segunda-feira, 29 de outubro de 2007

Produção de dissonância eletromagnética

Ligo um sintetizador por cabos até um computador. Abro o software e posso reproduzir toda uma escala de notas numa velocidade alta, como se estivesse dedilhando freneticamente ou palhetando algo que não conseguiria normalmente em uma guitarra elétrica. Não satisfeito com isso, eu ainda posso reproduzir sons em alturas e seqüências que me demandariam tempo e prática se fosse executar em um piano, em um teclado ou em um banjo.

Conhecido por ter explodido na música pop na década de 1980, a música eletrônica é isso: poder de tornar o som que você deseja real. Não se resume ao techno, às festas raves e ao pessoal dançando uma música considerada estranha para os padrões mais eruditos. Os primeiros testes que geraram música através dos sintetizadores remontam o começo do século XX: o movimento futurista que se apropriou das mais diversas formas de arte e rompeu fronteiras dentro delas, além da criação dos primeiros dínamos elétricos, que convertiam energia mecânica em energia elétrica, sendo induzidos e produzindo freqüências.

Essa forma técnica, praticamente industrial, de criar arte começou a ocupar o tempo de personalidades mais experimentalistas, como bandas de rock famosas, os Pink Floyd e The Beatles. No entanto, as composições consideravam a geração de sons por sintetizadores algo secundário, dando mais atenção ainda aos instrumentos em si. Teclados e guitarras elétricas eram amplificados por sons alterados, mas permaneciam necessários na geração dele.

Considerando esse passado mais esquecido, é bom ressaltar que a consolidação das experiências eletrônicas na música como um gênero posteriormente não a tornou a “decadência da música”. Por algum período dos anos 80, com bandas como Pet Shop Boys, New Order (com a morte recente de Ian Curtis e do movimento punk) e Depeche Mode, pensou-se que a digitalização da produção do som eletrônico aboliria os demais instrumentos musicais. Apesar do som cada vez menos trabalhado e mais “pronto”, os anos 1990 provaram que o peso da música instrumental não morreu com a ascensão da música eletrônica.

Um último exemplo que uso para encerrar essa minha crítica é um compositor famoso em filmes, formado como maestro em música no Japão, mas especializado em música eletrônica. Ryuichi Sakamoto, autor das trilhas sonoras como Merry Christmas Mr. Lawrence (Furyo) e Little Buddha (O Pequeno Buda), é um expoente em associar composições mais clássicas, mais focadas no erudito das orquestras, mas não sem deixar de explorar a capacidade dos sintetizadores, dos teclados e suas funções que ultrapassam a funcionalidade simples do piano. Prova de seu êxito musical, Sakamoto tocou, entre 1980 e 1990, com estrelas da música pop, como Iggy Pop e David Sylvian. Pertenceu a famosa Yellow Magic Orquestra, banda de eletropop que se inspirou em outra famosa alemã chamada Kraftwerk. Essa última é percursora de muitos sub-estilos do eletrônico dos anos 80, tais como o próprio techno, house, hip hop e industrial.

Entre as inspirações de Sakamoto, está o maestro Antônio Carlos Jobim, que contribuiu com os conhecimentos de jazz desse músico de renome.

Para fechar, uma música da banda inglesa de rock Radiohead, Idioteque, onde não há nada de guitarras, somente sintetizador, chocalho e bateria. Representa bem a mesclagem da produção de som X fazer arte na música:


E a obra-prima de Sakamoto para os cinemas. Merry Christmas Mr. Lawrence, incluindo suas partes eletrônicas.


Um comentário:

Anônimo disse...

Depois que comecei a usar computadores na música sai para tocar ao vivo com músicos humanos. Vivi o suficiente para me arrepender. - Frank Zappa