terça-feira, 17 de julho de 2007

Um estímulo para quem pretende fazer pesquisa

O texto abaixo é longo, embora eu o tenha diminuído significativamente.

Espero que exclareça muitos pontos pra quem se interessa no assunto, além de carregar uma filosofia de vida bem particular.

Entrevista com José Eugênio Menezes
Coordenador do CIP
(Centro Interdisciplinar de Pesquisa)
Professor de Teoria da Comunicação
Faculdade Cásper Líbero

Esse trabalho foi feito no dia 29 de maio de 2007. O 5º Fórum de Pesquisa, que agregou alunos e professores para exibição de suas pesquisas, foi realizado nos dias 25 e 26.

Pedro: Houve algum trabalho, seja de professor ou aluno, que foi adiado ou não foi concluído até a realização do 5º Fórum na última semana por falta de estrutura ou preparação?
Eugênio: Não, todos os trabalhos feitos em 2006 foram apresentados nesse 5º Fórum de Pesquisa.

Todos os trabalhos possuem um ano de duração?
Os trabalhos dos professores têm dois anos. Os dos alunos, um ano de duração.

Desde quando é realizado esse Fórum de Pesquisa? Tem uma história por trás disso?
Sim, há uma história. Estamos no 5º ano de Fórum, o que significa que o CIP tem sete anos. Logo após a finalização dos primeiros trabalhos de pesquisa realizados por professores nos dois primeiros anos, os resultados foram apresentados no 1º Fórum de Pesquisa. Pelas minhas contas, ele foi do ano de 2002.

Como foi seu primeiro contato com o CIP?
Bom, eu vou contar minha história, então (risos). Estava começando minha tese de doutorado pela ECA-USP e, na época, eu trabalhava em três instituições de ensino. Então eu percebi que precisava me concentrar no doutorado, o que exigia que eu reduzisse meu trabalho. Por uma coincidência e surpresa enormes, a Faculdade Cásper Líbero comunicou que iria incentivar as pesquisas dos professores. Isso significava que eu poderia apresentar um determinado tema, num período de dois anos, para ser útil à instituição e à pessoa. Surpreso, deixei, então, de trabalhar nas outras instituições e me dediquei como professor apenas na Cásper Líbero, tendo a remuneração para fazer pesquisa cobrindo o que eu receberia numa outra instituição.

Por que fazer pesquisa, professor?
Por que o professor deve fazer pesquisa? Porque ele vai ter uma determinada área para desenvolver, fazer uma pergunta, investigar e, ao mesmo tempo, permanecer mais próximo ao aluno, não se afastando da Cásper Líbero para dar aula em outro lugar, ou fazer várias atividades ao mesmo tempo. Isso pra mim foi muito bom, porque desenvolvi a pesquisa do CIP com a pesquisa do meu doutorado. Fui bem-sucedido na tese do doutorado porque eu reduzi meu tempo de trabalho extra em aula. Equilibrei, aqui na Cásper, tempo de sala de aula e de pesquisa, sendo importante para mim.

Quando o senhor começou a trabalhar, de fato, no CIP?
Comecei a trabalhar quando o CIP era coordenado pelo professor Laan Mendes de Barros. Ele pediu ajuda e eu, junto com a pesquisa, voluntariamente aceitei. Eu me interessava em apoiar, em ajudar no processo de seleção, participando das entrevistas, colocando a mesa. Era simplesmente dizer: essas são as pessoas, essas são as notas, isso funciona dessa maneira, as vagas são tantas e o número de notas foi esse, a parte “tática” do processo. Fui aprendendo com essas atividades.

Como o senhor enxerga o CIP? Como se tornou o coordenador?
Acho que ele é um dos itens para o futuro da faculdade. É a possibilidade do professor e do jovem de fazer pesquisa. Defino o CIP como uma “semente” de algo que vai acontecer, muito maior. Não me passou pela cabeça a função de coordenar aqui quando o professor Laan coordenava. Ele foi convidado a assumir o curso de mestrado no fim de sua gestão, passando a ser credenciado pela Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal do Ensino Superior). Então, no dia 28 de junho de 2005, eu fui convidado a dar resposta dia 30 se eu ia ser coordenador de pesquisa. Continuou sendo uma surpresa grande e eu já fazia um terço do trabalho na iniciação científica, sendo os outros dois terços as teses dos professores e a edição da revista Communicare, de pesquisa. Então pensei: bom, se já fiz parte do que queria, o que não sei ainda posso aprender. A direção e a coordenadoria apoiaram e iniciaram um mandato de dois anos, que deve terminar agora, dia 1º de agosto de 2007. Posso ser nomeado por mais dois anos ou não. Há vários cargos na faculdade que são eleitos como as coordenadorias, mas há outros dois indicados pela própria direção. Esses três são as Coordenações do Vestibular e a de Pesquisa, que não está voltada para o curso A, B, C ou D, mas que perpassam pelos cinco cursos da faculdade.

O que o senhor imagina para o futuro do CIP?
Eu sonho que, ao invés de 24 professores, tenhamos pelo menos metade dos docentes, ou um terço, o que é bem superior a esse número. Ao invés de 15 vagas, tenhamos pelo menos um aluno de cada sala de cada curso trabalhando com pesquisa, já que ele pensou numa temática, elaborou uma pergunta significativa e está investigando, correndo atrás. Quando você está aqui organizando processos seletivos de aluno, professores, a edição da revista Communicare, acompanhamento da pesquisa científica sendo iniciada até sua apresentação, ela supõe um denso contato até final, do orientador e aluno. É um trabalho razoável. Quando você está participando de lançar a semente, plantar, você não tem nem idéia do que você vai ver quando colhe. Sonho que os trabalhos possam ser feitos em equipe e será uma referencia para a sociedade. Creio que, aos poucos, cheguemos lá.


Qual a sua opinião sobre o 5º Fórum de Pesquisa?
No primeiro dia de abertura do Fórum, quando os alunos falaram e quando o professor Dimas terminou, eu me senti, evidentemente, satisfeito. Eu vi que as pessoas souberam unir, realmente, o saber com o sabor. Parecia que aquilo tinha um sentido e um significado para a vida deles e que eu, modestamente, participei daquilo, ou pelo menos eu não tentei atrapalhar (risos). Deu-me muito prazer de ver esse movimento funcionando, apesar dele ainda ser bastante pequeno.

Fora que é um estimulo ao estudo, constantemente, não? (Vê ele acenando afirmativamente com a cabeça). Então, outra pergunta. Todos os trabalhos promovidos pelo CIP estão disponíveis para consulta?
Grande parte pode ser consultada na biblioteca. O problema é que, no início do CIP, algum trabalho pode ter se perdido devido à falta do controle da instituição, sem uma estrutura documental de empréstimo e devolução como a biblioteca. Como o CIP era um espaço menor e cada monitor trabalha num determinado horário, algum trabalho pode ter sido perdido. Trabalhos de professores que já não estão mais na casa, principalmente, porque alguém veio consultar o material, pegou e não o trouxe de volta. Eu não saberia precisar a porcentagem, mas nem todos estão disponíveis. Os dois últimos anos estão disponíveis na biblioteca, com maior certeza. Caso não esteja lá, o autor pode ter retirado para revisar algum ponto, mas estará sendo encaminhado em breve.

A participação de estudantes sempre foi um objetivo desse órgão? O CIP foi a única experiência de pesquisa na faculdade?
Sempre foi um objetivo. Quando o professor Erasmo começou a mobilizar a pesquisa com dois professores, houve um debate entre o professor Sérgio Amadeu e a professora Tereza Vitali, atual diretora e ex-coordenadora do curso de Publicidade e Propaganda. Debateram sobre a participação de alunos para sua iniciação equanto Sérgio estava pesquisando sobre as prefeituras usando a internet no governo, precisando de uma equipe para essa tarefa. Ele decidiu aceitar a proposta da professora Tereza e o professor Erasmo possibilitou uma percentagem de bolsa na mensalidade, permitindo um início ao CIP de fato. Mas houve outras experiências aqui. Na década de 1960, houve um centro de pesquisa que até editou um livro, mas eu ainda não consegui recuperar a memória desse órgão esquecido. O professor Carlos Costa está fazendo doutorado, embora ele não esteja nesse momento no CIP, pois é responsável pela Coordenadoria de Jornalismo. Um professor, fazendo uma tese de mestrado ou doutorado, acaba sendo um pesquisador. Outro exemplo mais claro é o do professor Erivam, que desenvolveu uma tese de mestrado e, após sua conclusão, resolveu dedicar seu tempo para o CIP, apresentando uma pesquisa após ter aprendido com a pós-graduação. Na verdade, a pesquisa e o ensino não são duas disciplinas que se separam muito. Não existe forma “totalmente prática” e nem uma fundamentação só na teoria. Se você falar de diagramação de jornal, há uma teoria por trás dessa prática, uma antropologia, uma sociologia. Não tem como debater sobre sociologia sem dar conceitos concretos da música, da arte, do cinema. Essa separação é bastante intrincada. Ser professor é ser pesquisador. Raramente alguém que oferece aquela disciplina todo ano, passo a passo, não está aprofundando sobre esse assunto. É isso que dá prazer na profissão. Como no banquete de Platão, há o toque entre as pessoas, a troca de idéias. A idéia principal não é criar separação no que está junto. É interessante que, numa determinada reunião, esteja um aluno falando de imagem na publicidade e um professor de jornalismo, pois os dois conversam. Os dois tem características bem distintas, mas quando contribuem para o processo comunicativo, para a comunicação, para antropologia, para o conhecimento do mundo. Estão em diálogo. Não uso divisões de jornalismo para avaliar um anúncio, assim como não vou usar as interpretações de imagem publicitária num jornal. São campos diferentes, mas a troca de conhecimento enriquece os dois lados, tanto que um palestrante pode dizer “eu preciso usar imagens” e outro “eu prefiro não usar imagens”. O Guilherme Pichionelli no 5º Fórum, por exemplo, usou uma outra abordagem, mesmo falando das mesmas coisas, de pontos de vistas diferentes, com olhares diferentes. O CIP é um lugar diferenciado, onde a oportunidade das pessoas observarem que nosso trabalho de comunicação é particulariamente interdisciplinar. O pesquisador busca todos os conceitos e investiga, especificamente, a edição de texto, a edição da revista, a montagem da revista ou um evento, por exemplo. Podemos usar conhecimentos diferentes para investigar um mesmo ponto, mas eles estão sempre em constante diálogo.

Para encerrar, o CIP participa ou promove outros eventos?
Participa. Os professores, ao concluírem suas pesquisas, são convidados a escrever artigos na Communicare ou em outros periódicos. Os alunos, para uma revista chamada Iniciacom, revista eletrônica do evento Intercom. Um trabalho muito bem trabalhado pode ser enviado como texto para esse periódico. Tanto alunos quanto professores, são incentivados a apresentar suas pesquisas no Congresso Nacional de Comunicação, ocorrido geralmente na semana da independência do Brasil, chamado Intercom. Esse ano ele será realizado em Santos. Professores e alunos que manifestarem interesse podem apresentar seus trabalhos lá, nos dias 29 de agosto até 1º de setembro. Todos têm até 31 de maio para se inscreverem e apresentarem trabalhos. Eu mesmo pretendo mandar um texto que faz parte da minha pesquisa pessoal para o site deles. Esse texto pode ser aprovado ou não. Estou despendendo tempo e trabalho nisso. Caso dê certo, vai ser bom pra mim, pro meu currículo e para a Cásper Líbero, que estará representada no meu crachá, enquanto eu estiver me apresentando. Isso é importante. Há uma troca bastante recíproca nisso.

2 comentários:

Anônimo disse...

Achei interessante a entrevista. Apesar de não ter o conhecimento da área que os estudantes de Jornalismo adquirem a cada dia, eu entendo o quanto é importante a pesquisa no dia a dia do profissional envolvido nela. Além da troca proporcionada entre o Profissional e a Faculdade, ela faz algo maravilhoso para quem está nesse meio, que é o comprometimento e o prazer em trabalhar naquilo que se gosta. Hoje em dia muitas pessoas não se dedicam tanto em seus empregos quanto deveriam, pois estão fora da área desejada, porém, essa entrevista deixa realmente muito claro que quando você trabalha na área que te dá prazer, tudo flui com naturalidade.
É muito gostoso sentir isso de uma pessoa, isso te ajuda a querer sempre não somente o sucesso profissional, mas também o gosto de trabalhar e ver outras pessoas interessadas no seu trabalho e na sua disposição para melhorá-lo cada vez mais.

Excelente texto para o blog que a cada dia fica melhor!

Anônimo disse...

Não sei se é bem um estímulo, mas de qualquer forma, meus parabéns... Agüentar uma entrevista deste porte e depois repassar a fita é um feito heróico! Aproveite o resto das férias, descanse um pouco. Abraços meu rapaz.