terça-feira, 3 de julho de 2007

O terceiro saber: o animal humano


"Somos seres infantis, neuróticos, delirantes e também racionais. Tudo isso constitui o estofo propriamente humano."

Prosseguindo com os estudos da obra de Morin, Os setes saberes necessários à educação do futuro, me deparo com essa sentença que, em conjunto com os estudos detalhados, resume bem o que esse filósofo da complexidade pretende, tanto no tema de Ensinar a condição humana, quanto em seu trabalho na íntegra.

"A loucura é também um problema central do homem e não apenas seu dejeto ou sua doença. O tema da loucura humana foi evidente para a filosofia da Antiguidade, a sabedoria oriental, os poetas de todos os continentes, os moralistas, Erasmo, Montaigne, Pascal, Rousseau."

Não restrinjo esses assuntos somente para esses grandes pensadores que Edgar Morin destaca, mas levo em conta outras obras mais recentes. Uma que demonstra, com muita atuação, é o filme Dogville do dinamarquês Lars von Trier. Usando elementos de um teatro sem cenário, exceto seu solo, ele constrói uma trama delicada e ousada em seu método despretensioso de narrativa.

A forasteira Grace (Nichole Kidman) é recebida no vilarejo, com o mesmo nome do filme, fugindo da polícia e de gangsters. É época da depressão estadunidense de 1929. Sabendo do risco, mas querendo seu bem, o intelectual e popular Tomas Edison se oferece para recebê-la e convencer os demais moradores à colaborar com sua permanência temporária em troca de favores. No entanto, à medida que as autoridades e o submundo começam a aumentar sua busca, oferecendo, inclusive, recompensas, os habitantes de Dogville abusam de Grace em todos os aspectos possíveis.

O longa-metragem impressiona por simplificar, ou clarear, a complexa máquina que é o homem: racionalmente irracional, com um raciocínio perverso, frustrado e reprimido. Grace representa a fuga dessa realidade, que acaba falhando pela forma como são cruéis e severos. Ela se revela (não vou dizer o que, senão estrago a surpresa de quem contemplar essa obra) e usa desse estado para punir as pessoas que fizeram ela descrer no valor da vida humana.

Um filme sobre nossa natureza, que exemplifica bem os muitos antagonismos que Edgar Morin expressa ao explicar o homem.


3 comentários:

Anônimo disse...

Nem é preciso comentar nada aqui. Nos próprios jornais e revistas vemos o quanto animal o ser humano pode ser, depende só da necessidade. Chamar de animal é ofender os verdadeiros donos deste nome, pois estes, vivem por instinto.

Analisar o Humano é algo muito difícil, nossos escrúpulos vão até o limite da necessidade, a partir daí, nos tornamos animas para defender o que acreditamos. Isso para mim é a definição do Animal Humano.

Parabéns pelo blog :D

Anônimo disse...

O ser humano deveria ser extinto.

ítalo puccini disse...

parece-me interessante a abordagem do filme.
Parabéns! Vc escreve de maneira clara, interessante. Apresenta o que deve ser apresentado para despertar a atenção do leitor, e sabe esconder as surpresas que cada um terá ao contemplar a obra.

abraço,
Ítalo.