta-feira, dia 12 de setembro.

Narciso e Narciso

Se Narciso se encontra com Narciso
e um deles finge
que ao outro admira
(para sentir-se admirado),
o outro
pela mesma razão finge também
e ambos acreditam na mentira.

Para Narciso
o olhar do outro, a voz
do outro, o corpo
é sempre o espelho
em que ele a própria imagem mira.
E se o outro é
como ele
outro Narciso,
é espelho contra espelho:
o olhar que mira
reflete o que o admira
num jogo multiplicado em que a mentira
de Narciso a Narciso
inventa o paraíso.
E se amam mentindo
no fingimento que é necessidade
e assim
mais verdadeiro que a verdade.

Mas exige, o amor fingido,
ser sincero
o amor que como ele
é fingimento.
E fingem mais
os dois
com o mesmo esmero
com mais e mais cuidado
- e a mentira se torna desespero.
Assim amam-se agora
se odiando.

O espelho
embaciado,
já Narciso em Narciso não se mira:
se torturam
se ferem
não se largam
que o inferno de Narciso
é ver que o admiravam de mentira.

Tenha um excelente encontro com seu próprio Narciso, Senador.

(Que seriam seus supostos apoiadores, talvez.)

terça-feira, 11 de setembro de 2007

5º sugestão para mini-seminário - 11/9

Dos terroristas até as verdades do Islã.

Da Folha de São Paulo até a rede de televisão Al Jazeera.

Em 6 anos, isso não foi apagado, precisamos (re)pensar também.

Imagem que fala mais do que palavras, sem qualquer defesa estadunidense.

Ou qualquer punição exacerbada.

domingo, 9 de setembro de 2007

Epílogo: A Cabeça Bem-Feita

"Este livro é dirigido a todos,
mas poderia ajudar
particularmente professores e
alunos. Gostaria que estes últimos,
se tiverem acesso a este livro, e
se o ensino os entedia, desanima,
deprime ou aborrece, pudessem utilizar
meus capítulos para assumir
sua própria educação."

Prefácio de A Cabeça Bem-Feita, Edgar Morin.
Com sete ou cem ensinamentos, o objetivo final dele é nos ensinar a auto-disciplina, a revisão de nós mesmos e como lidamos com o novo, que é o conhecimento. Não temos compreensão suficiente às necessidades do mundo.

O sétimo saber: aquecimento global

Após alguns dias sem escrever, volto para concluir minha análise dos saberes de Edgar Morin nessa excelente obra não só para educadores, mas para todas as pessoas preocupadas com conhecimento no futuro.

Todas as comparações feitas nas outras postagens visavam explicitar as diversas maneiras que seus ensinamentos podem ser aplicados nos acontecimentos circunstanciais. Nesse saber que fecha os conceitos do livro, A ética do gênero humano, não há nenhum melhor exemplo do que o aquecimento global, antigamente chamado de "efeito estufa". Embora seja uma reação afirmada como natural do planeta Terra em sua passagem de anos, as conseqüências da emissão de gases com carbono, nitrogênio e outros elementos que aumentam impermeabilidade das camadas gasosas na atmosfera, tornam difícil a saída de calor após o aquecimento recebido do sol dia-a-dia.

Por isso a conseqüência da falta de esforço conjunto pode tornar a temperatura planetária impossível para a vida humana. Progressivamente, o aquecimento começará derretendo ainda mais as calotas polares nas extremidades sul e norte do planeta, causando inundações. Com o passar do ano, regiões desérticas se tornaram inabitáveis, começando a afetar as de clima mais ameno. Uma ética, principalmente em conjunto, deve ser pensada para mudar o curso da história humana.

“A antropo-ética instrui-nos a assumir a missão antropológica do milênio:

Trabalhar para a humanização da humanidade;
Efetuar a dupla pilotagem do planeta: obedecer à vida, guia a vida;
Alcançar a unidade planetária da diversidade;
Respeitar no outro, ao mesmo tempo, a diferença e a identidade quanto a si mesmo;
Desenvolver a ética da solidariedade;
Desenvolver a ética da compreensão;
Ensinar a ética do gênero humano.”

Essas instruções do conceito que ele mesmo criou em seus estudos filosóficos não constroem meramente um manual, cada uma das suas normas permite uma reflexão que, quase imediatamente, pode ser aplicada às medidas contra o perigo do aquecimento nocivo. Ele propõe muito mais do que ética, do que democracia: ele promove, pelos seus escritos e exemplos, uma aula de complexidade e como fazer um bom uso dela.

Fazer uso do complexo, não se limitar em reducionismos ou definições imutáveis. Trabalhar com o específico e seu contexto. A prática a favor do próximo, para Morin, acaba por ocorrer quando se reconhece nele a nossa identidade como gênero humano, que a antropologia bem explica. Os progressos humanos, quando começam a colocar em risco a vida do planeta, pedem uma ecologia que impeça a pior situação. Repensar o destino e o processo total da humanidade.

“Enquanto a espécie humana continua sua aventura sob a ameaça de autodestruição, o imperativo tornou-se salvar a humanidade, realizando-a.”

Por essa última comparação, eu encerro a análise do livro Os sete saberes necessários à uma educação do futuro. As situações, quando não explicam por si, lançam perguntas ao leitor para que não se limite ao conceito fechado sobre os acontecimentos que o cercam, pensando detalhes e toda a realidade que é criada.

sexta-feira, 7 de setembro de 2007

Nova integrante do Cidadão do Mundo: Clarice!

Por ausência de palavras minhas, usarei as dela.
Incrível como assim sem me conhecer ela compreende...
Obrigada, amiga!

"Perdi uma coisa que me era essencial, e que já não é mais. Não me é necessária, assim como se eu tivesse perdido uma terceira perna que até me impossibilitava de andar mas que fazia de mim um tripé estável. Essa terceira perna eu perdi. E voltei a ser uma pessoa que nunca fui. Voltei a ter o que nunca tive: apenas duas pernas. Sei que somente com duas é que posso caminhar. Mas a ausência inútil da terceira me faz falta e me assusta, era ela que fazia de mim uma coisa encontrável por mim mesma, e sem sequer precisar me procurar".

Clarice Lispector.

(Clarice posta nesse blog uma vez por mês, entre um compromisso e outro, uma exposição que seja, momentos esses em que nos presenteia com letrinhas repletas de emoções)

terça-feira, 28 de agosto de 2007

Pensamento do Escritor Medíocre

Nada,
Não disserto nem sobre
Fracasso
Ou Descaso,
Não discuto, sou pobre,
De palavra abalada.

Nada que vejo é maduro
E toda a circunstância
Se torna peso duro,
É a falta de constância.

Nenhuma inspiração, nenhum desejo,
Nenhuma inquietação, nenhum despejo,
Toda a libertação, todo o desespero,
Pilha dos papéis, do fracasso.

Montanhas e montanhas de palavras,
Abismos e abismos de culpas,
Mas um aprendizado,
Um laço delicado.

Minha loucura está somente,
Tão decididamente,
Dormente.

A frustração e o incomodo
São seu duradouro
Ronco.

--

Às vezes eu também tento fazer poesia.
Retirado de: http://thebluewriters.blogspot.com/2007/02/pensamento-do-escritor-medocre.html

sábado, 25 de agosto de 2007

Papai, quero brincar!

Outro dia estava lendo a Veja (por favor me perdoem), uma reportagem sobre o recall que a Mattel está fazendo no mundo inteiro por conta de um defeito em alguns de seus brinquedos, entre eles, a clássica boneca Barbie.
Comecei então a pensar sobre (poucas) formas de diversão que existem hoje para uma criança se divertir. Ora, já é um milagre quando meu irmão pede um brinquedo de dia das crianças. Hmm, brinquedo... Afinal de contas o que é brincar hoje em dia? Não posso ser generalista, é claro, mas é uma verdade que já são raras as vezes que um jovem escolhe brincar de pique - esconde, ao invés de jogar a última versão daquele jogo de futebol que reproduz (surpreendentemente de maneira fiel) a cara do Ronaldinho Gaúcho. E pique-bandeira então? Nem sombra.
Imagino o que muitas mães estão pensando agora, sobre esses brinquedos que podem por em risco a vida de seus filhos – uma criança morreu nos Estados Unidos, após ingerir um imã que se desprendeu de sua Barbie e retorceu seu intestino.
Bom, então vamos pensar: que outras formas de diversão saudáveis (afinal, brincar de Barbie ou Batman é excelente para o desenvolvimento do imaginário de uma criança) restaram?
Cinema? Ok. É uma boa saída, mas duvido que existirá algum pai sem cabelos brancos, de tanto pagar os preços super “acessíveis” que os cinemas oferecem. Que tal comprar uma Susi?. Quem? É aquela outra. A mal amada das bonecas. Infelizmente, sua irmã mais velha, a Barbie, além de ter feito intercâmbio em vários países, deixou apenas as migalhas de sua fama para a versão nacional produzida pela Estrela. Vamos à outra solução: que pai nunca disputou o campeonato da rua em que morava em um bate-bola dois contra dois contra o seu vizinho? E aquele que conseguisse manter o peão rodando por mais tempo, ganhava um pirulito do adversário? “Bons tempos” - pensam eles, nostálgicos. Mas como transmitir isso ao filho? Provavelmente um ônibus irá passar por cima da bola, já no primeiro chute. E como jogar peão se todos estão guardados a sete chaves por colecionadores que cobram fortunas por uma relíquia dessas? Na hora do aperto, é melhor ceder a ultima opção: jogos de videogame. Mas espera aí, e aqueles estudos que o jornal divulgou outro dia sobre a violência presente nos jogos vendidos atualmente? “Melhor mandá-lo para um reformatório”. Calma! Não é preciso tanto! Se você se encaixa (ou se encaixará) na categoria preocupado-com-o-futuro-do-meu-filho, não se preocupe, há uma cartada final! Em tempos de brinquedos assassinos e filhos dispendiosos, o jeito é apelar para o par ou impar.

sexta-feira, 24 de agosto de 2007

"WE DON´T NEED NO EDUCATION"

Vídeo exibido pelo nosso caro professor Dimas em sua aula sobre a instrumentalização que a Idade Moderna promoveu. Para que vocês saibam mais sobre a música do Pink Floyd, esse vídeo tem as demais partes, 1 e 3.

Lembrando que a contestação nas letras e no filme é metafórica. Não mate seu professor, não quebre nem as máquinas ou o televisor, a menos que você tenha uma boa razão!

segunda-feira, 20 de agosto de 2007

Concretando

Metrô: Pessoas...

Há 50 anos, surgia no país, um novo tipo de poesia. A poesia concreta. Com o propósito de misturar o texto verbal com o não-verbal, ganhou adeptos por todos os lados. Não apenas o caráter visual, mas também o sonoro, compõem os pilares formadores dessa vertente poética que prega a transdisciplinaridade em sua arte.
Sua história se inicia em um contexto histórico marcado pela exaltação da nacionalidade em um Brasil que crescia rapidamente e conquistava o maior título do futebol mundial. Foi nesse cenário de liberdade e alegria que a poesia concreta nasceu. "O espírito não estatal começa a se manifestar", afirma Décio Pignatari, um dos expoentes do movimento. Junto a ele, poetas como Augusto de Campos e Haroldo de Campos puseram à tona o experimentalismo, característica fundamental da poesia concreta.
Alguns herdeiros desse movimento, como o músico Arnaldo Antunes e o produtor Júlio Bressane, souberam valorizá-lo, mantendo a sua essência inovadora de quebrar a barreira entre o visual e o escrito, dando continuidade a ele até os dias de hoje.
Para aqueles que se interessaram por esse jeito inovador de fazer poesia, acontece até o dia 19 de Setembro, no Instituto Tomie Othake, a exposição Poesia Concreta - O Projeto Verbivocovisual. Av. Faria Lima, 201, 2245-1937. 3.ª a dom., das 11 às 20 horas. Grátis

Como a maioria dos casperianos, vou diariamente de metrô até a faculdade. Lugar definitivamente inspirador ( entre outros é claro, como o museu da Língua Portuguesa, que serviu de inspiração ao belíssimo poema de nossa colega Juliana).

sexta-feira, 17 de agosto de 2007

Clarice inspira...

Chove chuva.
Chuva chove.
Cai do céu pro chão...
Corre vem lavar o meu rosto...
O meu corpo!
Corre e traz a alma...
A alma já lavada.
Para que nenhum trabalho eu tenha!
Chuva corre e chega.
Chega antes que eu sozinha me sinta.
Chegue sem franquia.
Nem consórcio...
Eu quero o meu!
O indivisível.
Nada invisível.
Inteiramente particular.
Nem que para isso eu precise recriar...
O meu mundo!
Nada de doces ou chocolate...
Ah, as palavras!
É delas que eu preciso.
Além da chuva é claro.
Belíssima combinação...
Ui, chuva.
Alma lavada,
Palavras!
Palavras que guiam, que se misturam...
Que inspiram!
Palavras doces, ásperas, mas que unidas...
Sintonia.
Viagem de pensamento.
Sensação de bem-estar...
Sorriso no rosto!
Aí sim, amigos!
Juliana pura.

domingo, 12 de agosto de 2007

O sexto saber: o conjunto humano contra sua fragilidade individual


"Não entendo. Isso é tão vasto que ultrapassa qualquer entender. Entender é sempre limitado. Mas não entender pode não ter fronteiras. Sinto que sou muito mais completa quando não entendo. Não entender, do modo como falo, é um dom. Não entender, mas não como um simples de espírito. O bom é ser inteligente e não entender. É uma benção estranha, como ter loucura sem ser doida. É um desinteresse manso, é uma doçura de burrice. Só que de vez em quando vem a inquietação: quero entender um pouco. Não demais: mas pelo menos entender que não entendo."

A Descoberta do Mundo, Clarice Lispector

Essa frase não está na íntegra no Museu da Língua Portuguesa, perto da estação Luz de metrô. No entanto, das várias citações da exposição A Hora da Estrela, homenageando trinta anos de morte da escritora, essa é uma das que me marcou por sua enorme exposição em três paredes de gesso. São trechos de obras que nos levam a reflexão dessa mulher que, além de feminista, foi uma assídua escritora sobre o cotidiano feminino, da capacidade das mulheres de desconhecerem suas frustrações ou conhecê-las em detalhes.

E Clarice não é única nessa sua práxis literária: o século XX foi rodeado de escritores que mudaram o estilo de narrar, que trouxeram situações mínimas num contexto social muito maior e mais abrangente. São escritores, alguns, introspectivos, que tornaram explícita a fragilidade do ser humano frente às convicções do passadas no cientificismo, na perfeição das descobertas tecnológicas.

Edgar Morin, em seu livro Os sete saberes necessários à educação do futuro, fala do Ensinar a Compreensão como um dos ensinamentos fundamentais para funcionar com os demais. Em seus escritos sobre a introspecção, ele profere:

"A prática mental do auto-exame permanente é necessária, já que a compreensão de nossas fraquezas ou faltas é a via para a compreensão das do outro. Se descobrirmos que somos todos seres falíveis, frágeis, insuficientes, carentes, então podemos descobrir que necessitamos de mútua compreensão.

O auto-exame crítico permite que nos descentremos com relação a nós mesmos e, por conseguinte, que reconheçamos e julguemos nosso egocentrismo. Permite que não assumamos a posição de juiz de todas as coisas."

Esse capítulo é uma exigência do futuro cada vez mais incerto e repleto de conhecimentos especializados, sem uma abordagem complexa, acolhedora e integradora. É um convite ao hábito de nos tornarmos humildes, uma característica escassa no atual contexto. É "ter loucura sem estar doida" de Clarice. Uma introspecção, fuga de si, que está presente em vários autores da literatura, mas que permanece ausente nas ciências ditas como exatas ou biológicas.

Poucos conhecimentos técnicos conseguem averiguar o simples do frágil. E é impossível entender os defeitos sem observar os outros e a si mesmo.

"Enquanto na vida cotidiana ficamos quase indiferentes às misérias físicas e morais, sentimos compaixão e comiseração na leitura de um romance ou na projeção de um filme."

Reflita sobre esse saber na próxima vez que estiver sensível em seus passatempos. Não pense mais que está sozinho, imagine que talvez tenhamos construído certas sensações, completamente individuais ao resto....

segunda-feira, 6 de agosto de 2007

O quinto saber: incerta sociedade mundial

Apresentação de junho feito pela equipe do blog U-tópico, o seminário do livro Utopia, do inglês Thomas More, mostrou muito bem os pontos principais da trama, com minúncias do relato de Rafael Hitlodeu, um visitante da ilha de Utopia. Com a intenção de montar uma sociedade oposta ao capitalismo vigente na época (não se sabe se foi para satirizar ou realmente criticar) More mostrou que os ideais de igualdade social e organização auto-suficiente não foram exclusividade das doutrinas socialistas e comunistas que surgiriam anos depois. Politicamente rico, o livro fez com que o grupo adentrasse em sua filosofia e sugerisse a pergunta "qual é a melhor sociedade, dentro de um sistema, na sua opinião"?

"Dessa forma, a realidade não é facilmente legível. As idéias e teorias não refletem, mas traduzem a realidade, que podem traduzir de maneira errônea. Nossa realidade não é outro senão nossa idéia de realidade."

Essa citação de Edgar Morin sobre a apreensão da realidade aumenta ainda mais a validade dessa pergunta. Não necessitamos, o tempo todo, estar com as idéias sociais presas num pensamento de capitalismo ou socialismo, pois, mesmo atuais, elas podem ser errôneas. As impressões pessoais e a capacidade de pensar alternativas, podem ser alguns métodos contra essas dúvidas políticas que guiam o destino dos indivíduos. Entretanto, não basta só criatividade, cabendo a observação dos fatos mais agravantes como fundamentais para conclusões, evitando equívocos, até mesmo os mais inocentes.

"O século XX descobriu a perda do futuro, ou seja, sua imprevisibilidade."
O que seria, então, pensar um sistema social, uma organização humana, em tempos como o nosso, o século XXI, herdeiro eleito dessa verdade contida no trecho. A era da bomba atômica, do efeito estufa (recentemente transformado no termo "aquecimento global"), da globalização, das guerras frias e quentes não poderia gerar outra constatação a não ser esta. O mundo de buscas utópicas como o livro de Thomas More não podem ser uma resposta à altura de nossos tempos, pois ele foi preenchido pelas incertezas que já rondavam a humanidade, adormecidas.

Um livro contemporâneo que pode ser comparado com Utopia é 1984, do escritor indiano George Orwell (Eric Arthur Blair), que narra uma futura sociedade dominada por um enorme conglomerado chamado somente de O Partido, manifestado na figura de um lider chamado de Big Brother, que domina o megabloco da Oceania, que agrega muito mais do que esse continente real, com as Américas, Reino Unido e Sul da África.

Winston Smith, um funcionário Ministério da Verdade, na ficção, é um manipulador de informações. Ao invés de sugerir um novo sistema, Orwell critica pelos olhos de Smith os abusos cometidos no século XX até 1948, ano do lançamento desse livro. Proibidos de escrever para não registrar idéias, os cidadãos da história são vigiados constantemente por "teletelas" (mistura de telefone com tela de visualização). Ao ter nas suas mãos o lápis, Smith inicia um processo contra as manipulações feita pelo partido, enfrentando a incerteza de haver algo errado em sua sociedade. Uma mulher que o persegue, chamada Júlia, se sente atraída por ele e passa a auxiliá-lo em sua busca sem nenhum destino definido, além da tortura e manipulação se forem descobertos pelo Partido.

Orwell, retrata com essa busca as "entranhas" dos regimes totalitários, sobretudo o socialista soviético de Stalin, que o decepcionou em sua trajetória. O fim, um tom pessimista sobressai, tendo Winston e Júlia com suas consciências lavadas. A mesma crítica social de Thomas More é tratada por Orwell pelo viés da "sociedade cruel". E nesse contexto, não podemos estabelecer com precisão uma sociedade perfeita.

Somos como o Winston de Orwell e o Hitlodeu de More. Estamos descobrindo novas formas por nossas impressões. Podemos ter nossos ideais levados pela manipulação social. Vivemos na incerteza que Edgar Morin trata em especial nesse quinto saber, enfrentar as incertezas. E qual incerteza não seria maior que a sociedade, com sua história "criadora e destruidora" e as previsões a longo prazo insuficientes?

"Há efetivamente dois meios para enfrentar a incerteza da ação. O primeiro é totalmente consciente da aposta contida na decisão, o segundo recorre à estratégia.
--
A estratégia deve prevalecer sobre o programa. O programa estabelece uma seqüência de ações que devem ser executadas sem variação em um ambiente estável, mas se houver modificações das condições externas, bloqueia-se o programa. A estratégia, ao contrário, elabora um cenário de ação que examina as certezas e as incertezas da situação, as probabilidades, as improbabilidades. O cenário pode e deve ser modificado de acordo com as informações recolhidas, os acasos, os contratempos ou boas oportunidades encontradas no caminho."

Esses trechos não respondem tal pergunta, mas dissecam melhor a questão.

Observação: O Big Brother (ou Grande Irmão) da ficção de George Orwell inspirou o reality-show internacional apresentado na Rede Globo de Televisão.

Agradecimentos a Marília Passos pela sugestão da comparação entre 1984 e Utopia.

Caricatura bem-humorada

Peço a todos que não se sintam intimidados com as caricaturas, que como o título já diz, são bem-humoradas.

Créditos ao Pedro que me ajudou na montagem e a André Sender por fazer a minha caricatura, evitando assim que eu fugisse da realidade ao me auto-retratar.

Se cada integrante se interessar pelo seu bonequinho eu os enviarei conforme pedirem.

Obrigada a todos pelos direitos de imagem cedidos =)
Observação: O blogspot não suporta figuras grandes. Clique nela caso queira saber quem é quem.

quinta-feira, 2 de agosto de 2007

Um pequeno incentivo...

Só para animar os ânimos destes estudantes de jornalismo que têm muito o que escrever neste segundo semestre...

"Escrever é tantas vezes lembrar-se do que nunca existiu. Como conseguirei saber do que nem ao menos sei? assim: como se me lembrasse. Com um esforço de memória, como se eu nunca tivesse nascido. Nunca nasci, nunca vivi: mas eu me lembro, e a lembrança é em carne viva."

Clarice Lispector

terça-feira, 24 de julho de 2007

Cansar: causar fadiga a, importunar, aborrecer

Sabe quando cansa?
Pois é...
Eu cansei!
Tu cansaste?
Ele cansou?
NÓS CANSAMOS!
E não é de hoje não...
Cansamos de nos preocupar, mesmo que momentaneamente.
Cansamos de sofrer com as conseqüências de situações inimagináveis.
Cansamos de a cada dia nos depararmos com certas atitudes e pessoas que remetem às perguntas: afinal, o que é o mundo? Qual é a minha função aqui?
E como se já não fosse o bastante nos decifrarmos ainda somos postos a pensar sobre os outros! Cansamos da famosa Lei de Murphy, e quer saber? Coitado desse Murphy! Como é que daria certo se existiam mil possibilidades de dar errado, contra uma de dar certo?
Ah, sim! Somos brasileiros e acreditamos sempre, não desistimos nunca!
A esperança é a última que morre. E enquanto ela sobrevive, morre a paz, o perdão, a alegria, o amor...Morremos nós!
Sem falar na justiça que morreu há tanto tempo que já nem lembramos o que era...
Damos nossas vidas pela sobrevivência da esperança!
São crises e mais crises, e se me perguntar da aérea: relaxe e goze! Assim mesmo, no imperativo!
Até porque pimenta nos olhos dos outros é refresco!
Cansamos de confundir sentimentos com estados emocionais, e cansamos ainda mais dos que nem são naturais, dos vendidos a nós...
Cansamos da tripudiação em cima da dor alheia, seja por prazer, por marketing ou pura falta de respeito.
“Na mudança de postura a gente fica mais seguro, na mudança do presente a gente molda o futuro”.
Vamos mudar, inverter!
Quem não compreende uma longa explicação, tampouco compreenderá um olhar...

quinta-feira, 19 de julho de 2007

"Dê-me força, mantenha o controle"


"Give me time and give me space
Give me real, don't give me fake

Give me strength, reserve control
Give me heart and give me soul
Give me love give us a kiss
Tell me your own politic

And open up your eyes
Open up your eyes
Open up your eyes
Open up your eyes

Give me one, 'cause one is best
In confusion, confidence
Give me peace of mind and trust
Don't forget the rest of us
Give me strength, reserve control
Give me heart and give me soul
Wounds that heal and cracks that fix
Tell me your own politic

And open up your eyes
Open up your eyes
Open up your eyes
Open up your eyes
Just open up your eyes"

Politik, música da banda Coldplay.

Tradução da letra:

"Dê-me tempo e dê-me espaço
Dê-me algo real, não me venha com falsificações

Dê-me força, mantenha o controle
Dê-me coração e dê-me alma
Dê-me tempo, dê-nos um beijo
Conte-me sobre sua própria política
E abra seus olhos
Abra seus olhos
Abra seus olhos
Abra seus olhos

Dê-me um, porque um é melhor
Numa confusão, confidência
Dê-me paz de espírito e confiança
Não esqueça o resto de nós

Dê-me força, mantenha o controle
Dê-me coração e dê-me alma
Feridas que cicatrizam e quebras que podem ser consertadas
Conte-me sobre sua própria política

E abra seus olhos
Abra seus olhos
Abra seus olhos
Abra seus olhos
Apenas abra seus olhos"

Essa música diz tudo o que o Brasil não pode oferecer. E, sim, o povo tem razão em estar indignado com o acidente ocorrido no aeroporto de Congonhas, no dia 17 desse mês. Muda alguma coisa estarem assim? Não muda. Mas não é de graça. Nem de longe.

terça-feira, 17 de julho de 2007

Um estímulo para quem pretende fazer pesquisa

O texto abaixo é longo, embora eu o tenha diminuído significativamente.

Espero que exclareça muitos pontos pra quem se interessa no assunto, além de carregar uma filosofia de vida bem particular.

Entrevista com José Eugênio Menezes
Coordenador do CIP
(Centro Interdisciplinar de Pesquisa)
Professor de Teoria da Comunicação
Faculdade Cásper Líbero

Esse trabalho foi feito no dia 29 de maio de 2007. O 5º Fórum de Pesquisa, que agregou alunos e professores para exibição de suas pesquisas, foi realizado nos dias 25 e 26.

Pedro: Houve algum trabalho, seja de professor ou aluno, que foi adiado ou não foi concluído até a realização do 5º Fórum na última semana por falta de estrutura ou preparação?
Eugênio: Não, todos os trabalhos feitos em 2006 foram apresentados nesse 5º Fórum de Pesquisa.

Todos os trabalhos possuem um ano de duração?
Os trabalhos dos professores têm dois anos. Os dos alunos, um ano de duração.

Desde quando é realizado esse Fórum de Pesquisa? Tem uma história por trás disso?
Sim, há uma história. Estamos no 5º ano de Fórum, o que significa que o CIP tem sete anos. Logo após a finalização dos primeiros trabalhos de pesquisa realizados por professores nos dois primeiros anos, os resultados foram apresentados no 1º Fórum de Pesquisa. Pelas minhas contas, ele foi do ano de 2002.

Como foi seu primeiro contato com o CIP?
Bom, eu vou contar minha história, então (risos). Estava começando minha tese de doutorado pela ECA-USP e, na época, eu trabalhava em três instituições de ensino. Então eu percebi que precisava me concentrar no doutorado, o que exigia que eu reduzisse meu trabalho. Por uma coincidência e surpresa enormes, a Faculdade Cásper Líbero comunicou que iria incentivar as pesquisas dos professores. Isso significava que eu poderia apresentar um determinado tema, num período de dois anos, para ser útil à instituição e à pessoa. Surpreso, deixei, então, de trabalhar nas outras instituições e me dediquei como professor apenas na Cásper Líbero, tendo a remuneração para fazer pesquisa cobrindo o que eu receberia numa outra instituição.

Por que fazer pesquisa, professor?
Por que o professor deve fazer pesquisa? Porque ele vai ter uma determinada área para desenvolver, fazer uma pergunta, investigar e, ao mesmo tempo, permanecer mais próximo ao aluno, não se afastando da Cásper Líbero para dar aula em outro lugar, ou fazer várias atividades ao mesmo tempo. Isso pra mim foi muito bom, porque desenvolvi a pesquisa do CIP com a pesquisa do meu doutorado. Fui bem-sucedido na tese do doutorado porque eu reduzi meu tempo de trabalho extra em aula. Equilibrei, aqui na Cásper, tempo de sala de aula e de pesquisa, sendo importante para mim.

Quando o senhor começou a trabalhar, de fato, no CIP?
Comecei a trabalhar quando o CIP era coordenado pelo professor Laan Mendes de Barros. Ele pediu ajuda e eu, junto com a pesquisa, voluntariamente aceitei. Eu me interessava em apoiar, em ajudar no processo de seleção, participando das entrevistas, colocando a mesa. Era simplesmente dizer: essas são as pessoas, essas são as notas, isso funciona dessa maneira, as vagas são tantas e o número de notas foi esse, a parte “tática” do processo. Fui aprendendo com essas atividades.

Como o senhor enxerga o CIP? Como se tornou o coordenador?
Acho que ele é um dos itens para o futuro da faculdade. É a possibilidade do professor e do jovem de fazer pesquisa. Defino o CIP como uma “semente” de algo que vai acontecer, muito maior. Não me passou pela cabeça a função de coordenar aqui quando o professor Laan coordenava. Ele foi convidado a assumir o curso de mestrado no fim de sua gestão, passando a ser credenciado pela Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal do Ensino Superior). Então, no dia 28 de junho de 2005, eu fui convidado a dar resposta dia 30 se eu ia ser coordenador de pesquisa. Continuou sendo uma surpresa grande e eu já fazia um terço do trabalho na iniciação científica, sendo os outros dois terços as teses dos professores e a edição da revista Communicare, de pesquisa. Então pensei: bom, se já fiz parte do que queria, o que não sei ainda posso aprender. A direção e a coordenadoria apoiaram e iniciaram um mandato de dois anos, que deve terminar agora, dia 1º de agosto de 2007. Posso ser nomeado por mais dois anos ou não. Há vários cargos na faculdade que são eleitos como as coordenadorias, mas há outros dois indicados pela própria direção. Esses três são as Coordenações do Vestibular e a de Pesquisa, que não está voltada para o curso A, B, C ou D, mas que perpassam pelos cinco cursos da faculdade.

O que o senhor imagina para o futuro do CIP?
Eu sonho que, ao invés de 24 professores, tenhamos pelo menos metade dos docentes, ou um terço, o que é bem superior a esse número. Ao invés de 15 vagas, tenhamos pelo menos um aluno de cada sala de cada curso trabalhando com pesquisa, já que ele pensou numa temática, elaborou uma pergunta significativa e está investigando, correndo atrás. Quando você está aqui organizando processos seletivos de aluno, professores, a edição da revista Communicare, acompanhamento da pesquisa científica sendo iniciada até sua apresentação, ela supõe um denso contato até final, do orientador e aluno. É um trabalho razoável. Quando você está participando de lançar a semente, plantar, você não tem nem idéia do que você vai ver quando colhe. Sonho que os trabalhos possam ser feitos em equipe e será uma referencia para a sociedade. Creio que, aos poucos, cheguemos lá.


Qual a sua opinião sobre o 5º Fórum de Pesquisa?
No primeiro dia de abertura do Fórum, quando os alunos falaram e quando o professor Dimas terminou, eu me senti, evidentemente, satisfeito. Eu vi que as pessoas souberam unir, realmente, o saber com o sabor. Parecia que aquilo tinha um sentido e um significado para a vida deles e que eu, modestamente, participei daquilo, ou pelo menos eu não tentei atrapalhar (risos). Deu-me muito prazer de ver esse movimento funcionando, apesar dele ainda ser bastante pequeno.

Fora que é um estimulo ao estudo, constantemente, não? (Vê ele acenando afirmativamente com a cabeça). Então, outra pergunta. Todos os trabalhos promovidos pelo CIP estão disponíveis para consulta?
Grande parte pode ser consultada na biblioteca. O problema é que, no início do CIP, algum trabalho pode ter se perdido devido à falta do controle da instituição, sem uma estrutura documental de empréstimo e devolução como a biblioteca. Como o CIP era um espaço menor e cada monitor trabalha num determinado horário, algum trabalho pode ter sido perdido. Trabalhos de professores que já não estão mais na casa, principalmente, porque alguém veio consultar o material, pegou e não o trouxe de volta. Eu não saberia precisar a porcentagem, mas nem todos estão disponíveis. Os dois últimos anos estão disponíveis na biblioteca, com maior certeza. Caso não esteja lá, o autor pode ter retirado para revisar algum ponto, mas estará sendo encaminhado em breve.

A participação de estudantes sempre foi um objetivo desse órgão? O CIP foi a única experiência de pesquisa na faculdade?
Sempre foi um objetivo. Quando o professor Erasmo começou a mobilizar a pesquisa com dois professores, houve um debate entre o professor Sérgio Amadeu e a professora Tereza Vitali, atual diretora e ex-coordenadora do curso de Publicidade e Propaganda. Debateram sobre a participação de alunos para sua iniciação equanto Sérgio estava pesquisando sobre as prefeituras usando a internet no governo, precisando de uma equipe para essa tarefa. Ele decidiu aceitar a proposta da professora Tereza e o professor Erasmo possibilitou uma percentagem de bolsa na mensalidade, permitindo um início ao CIP de fato. Mas houve outras experiências aqui. Na década de 1960, houve um centro de pesquisa que até editou um livro, mas eu ainda não consegui recuperar a memória desse órgão esquecido. O professor Carlos Costa está fazendo doutorado, embora ele não esteja nesse momento no CIP, pois é responsável pela Coordenadoria de Jornalismo. Um professor, fazendo uma tese de mestrado ou doutorado, acaba sendo um pesquisador. Outro exemplo mais claro é o do professor Erivam, que desenvolveu uma tese de mestrado e, após sua conclusão, resolveu dedicar seu tempo para o CIP, apresentando uma pesquisa após ter aprendido com a pós-graduação. Na verdade, a pesquisa e o ensino não são duas disciplinas que se separam muito. Não existe forma “totalmente prática” e nem uma fundamentação só na teoria. Se você falar de diagramação de jornal, há uma teoria por trás dessa prática, uma antropologia, uma sociologia. Não tem como debater sobre sociologia sem dar conceitos concretos da música, da arte, do cinema. Essa separação é bastante intrincada. Ser professor é ser pesquisador. Raramente alguém que oferece aquela disciplina todo ano, passo a passo, não está aprofundando sobre esse assunto. É isso que dá prazer na profissão. Como no banquete de Platão, há o toque entre as pessoas, a troca de idéias. A idéia principal não é criar separação no que está junto. É interessante que, numa determinada reunião, esteja um aluno falando de imagem na publicidade e um professor de jornalismo, pois os dois conversam. Os dois tem características bem distintas, mas quando contribuem para o processo comunicativo, para a comunicação, para antropologia, para o conhecimento do mundo. Estão em diálogo. Não uso divisões de jornalismo para avaliar um anúncio, assim como não vou usar as interpretações de imagem publicitária num jornal. São campos diferentes, mas a troca de conhecimento enriquece os dois lados, tanto que um palestrante pode dizer “eu preciso usar imagens” e outro “eu prefiro não usar imagens”. O Guilherme Pichionelli no 5º Fórum, por exemplo, usou uma outra abordagem, mesmo falando das mesmas coisas, de pontos de vistas diferentes, com olhares diferentes. O CIP é um lugar diferenciado, onde a oportunidade das pessoas observarem que nosso trabalho de comunicação é particulariamente interdisciplinar. O pesquisador busca todos os conceitos e investiga, especificamente, a edição de texto, a edição da revista, a montagem da revista ou um evento, por exemplo. Podemos usar conhecimentos diferentes para investigar um mesmo ponto, mas eles estão sempre em constante diálogo.

Para encerrar, o CIP participa ou promove outros eventos?
Participa. Os professores, ao concluírem suas pesquisas, são convidados a escrever artigos na Communicare ou em outros periódicos. Os alunos, para uma revista chamada Iniciacom, revista eletrônica do evento Intercom. Um trabalho muito bem trabalhado pode ser enviado como texto para esse periódico. Tanto alunos quanto professores, são incentivados a apresentar suas pesquisas no Congresso Nacional de Comunicação, ocorrido geralmente na semana da independência do Brasil, chamado Intercom. Esse ano ele será realizado em Santos. Professores e alunos que manifestarem interesse podem apresentar seus trabalhos lá, nos dias 29 de agosto até 1º de setembro. Todos têm até 31 de maio para se inscreverem e apresentarem trabalhos. Eu mesmo pretendo mandar um texto que faz parte da minha pesquisa pessoal para o site deles. Esse texto pode ser aprovado ou não. Estou despendendo tempo e trabalho nisso. Caso dê certo, vai ser bom pra mim, pro meu currículo e para a Cásper Líbero, que estará representada no meu crachá, enquanto eu estiver me apresentando. Isso é importante. Há uma troca bastante recíproca nisso.