terça-feira, 28 de agosto de 2007

Pensamento do Escritor Medíocre

Nada,
Não disserto nem sobre
Fracasso
Ou Descaso,
Não discuto, sou pobre,
De palavra abalada.

Nada que vejo é maduro
E toda a circunstância
Se torna peso duro,
É a falta de constância.

Nenhuma inspiração, nenhum desejo,
Nenhuma inquietação, nenhum despejo,
Toda a libertação, todo o desespero,
Pilha dos papéis, do fracasso.

Montanhas e montanhas de palavras,
Abismos e abismos de culpas,
Mas um aprendizado,
Um laço delicado.

Minha loucura está somente,
Tão decididamente,
Dormente.

A frustração e o incomodo
São seu duradouro
Ronco.

--

Às vezes eu também tento fazer poesia.
Retirado de: http://thebluewriters.blogspot.com/2007/02/pensamento-do-escritor-medocre.html

sábado, 25 de agosto de 2007

Papai, quero brincar!

Outro dia estava lendo a Veja (por favor me perdoem), uma reportagem sobre o recall que a Mattel está fazendo no mundo inteiro por conta de um defeito em alguns de seus brinquedos, entre eles, a clássica boneca Barbie.
Comecei então a pensar sobre (poucas) formas de diversão que existem hoje para uma criança se divertir. Ora, já é um milagre quando meu irmão pede um brinquedo de dia das crianças. Hmm, brinquedo... Afinal de contas o que é brincar hoje em dia? Não posso ser generalista, é claro, mas é uma verdade que já são raras as vezes que um jovem escolhe brincar de pique - esconde, ao invés de jogar a última versão daquele jogo de futebol que reproduz (surpreendentemente de maneira fiel) a cara do Ronaldinho Gaúcho. E pique-bandeira então? Nem sombra.
Imagino o que muitas mães estão pensando agora, sobre esses brinquedos que podem por em risco a vida de seus filhos – uma criança morreu nos Estados Unidos, após ingerir um imã que se desprendeu de sua Barbie e retorceu seu intestino.
Bom, então vamos pensar: que outras formas de diversão saudáveis (afinal, brincar de Barbie ou Batman é excelente para o desenvolvimento do imaginário de uma criança) restaram?
Cinema? Ok. É uma boa saída, mas duvido que existirá algum pai sem cabelos brancos, de tanto pagar os preços super “acessíveis” que os cinemas oferecem. Que tal comprar uma Susi?. Quem? É aquela outra. A mal amada das bonecas. Infelizmente, sua irmã mais velha, a Barbie, além de ter feito intercâmbio em vários países, deixou apenas as migalhas de sua fama para a versão nacional produzida pela Estrela. Vamos à outra solução: que pai nunca disputou o campeonato da rua em que morava em um bate-bola dois contra dois contra o seu vizinho? E aquele que conseguisse manter o peão rodando por mais tempo, ganhava um pirulito do adversário? “Bons tempos” - pensam eles, nostálgicos. Mas como transmitir isso ao filho? Provavelmente um ônibus irá passar por cima da bola, já no primeiro chute. E como jogar peão se todos estão guardados a sete chaves por colecionadores que cobram fortunas por uma relíquia dessas? Na hora do aperto, é melhor ceder a ultima opção: jogos de videogame. Mas espera aí, e aqueles estudos que o jornal divulgou outro dia sobre a violência presente nos jogos vendidos atualmente? “Melhor mandá-lo para um reformatório”. Calma! Não é preciso tanto! Se você se encaixa (ou se encaixará) na categoria preocupado-com-o-futuro-do-meu-filho, não se preocupe, há uma cartada final! Em tempos de brinquedos assassinos e filhos dispendiosos, o jeito é apelar para o par ou impar.

sexta-feira, 24 de agosto de 2007

"WE DON´T NEED NO EDUCATION"

Vídeo exibido pelo nosso caro professor Dimas em sua aula sobre a instrumentalização que a Idade Moderna promoveu. Para que vocês saibam mais sobre a música do Pink Floyd, esse vídeo tem as demais partes, 1 e 3.

Lembrando que a contestação nas letras e no filme é metafórica. Não mate seu professor, não quebre nem as máquinas ou o televisor, a menos que você tenha uma boa razão!

segunda-feira, 20 de agosto de 2007

Concretando

Metrô: Pessoas...

Há 50 anos, surgia no país, um novo tipo de poesia. A poesia concreta. Com o propósito de misturar o texto verbal com o não-verbal, ganhou adeptos por todos os lados. Não apenas o caráter visual, mas também o sonoro, compõem os pilares formadores dessa vertente poética que prega a transdisciplinaridade em sua arte.
Sua história se inicia em um contexto histórico marcado pela exaltação da nacionalidade em um Brasil que crescia rapidamente e conquistava o maior título do futebol mundial. Foi nesse cenário de liberdade e alegria que a poesia concreta nasceu. "O espírito não estatal começa a se manifestar", afirma Décio Pignatari, um dos expoentes do movimento. Junto a ele, poetas como Augusto de Campos e Haroldo de Campos puseram à tona o experimentalismo, característica fundamental da poesia concreta.
Alguns herdeiros desse movimento, como o músico Arnaldo Antunes e o produtor Júlio Bressane, souberam valorizá-lo, mantendo a sua essência inovadora de quebrar a barreira entre o visual e o escrito, dando continuidade a ele até os dias de hoje.
Para aqueles que se interessaram por esse jeito inovador de fazer poesia, acontece até o dia 19 de Setembro, no Instituto Tomie Othake, a exposição Poesia Concreta - O Projeto Verbivocovisual. Av. Faria Lima, 201, 2245-1937. 3.ª a dom., das 11 às 20 horas. Grátis

Como a maioria dos casperianos, vou diariamente de metrô até a faculdade. Lugar definitivamente inspirador ( entre outros é claro, como o museu da Língua Portuguesa, que serviu de inspiração ao belíssimo poema de nossa colega Juliana).

sexta-feira, 17 de agosto de 2007

Clarice inspira...

Chove chuva.
Chuva chove.
Cai do céu pro chão...
Corre vem lavar o meu rosto...
O meu corpo!
Corre e traz a alma...
A alma já lavada.
Para que nenhum trabalho eu tenha!
Chuva corre e chega.
Chega antes que eu sozinha me sinta.
Chegue sem franquia.
Nem consórcio...
Eu quero o meu!
O indivisível.
Nada invisível.
Inteiramente particular.
Nem que para isso eu precise recriar...
O meu mundo!
Nada de doces ou chocolate...
Ah, as palavras!
É delas que eu preciso.
Além da chuva é claro.
Belíssima combinação...
Ui, chuva.
Alma lavada,
Palavras!
Palavras que guiam, que se misturam...
Que inspiram!
Palavras doces, ásperas, mas que unidas...
Sintonia.
Viagem de pensamento.
Sensação de bem-estar...
Sorriso no rosto!
Aí sim, amigos!
Juliana pura.

domingo, 12 de agosto de 2007

O sexto saber: o conjunto humano contra sua fragilidade individual


"Não entendo. Isso é tão vasto que ultrapassa qualquer entender. Entender é sempre limitado. Mas não entender pode não ter fronteiras. Sinto que sou muito mais completa quando não entendo. Não entender, do modo como falo, é um dom. Não entender, mas não como um simples de espírito. O bom é ser inteligente e não entender. É uma benção estranha, como ter loucura sem ser doida. É um desinteresse manso, é uma doçura de burrice. Só que de vez em quando vem a inquietação: quero entender um pouco. Não demais: mas pelo menos entender que não entendo."

A Descoberta do Mundo, Clarice Lispector

Essa frase não está na íntegra no Museu da Língua Portuguesa, perto da estação Luz de metrô. No entanto, das várias citações da exposição A Hora da Estrela, homenageando trinta anos de morte da escritora, essa é uma das que me marcou por sua enorme exposição em três paredes de gesso. São trechos de obras que nos levam a reflexão dessa mulher que, além de feminista, foi uma assídua escritora sobre o cotidiano feminino, da capacidade das mulheres de desconhecerem suas frustrações ou conhecê-las em detalhes.

E Clarice não é única nessa sua práxis literária: o século XX foi rodeado de escritores que mudaram o estilo de narrar, que trouxeram situações mínimas num contexto social muito maior e mais abrangente. São escritores, alguns, introspectivos, que tornaram explícita a fragilidade do ser humano frente às convicções do passadas no cientificismo, na perfeição das descobertas tecnológicas.

Edgar Morin, em seu livro Os sete saberes necessários à educação do futuro, fala do Ensinar a Compreensão como um dos ensinamentos fundamentais para funcionar com os demais. Em seus escritos sobre a introspecção, ele profere:

"A prática mental do auto-exame permanente é necessária, já que a compreensão de nossas fraquezas ou faltas é a via para a compreensão das do outro. Se descobrirmos que somos todos seres falíveis, frágeis, insuficientes, carentes, então podemos descobrir que necessitamos de mútua compreensão.

O auto-exame crítico permite que nos descentremos com relação a nós mesmos e, por conseguinte, que reconheçamos e julguemos nosso egocentrismo. Permite que não assumamos a posição de juiz de todas as coisas."

Esse capítulo é uma exigência do futuro cada vez mais incerto e repleto de conhecimentos especializados, sem uma abordagem complexa, acolhedora e integradora. É um convite ao hábito de nos tornarmos humildes, uma característica escassa no atual contexto. É "ter loucura sem estar doida" de Clarice. Uma introspecção, fuga de si, que está presente em vários autores da literatura, mas que permanece ausente nas ciências ditas como exatas ou biológicas.

Poucos conhecimentos técnicos conseguem averiguar o simples do frágil. E é impossível entender os defeitos sem observar os outros e a si mesmo.

"Enquanto na vida cotidiana ficamos quase indiferentes às misérias físicas e morais, sentimos compaixão e comiseração na leitura de um romance ou na projeção de um filme."

Reflita sobre esse saber na próxima vez que estiver sensível em seus passatempos. Não pense mais que está sozinho, imagine que talvez tenhamos construído certas sensações, completamente individuais ao resto....

segunda-feira, 6 de agosto de 2007

O quinto saber: incerta sociedade mundial

Apresentação de junho feito pela equipe do blog U-tópico, o seminário do livro Utopia, do inglês Thomas More, mostrou muito bem os pontos principais da trama, com minúncias do relato de Rafael Hitlodeu, um visitante da ilha de Utopia. Com a intenção de montar uma sociedade oposta ao capitalismo vigente na época (não se sabe se foi para satirizar ou realmente criticar) More mostrou que os ideais de igualdade social e organização auto-suficiente não foram exclusividade das doutrinas socialistas e comunistas que surgiriam anos depois. Politicamente rico, o livro fez com que o grupo adentrasse em sua filosofia e sugerisse a pergunta "qual é a melhor sociedade, dentro de um sistema, na sua opinião"?

"Dessa forma, a realidade não é facilmente legível. As idéias e teorias não refletem, mas traduzem a realidade, que podem traduzir de maneira errônea. Nossa realidade não é outro senão nossa idéia de realidade."

Essa citação de Edgar Morin sobre a apreensão da realidade aumenta ainda mais a validade dessa pergunta. Não necessitamos, o tempo todo, estar com as idéias sociais presas num pensamento de capitalismo ou socialismo, pois, mesmo atuais, elas podem ser errôneas. As impressões pessoais e a capacidade de pensar alternativas, podem ser alguns métodos contra essas dúvidas políticas que guiam o destino dos indivíduos. Entretanto, não basta só criatividade, cabendo a observação dos fatos mais agravantes como fundamentais para conclusões, evitando equívocos, até mesmo os mais inocentes.

"O século XX descobriu a perda do futuro, ou seja, sua imprevisibilidade."
O que seria, então, pensar um sistema social, uma organização humana, em tempos como o nosso, o século XXI, herdeiro eleito dessa verdade contida no trecho. A era da bomba atômica, do efeito estufa (recentemente transformado no termo "aquecimento global"), da globalização, das guerras frias e quentes não poderia gerar outra constatação a não ser esta. O mundo de buscas utópicas como o livro de Thomas More não podem ser uma resposta à altura de nossos tempos, pois ele foi preenchido pelas incertezas que já rondavam a humanidade, adormecidas.

Um livro contemporâneo que pode ser comparado com Utopia é 1984, do escritor indiano George Orwell (Eric Arthur Blair), que narra uma futura sociedade dominada por um enorme conglomerado chamado somente de O Partido, manifestado na figura de um lider chamado de Big Brother, que domina o megabloco da Oceania, que agrega muito mais do que esse continente real, com as Américas, Reino Unido e Sul da África.

Winston Smith, um funcionário Ministério da Verdade, na ficção, é um manipulador de informações. Ao invés de sugerir um novo sistema, Orwell critica pelos olhos de Smith os abusos cometidos no século XX até 1948, ano do lançamento desse livro. Proibidos de escrever para não registrar idéias, os cidadãos da história são vigiados constantemente por "teletelas" (mistura de telefone com tela de visualização). Ao ter nas suas mãos o lápis, Smith inicia um processo contra as manipulações feita pelo partido, enfrentando a incerteza de haver algo errado em sua sociedade. Uma mulher que o persegue, chamada Júlia, se sente atraída por ele e passa a auxiliá-lo em sua busca sem nenhum destino definido, além da tortura e manipulação se forem descobertos pelo Partido.

Orwell, retrata com essa busca as "entranhas" dos regimes totalitários, sobretudo o socialista soviético de Stalin, que o decepcionou em sua trajetória. O fim, um tom pessimista sobressai, tendo Winston e Júlia com suas consciências lavadas. A mesma crítica social de Thomas More é tratada por Orwell pelo viés da "sociedade cruel". E nesse contexto, não podemos estabelecer com precisão uma sociedade perfeita.

Somos como o Winston de Orwell e o Hitlodeu de More. Estamos descobrindo novas formas por nossas impressões. Podemos ter nossos ideais levados pela manipulação social. Vivemos na incerteza que Edgar Morin trata em especial nesse quinto saber, enfrentar as incertezas. E qual incerteza não seria maior que a sociedade, com sua história "criadora e destruidora" e as previsões a longo prazo insuficientes?

"Há efetivamente dois meios para enfrentar a incerteza da ação. O primeiro é totalmente consciente da aposta contida na decisão, o segundo recorre à estratégia.
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A estratégia deve prevalecer sobre o programa. O programa estabelece uma seqüência de ações que devem ser executadas sem variação em um ambiente estável, mas se houver modificações das condições externas, bloqueia-se o programa. A estratégia, ao contrário, elabora um cenário de ação que examina as certezas e as incertezas da situação, as probabilidades, as improbabilidades. O cenário pode e deve ser modificado de acordo com as informações recolhidas, os acasos, os contratempos ou boas oportunidades encontradas no caminho."

Esses trechos não respondem tal pergunta, mas dissecam melhor a questão.

Observação: O Big Brother (ou Grande Irmão) da ficção de George Orwell inspirou o reality-show internacional apresentado na Rede Globo de Televisão.

Agradecimentos a Marília Passos pela sugestão da comparação entre 1984 e Utopia.

Caricatura bem-humorada

Peço a todos que não se sintam intimidados com as caricaturas, que como o título já diz, são bem-humoradas.

Créditos ao Pedro que me ajudou na montagem e a André Sender por fazer a minha caricatura, evitando assim que eu fugisse da realidade ao me auto-retratar.

Se cada integrante se interessar pelo seu bonequinho eu os enviarei conforme pedirem.

Obrigada a todos pelos direitos de imagem cedidos =)
Observação: O blogspot não suporta figuras grandes. Clique nela caso queira saber quem é quem.

quinta-feira, 2 de agosto de 2007

Um pequeno incentivo...

Só para animar os ânimos destes estudantes de jornalismo que têm muito o que escrever neste segundo semestre...

"Escrever é tantas vezes lembrar-se do que nunca existiu. Como conseguirei saber do que nem ao menos sei? assim: como se me lembrasse. Com um esforço de memória, como se eu nunca tivesse nascido. Nunca nasci, nunca vivi: mas eu me lembro, e a lembrança é em carne viva."

Clarice Lispector