segunda-feira, 17 de setembro de 2007

De Gullar para Renan Calheiros

Me aproprio de uma poesia do admirado crítico acadêmico maranhense, Ferreira Gullar (pseudônimo de José Ribamar Ferreira) para homenagear o querido presidente do Senado absolvido, mesmo após um escândalo comprovado envolvendo denuncias de sustento por um lobista, nessa última quarta-feira, dia 12 de setembro.

Narciso e Narciso

Se Narciso se encontra com Narciso
e um deles finge
que ao outro admira
(para sentir-se admirado),
o outro
pela mesma razão finge também
e ambos acreditam na mentira.

Para Narciso
o olhar do outro, a voz
do outro, o corpo
é sempre o espelho
em que ele a própria imagem mira.
E se o outro é
como ele
outro Narciso,
é espelho contra espelho:
o olhar que mira
reflete o que o admira
num jogo multiplicado em que a mentira
de Narciso a Narciso
inventa o paraíso.
E se amam mentindo
no fingimento que é necessidade
e assim
mais verdadeiro que a verdade.

Mas exige, o amor fingido,
ser sincero
o amor que como ele
é fingimento.
E fingem mais
os dois
com o mesmo esmero
com mais e mais cuidado
- e a mentira se torna desespero.
Assim amam-se agora
se odiando.

O espelho
embaciado,
já Narciso em Narciso não se mira:
se torturam
se ferem
não se largam
que o inferno de Narciso
é ver que o admiravam de mentira.

Tenha um excelente encontro com seu próprio Narciso, Senador.

(Que seriam seus supostos apoiadores, talvez.)

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