quinta-feira, 14 de junho de 2007

O segundo saber: muito além da politicagem das revistas jornalísticas

Na minha leitura da revista Veja, dia 13 de junho de 2007, prestei atenção em dois colunistas: o Roberto Pompeu de Toledo, falando mal dos grevistas na USP, dizendo que eles tem "sindrome de ditadura militar" ou "revolucionários do PT"; e, é claro, o Diogo Mainardi e seu moralismo bem conhecido contra a vida privada dos políticos corruptos, quase um "cavaleiro cruzado europeu de sangue nórdico".

O interessante nesses textos é perceber que, apesar da linguagem de qualidade e dos absurdos ditos, discretamente, há coerência por parte deles. A vida privada dos políticos não pode ser esquecida, muitas vezes é através dela que há um escândalo escondido. Os manifestantes da USP, apesar de Pompeu dizer, quase explicitamente, mal dos cursos da FFLCH, tem sim uma "síndrome de esquerda", assim como ele mesmo tem sua "sindrome de direita". Os dois, fazendo seu joguinho tradicional de reprimidos pelos "petistas" acabam por assumir seu posicionamento numa luta que, visivelmente, não leva pra lugar algum.

Pompeu fala da qualidade dos alunos de Faculdades Particulares e esquece dos “filhinhos-de-papai” que infestam o lugar. Pompeu fala do partidarismo nas Faculdades Públicas, mas esquece dos apartidários, dos grevistas que não queriam seguir com a greve da USP até esse ponto. Pompeu, com todo o respeito, não estuda numa universidade hoje pra saber os fatos. Quem opina de fora, exceto os que tem discernimento de balancear os fatos, falam besteiras que atestam esse “Esquerdismo X Direitismo”, não esquerda contra direita (ambas parecem ter falecido em sua essência), e demonstram, mais uma vez, o quanto o brasileiro está à mercê do partidarismo ignorante, mesmo que velado.

Outra revista, a Carta Capital do dia 6 de junho, falou sobre as intervenções que a mídia faz na política, elegendo e denunciando pessoas ao seu bel prazer. Nessa crítica, ao invés de procurarem uma alternativa a esse jornalismo tendencioso, eles não hesitaram em dizer que o presidente da Venezuela, Hugo Chavéz, estava certo em fechar a RCTV. Eles alegam que a ação política se justifica pela manipulação que a emissora fez durante o golpe de estado fracassado contra Chavéz em 2002. Eles esquecem que, assim, transferem a culpa dos Estados Unidos da América na operação para uma emissora de televisão local, parecendo bem cômodos em suas acusações.

Edgar Morin no seu livro, Os sete saberes necessários à Educação do Futuro, nos alerta a respeito do que se sabe com o segundo saber, “os princípios do conhecimento pertinente”. No caso das revistas, não necessariamente seguindo minha análise, precisamos procurar conhecimento onde ela não nos oferece. “Para articular e organizar os conhecimentos e assim reconhecer e conhecer os problemas do mundo, é necessária a reforma do pensamento” afirma, categoricamente. “De fato, a falsa racionalidade, isto é, a racionalidade abstrata e unidimensional, triunfa sobre as terras. Por toda parte e durante décadas, soluções presumivelmente racionais trazidas por peritos convencidos de trabalhar para a razão e para o progresso e de não identificar mais que superstições nos costumes e nas crenças das populações, empobrecem ao enriquecer, destruíram ao criar”.

5 comentários:

Anônimo disse...

"Vejo que o ato de manipular é algo indispensável em nossa sociedade. Sem a manipulação, o modo de vida “civilizado” como nós conhecemos não existiria... Será?"

A minha tão querida Veja, que adoro ler sempre que posso, adora manipular. Seja em matérias, seja em colunas do Diogo ou de qualquer um. É claro que eles sempre tomarão um lado (Normalmente contra a maioria). O Mainardi adora atacar o Lula (Que nesse caso, é um exemplo de popularidade). Já Roberto Pompeu, normalmente se posiciona contra algum fato de que todo mundo tem opinião formada e tende a fazer as pessoas ficarem confusas. Para isso, é preciso ler os fatos de ambas as partes, tentar refletir e opinar sem ficar em cima do muro, ou tendenciando para algum dos lados.

É claro que na posição deles, de colunistas, é direito (E dever, pelo que parece) se posicionar contra ou a favor de algum fato, só temos que tomar cuidado para não cair nessa "armadilha" que eles armam enquanto escrevem, para que não sejamos manipulados ou moldados.

No primeiro parágrafo, eu posso ter manipulado alguém, falando contra a Veja, mas foi de propósito para que se alguém aqui ficou em dúvida, começar a acompanhar mais a Veja para esclarecer tal fato. Era só uma expressão de opinião, mas não deixo de poder ter manipulado alguém.

Precisamos sim aprender a pensar cada vez mais a cada dia que passa, para que possamos ser pessoas diferenciadas no futuro.

Unknown disse...

Muito boa a analise sobre o problema dessas discussões que giram em torno de ideologia. As pessoas deveriam ser livres para decidir o que pensam de certo assunto. Uma boa maneira para isso é se informando sobre os dois lados de cada história, para que a pessoa não se torne alienada julgando um dos lados como verdade absoluta ou ficando em cima do muro.
Sobre as manifestações na USP, em parte concordo com a Veja. Na FFLCH, cada porre é uma revolução, sem mais...

Anônimo disse...

Me lembro da minha tia criticando uma reportagem da Veja sobre a greve, na qual ela faz um apelo atravéz de um contraste entre a vida na USP e o alto padrão de vida da reitora da FFLCH...não dá pra comentar mto, pois eu não li a matéria, mas o jornalismo tendencioso da Veja é evidente e volúvel, já que nesta reportagem, ela mostra argumentos típicos de esquerda, sendo que durante as camapnhas eleitorais, transmitia claramente mensagens de direita.

Abração ^^

Anônimo disse...

Como diria Barão de Itararé: "Muitos políticos confundem a vida pública com a privada".

ítalo puccini disse...

É sabido que todo texto apresenta um discurso que subjaz ao mesmo. Cabe a nós, leitores desses textos, criarmos nossos sentidos para o que lemos, buscando desvendar as artimanhas que os textos nos colocam, e delas escapar. Sem esquecermos, é claro, de buscar o "outro lado da moeda", para, como foi comentado, balancearmos os fatos e construirmos um sentido mais amplo e embasado em nossas análises.

Belíssima reflexão!!