sexta-feira, 29 de junho de 2007

A Globo bancando a moralista

Por Luca Contro

No dia 27 de junho, Jô Soares apresentou em seu programa na Rede Globo de Televisão algo diferente do normal. Foram reunidas quatro jornalistas diferentes: Lúcia Hippólito, Lilian Witte Fibe, Cristiana Lobo e Ana Maria Tahan, em uma espécie de mesa redonda, em que foram discutidos os atuais acontecimentos políticos e outros assuntos.
Entre essas discussões, tiveram grande destaque as peripécias de Renan Calheiros (PMDB-AL) e de nossos ilustríssimos senadores e políticos, além da violência e a crise no sistema aéreo do País de todos.
O mais intrigante nesse episódio é que várias figuras foram fortemente criticadas em rede nacional, em especial, o presidente do senado. Essa atitude da rede mais poderosa da televisão não é muito comum, já que seu jornalismo político muitas vezes é providencialmente parcial e "shownarlístico", com raríssimas exceções, como o trabalho do excepcional Arnaldo Jabor.
Entretanto, o apresentador do programa se referiu a certos políticos de maneira absolutamente diferente. Como no caso de Pedro Simon (PMDB-RS) lembrado pelos participantes como, de certa forma, excluído de toda essa podridão política. É óbvio que Simon nos últimos tempos tem se colocado ferreamente contra as atitudes e acontecimentos lastimáveis no caso dos bois-voadores, das licitações e do triângulo amoroso novelístico e, bem a moda Televisa, de Renan. Mas então fica a pergunta: será que foi somente e, realmente por isso, que a Globo, resolveu realizar esse debate?
E mais, será que, de maneira providencial, esqueceram certas posições duvidosas e de omissão assumidas pelo próprio Simon?
Um exemplo dessas atitudes é a questão levantada por José Arbex Jr., na entrevista da edição nº 90 da revista Caros Amigos, em que este indaga o político dizendo: "Não vi uma intervenção sua no Senado contra a Monsanto por ela ter feito contrabando de semente transgênica no Brasil, contrariando a Constituição. Não vi ninguém no Senado dizer que não é qualquer empresa transnacional que vai obrigar o governo brasileiro a botar uma medida provisória que autoriza a produção de transgênico, contra o que diz a Constituição. Não vi dizerem que os executivos dela que promoveram esse contrabando tem que pôr na cadeia. Não, o Brasil vai e dá um prêmio pra eles, autoriza a plantação e a Embrapa diz que é uma questão técnica”.
Simon, nesta mesma entrevista, responde a Arbex dizendo: "Você não ouviu esse discurso nem de mim nem de ninguém. No Rio Grande do Sul, a questão ficou muito complicada. Quando você diz “é contra a lei, prende”, pouca gente soube da lei. Isso não é bem assim, você fala com uma tranqüilidade que eu, do outro lado..."
Outro que saiu do programa de Jô Soares como uma exceção à sujeira política, foi o senador Eduardo Suplicy (PT-SP). Provavelmente não interessava, naquele momento, lembrar que o mesmo foi multado pelo Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo (TRE-SP) por ter feito campanha em plena tribuna do Senado, em 20 de setembro do ano passado, quando divulgou sua candidatura e seu site na Internet enquanto discursava.
É inegável que as carreiras políticas de Suplicy e Simon, comparativamente as de outros, são infinitamente menos escandalosas e, que eles parecem buscar muitas vezes solitariamente o combate à corrupção. Contudo, a atitude inesperada da Globo de inserir essa discussão num programa de entrevistas é algo curioso. Ainda mais perturbador é o fato de que, em outros casos gravíssimos de corrupção e de incrível falta de vergonha em nossa política, a mesma emissora pouco ou nada fez, quanto mais dedicar grande espaço de seu tempo, disputado ferozmente por publicitários, à discussões como a do programa de ontem.
Infelizmente, até quando a Globo se coloca contra as falcatruas tão comuns no Brasil, simplesmente não convence, mesmo num programa de um humorista de tanta qualidade e inteligência como Jô Soares. Quem, por sinal, mesmo na ditadura, criou personagens e participou de quadros que, de maneira perspicaz, agulhavam os militares e denunciavam absurdos dessa época. Assim, o apresentador, trabalhando na emissora em que trabalha, não pode ser totalmente responsabilizado por aquilo que apresenta em seu programa, como no caso de ontem (sabe-se do caráter nem um pouco desinteressado e manipulador daquilo que a Globo apresenta). Entretanto, por trabalhar há tanto tempo, ele não pode ser ausentado de culpa, pois já deve ter a consciência daquilo a que está sujeito.

Férias do mês de julho

Apenas um pequeno aviso. O 1º ano de jornalismo, turma B, está de férias de hoje até o dia 1º de agosto. Por isso, não haverá urgência de postagens freqüentes por parte de seus usuários. No entanto, o blog continuará em pleno funcionamento nesse período, aberto à críticas e comentários.

Para os integrantes que necessitam de tempo, principalmente para refletir, em suas postagens, é recomendável que as adiantem ou façam nesse tempo de descanso.

Aos demais blogs e colegas de faculdade, o Cidadão do Mundo deseja boas férias, fôlego para o próximo semestre e sucesso à todos.

domingo, 24 de junho de 2007

Sem celular...Sem MSN...Sem Orkut...Sem vida

Por Luca Contro

Os alunos do 1° JO-B conhecem bem Luis Fernando Carrasco, um aluno bem humorado e amigável. Porém, algo curioso ocorreu certo dia na faculdade, envolvendo-o. Acontece que estávamos fazendo um trabalho na Cásper mesmo e, como é bem comum, nosso colega sumiu. Enquanto nos perguntávamos onde ele estaria, alguém teve a idéia de procurá-lo no celular, então lembrei de uma coisa: O apelidado Carrasco não tem celular.
Foi aí que começamos a pensar, que o mesmo além de não ter celular, não possui Orkut e nem MSN. Então lembrei do porque algumas vezes é difícil encontrá-lo.
Essa simples e cotidiana situação faz lembrar uma coisa que freqüentemente nos esquecemos e consideramos como banal: A maneira como essas pequenas modernidades nos envolvem.
É interessante observar como no caso acontecido, todos nós nem sequer lembramos que seria possível nosso colega não ter celular, como se tê-lo fosse algo básico. Essa atitude ocorreu talvez, porque a grande maioria dos alunos da nossa faculdade, ou pelo menos daqueles que me lembro, tem um telemóvel. O fato é que esse envolvimento com essas pequenas maquininhas e facilidades não é algo tão trivial, quanto parece, pois nos faz recordar da sociedade em que vivemos hoje, a temível Sociedade de Controle.
Nesse tipo de organização social o homem não é mais retido e comandado diretamente, como na antiga Sociedade Disciplinar, mas sim de uma maneira implícita e que se incorpora como normal. Sem querer aqui fazer uma caça às bruxas, até porque seria uma incoerência, já que eu mesmo faço uso de diversos aparelhos e de muitas outras facilidades de nossa tecnologia atual. Mas o que realmente assusta é pensar em como essas pequenas bugigangas se tornaram indispensáveis para nossas vidas e, como sem elas fica tão mais difícil realizar algumas das mais simples tarefas do dia-dia. Para que fique mais simples ver como essa dependência realmente existe, é só imaginar uma situação: Como seria numa daquelas nervosas e irritantes semanas de prova para um dos alunos casperianos de nossa classe, ou para qualquer outro aluno, ficar sem os seguintes maquinários: computador, internet, impressora ou copiadora.
Entretanto, se hoje em dia esse envolvimento ainda não é uma coisa que aterrorize muito, há algo a ser temido sim: a extrema valorização do que é tecnológico e a ostentação do “infoinútil” num futuro não muito distante. Aliás, falando nisso, lembro de um filme que, apesar de não ser uma grande produção intelectual e culta como as que os alunos do JO-B estão acostumados, nos dá uma visão sobre essa situação. Trata-se de uma cena da superprodução o Quinto Elemento, dirigida por Luc Besson e estrelada por Bruce Willis, Milla Jovovich, Gary Oldman e Chris Tucker. O filme se passa na Nova York do século 23, num cenário totalmente futurista. Em uma cena específica, o vilão Jean Baptiste Emmanuel Zorg (Gary Oldman), dono de uma grande empresa de armas, riquíssimo e igualmente maléfico, se engasga com um caroço enquanto discursava sobre seu grande poder e sua impotência frente a todas as facilidades tecnológicas luxuosas.
É então que o personagem Vito Cornelius, um humilde Padre interpretado por Ian Holm o observa e pergunta ironicamente, enquanto ele se retorce: “onde esta o robô para bater nas suas costas?”.
Como ainda não parece ter surgido uma reposta final sobre o assunto, finalizo com uma frase de Gilles Deleuze, de seu texto “Sobre as sociedades de controle”, em que ele se refere bem a essa indefinição. Nela o autor se pergunta como será maneira com a qual os jovens se colocarão em relação às sociedades de controle, questionando como responderão ao seu domínio: “Muitos jovens pedem estranhamente para serem motivados, e solicitam novos estágios e formação permanente; cabe a eles descobrir a que estão sendo levados a servir, assim como seus antecessores descobriram, não sem dor, a finalidade das disciplinas”.

Homenagem a Le Tissier


Esse post é uma humilde homenagem a Matthew Le Tissier e a todos os outros grandes gênios esquecidos pela História. A glória é para poucos, e nem sempre é justa. Grandes homens são esquecidos, enquanto idiotas são glorificados e idolatrados.

Se você não conhece Matthew Le Tissier (que injustiça...), provavelmente acha que eu estou falando de algum filósofo ou intelectual obscuro. Mas está enganado: eu estou falando de um jogador de futebol. E mais: de um dos melhores jogadores de todos os tempos.

Nascido em Guernsey, pequena ilha do Canal da Mancha pertencente à Inglaterra, Le Tissier jogou toda sua carreira pelo Southampton FC. Parece estranho que um dos melhores jogadores de todos os tempos jogue toda sua vida pelo Southampton, um time meia-boca que sempre brigava para não ser rebaixado no Campeonato Inglês? Sim, é estranho, e é exatamente esse o motivo pelo qual ele não alcançou o devido reconhecimento: seu amor pela camisa do pequeno time inglês.

Desde que estreou na equipe, em 1986, Le Tissier se destacou por seu futebol de classe, técnica e frieza. E principalmente por seus incríveis gols, alguns dos mais belos da história do futebol (quem não acreditar, assista ao vídeo no final do post). Também tinha pontos negativos: ele andava em campo, jamais ajudava na marcação e às vezes sumia completamente no jogo, mas de repente reaparecia e fazia uma jogada genial e um golaço, para salvar seu time de mais uma derrota e, provavelmente, do rebaixamento.

Por tudo isso, ele chamou a atenção de diversos grandes clubes, que faziam de tudo para tentar contratá-lo. Mas o habilidoso meia-atacante estava feliz em Southampton, tinha uma grande admiração pela torcida dos Saints (como o clube é conhecido por lá) e por isso recusou propostas de clubes como Milan e Chelsea. Chegou a assinar com o Tottenham, em 1991, mas depois se arrependeu e rasgou o contrato.

Devido a essa fidelidade cada vez mais rara no futebol, alguns dos mais belos gols de todos os tempos foram marcados no pequeno estádio The Dell (capacidade estimada na época: 15 mil pessoas), o craque não ficou conhecido internacionalmente e foi chamado apenas oito vezes para defender a seleção inglesa, o que causou muitas reclamações daqueles que conheciam o futebol de Le God, como ele era chamado pelos torcedores dos Saints, para quem ele é o maior jogador da história do futebol.

Le Tissier foi fiel ao clube que amava até o final de sua carreira, em 2002, e por isso foi esquecido pela História. Depois que se aposentou, o Southampton foi rebaixado para a segunda divisão inglesa, em 2004. A maior revelação do clube depois disso foi Theo Walcott, que jogou apenas 23 vezes pelos Saints antes de assinar contrato com o Arsenal, por 5 milhões de libras. Menos de seis meses depois, o jogador, então com 17 anos, foi convocado para seleção inglesa que disputou a Copa do Mundo na Alemanha, antes mesmo de estrear pela equipe principal do Arsenal.

Isso foi considerado uma imensa injustiça por muitos torcedores do Southampton, que comparavam Walcott com Le Tissier, que se recusava a sair do clube que o revelou e por isso não era chamado para o English Team. Mas não se pode condenar Walcott por ter trocado um pequeno e fraco time por um grande clube e um excelente contrato. Essa é a regra. Matthew Le Tissier é a exceção.

A pedra filosofal – Inteligência... também pagamos por ela...


quarta-feira, 20 de junho de 2007

"My fake plastic love"

"Diego Gasques e Iris Stefanelli não estão mais juntos. A informação foi confirmada pelo próprio Alemão na tarde desta segunda-feira, dia 18, durante o programa A Casa é Sua, de Sônia Abrão. Segundo ele, a caipira não é mais a mesma pessoa que ele conheceu na casa do Big Brother Brasil 7. Durante a entrevista ele disse que a loira não retorna mais suas ligações e que só consegue falar com ela através de sua assessora."

"Em conversa com a reportagem do Te Contei!, a assessora de Diego, Fernada Gasques, afirmou que ele está muito triste com a situação por gostar muito de Íris.- "Ele está triste e magoado com a situação, porque gosta muito da Iris. Essa não era a situação que ele queria, mas o relacionamento ficou insuportável. Imagina você ligar para uma pessoa que você gosta e ela sequer responder", completou.

Alemão e Íris se conheceram na sétima edição do Big Brother Brasil, da Globo, e eram considerados um dos casais mais belos da atualidade."

Fonte Te Contei!, 18 de junho de 2007, 16:04.

Não é novidade pra ninguém que relacionamentos entre famosos são assuntos remoídos por programas de fofoca na televisão, pela torcida ou pelos comentários maldosos da população. O que diríamos, então, de programas popularescos como o Big Brother Brasil? São pessoas (teoricamente) comuns confinadas numa casa até último a ser eliminado nas votações ganhar o prêmio de um milhão de reais. O reality show da Rede Globo de Televisão fatura valores muito superiores a esse prêmio com a audiência, enquanto as pessoas assistem assíduamente e o ganhador, junto com os perdedores, passa de desconhecido à popular pelos minutos dentro da programação aberta.

A vida privada desses participantes e dos telespectadores é invadida. E, como se não bastasse, os órgãos de televisão focam detalhes de sua vida particular após o término do programa. Diego Gasques, o Alemão, ganhador da sétima versão do jogo, foi uma dessas pessoas expostas, pois é "ciente da importância da vida pública". Seu romance com Íris, embora tenha detalhes que eu não saiba e nem queira saber, soa, para observadores mais curiosos, como uma "paixão de plástico", com tudo anunciado e definido pelos órgãos de comunicação.

O título dessa postagem, com referência à música Fake Plastic Trees da banda de indierock britânica Radiohead nos remete à essa sensação de falso relacionamento, de falsas impressões, de desilusão. Seu clipe é até dentro de um supermercado, sugerindo que estamos todos à venda por um preço e criticando a falta de humanidade nisso.

Abaixo, segue-se um trecho da música, que eu considero interessante:

"She lives with a broken man
A cracked polystyrene man
Who just crumbles and burns
He used to do surgery
For girls in the eighties
But gravity always wins

It wears him out, it wears him out
It wears him out, it wears him out

She looks like the real thing
She tastes like the real thing
My fake plastic love
But I can't help the feeling
I could blow through the ceiling
If I just turn and run"

E pra quem tiver interesse, encerrando minha análise, a música do Radiohead disponível no Youtube.


terça-feira, 19 de junho de 2007

Gozação

Você que é aposentado ou pensionista do INSS, por favor continue lendo. Não se trata de mais um anúncio publicitário. O assunto é de seu interesse, tenho certeza. Trata-se do novo Plano Nacional de Turismo, apresentado pela ministra Marta Suplicy. O projeto que pretende promover a imagem do Brasil, tanto aqui como lá fora, também quer dar uma força para os velhinhos e velhinhas de nosso país. Está previsto o lançamento de um programa de crédito para aposentados na compra de pacotes turísticos com juros ao redor de 1%. O presidente classificou o projeto como uma maneira de estimular o brasileiro a viajar. Lula ainda disse que quer ver coisa bonita na imprensa: “O que a gente vê de bonito na imprensa brasileira? Não tem. Se fala de Pernambuco, é morte. Se fala do Ceará, é morte. Se fala da Bahia, é morte". Por que será, né? Segundo o Excelentíssimo Senhor Presidente, o brasileiro adora falar mal do país: "Você não vê um suíço falar mal da Suíça". Meu Deus! O suíço vai reclamar do quê? Do queijo que azedou? Do relógio sem pilha? Do canivete mal amolado? O governo quer estimular o turismo e não tem controle sequer sobre os horários das viagens aéreas. A Marta disse que não tem problema: "Relaxa e goza". "Bem que eu queria", resmungou meu avô que, ansioso pelo novo plano do governo, não quer mais ver desgraças na imprensa: quando passa alguma tragédia, faz questão de tirar os óculos. "Dureza né, vô?"- comentei. "Só com Viagra"- replicou ele. Mas vamos falar bem do Brasil: Robinho chega mais cedo à Granja e diz que "quer arrebentar" na Copa América. Pedala Robinho!

quinta-feira, 14 de junho de 2007

O segundo saber: muito além da politicagem das revistas jornalísticas

Na minha leitura da revista Veja, dia 13 de junho de 2007, prestei atenção em dois colunistas: o Roberto Pompeu de Toledo, falando mal dos grevistas na USP, dizendo que eles tem "sindrome de ditadura militar" ou "revolucionários do PT"; e, é claro, o Diogo Mainardi e seu moralismo bem conhecido contra a vida privada dos políticos corruptos, quase um "cavaleiro cruzado europeu de sangue nórdico".

O interessante nesses textos é perceber que, apesar da linguagem de qualidade e dos absurdos ditos, discretamente, há coerência por parte deles. A vida privada dos políticos não pode ser esquecida, muitas vezes é através dela que há um escândalo escondido. Os manifestantes da USP, apesar de Pompeu dizer, quase explicitamente, mal dos cursos da FFLCH, tem sim uma "síndrome de esquerda", assim como ele mesmo tem sua "sindrome de direita". Os dois, fazendo seu joguinho tradicional de reprimidos pelos "petistas" acabam por assumir seu posicionamento numa luta que, visivelmente, não leva pra lugar algum.

Pompeu fala da qualidade dos alunos de Faculdades Particulares e esquece dos “filhinhos-de-papai” que infestam o lugar. Pompeu fala do partidarismo nas Faculdades Públicas, mas esquece dos apartidários, dos grevistas que não queriam seguir com a greve da USP até esse ponto. Pompeu, com todo o respeito, não estuda numa universidade hoje pra saber os fatos. Quem opina de fora, exceto os que tem discernimento de balancear os fatos, falam besteiras que atestam esse “Esquerdismo X Direitismo”, não esquerda contra direita (ambas parecem ter falecido em sua essência), e demonstram, mais uma vez, o quanto o brasileiro está à mercê do partidarismo ignorante, mesmo que velado.

Outra revista, a Carta Capital do dia 6 de junho, falou sobre as intervenções que a mídia faz na política, elegendo e denunciando pessoas ao seu bel prazer. Nessa crítica, ao invés de procurarem uma alternativa a esse jornalismo tendencioso, eles não hesitaram em dizer que o presidente da Venezuela, Hugo Chavéz, estava certo em fechar a RCTV. Eles alegam que a ação política se justifica pela manipulação que a emissora fez durante o golpe de estado fracassado contra Chavéz em 2002. Eles esquecem que, assim, transferem a culpa dos Estados Unidos da América na operação para uma emissora de televisão local, parecendo bem cômodos em suas acusações.

Edgar Morin no seu livro, Os sete saberes necessários à Educação do Futuro, nos alerta a respeito do que se sabe com o segundo saber, “os princípios do conhecimento pertinente”. No caso das revistas, não necessariamente seguindo minha análise, precisamos procurar conhecimento onde ela não nos oferece. “Para articular e organizar os conhecimentos e assim reconhecer e conhecer os problemas do mundo, é necessária a reforma do pensamento” afirma, categoricamente. “De fato, a falsa racionalidade, isto é, a racionalidade abstrata e unidimensional, triunfa sobre as terras. Por toda parte e durante décadas, soluções presumivelmente racionais trazidas por peritos convencidos de trabalhar para a razão e para o progresso e de não identificar mais que superstições nos costumes e nas crenças das populações, empobrecem ao enriquecer, destruíram ao criar”.

terça-feira, 5 de junho de 2007

O primeiro saber: professor ensina a ilusão

No dia 25 de maio ocorreu, na sala Aloysio Byondi da Faculdade Cásper Líbero, a abertura e a mesa 1 de exposição, debate e difusão das pesquisas realizadas no ano de 2006 no 5º Fórum de Pesquisa promovido pelo CIP (Centro Interdisciplinar de Pesquisa). Entre os palestrantes estava nosso professor de filosofia, Dimas Antonio Künsch, apresentando seu trabalho de pesquisa sobre jornalismo e filosofia complexa. Usando pensadores como Edgar Morin e seu Complexus, ele criticou o Cogito Ergo Sum ("Penso, logo, existo") de René Descartes. Esse pensamento racional, dualista e bastante reducionista, segundo o professor, não pode se adequar a uma prática que acompanha acontecimentos quase sempre complicados, como o jornalismo.


Professor Dimas apresenta, nos slides, seu trabalho de pesquisa em 2006.

Dessa forma, aproveitando o começo de mês, eu falei sobre a leitura do livro Os sete saberes necessários à Educação do Futuro, de Morin, e aproveito esse post para estender a análise até cada um desses saberes. O primeiro deles são "As cegueiras do conhecimento: o erro e a ilusão".

O professor foi claro em sua explanação de que existem diversas visões sobre a construção do jornalismo e não somente o reducionismo que nos é ensinado. Diz claramente Dimas: "Ouçam as vozes aceitas, as vozes caladas, as abandonadas". Edgar Morin, ao relatar sobre o erro e a ilusão, riscos no processo de conhecimento, parece querer, da mesma forma que nosso professor de filosofia, buscar erros cometidos ao longo da história, inclusive por personalidades de renome como Karl Marx. "Marx e Engels enunciaram justamente em A ideologia alemã que os homens sempre elaboram falsas concepções de si próprios, do que fazem, do que deveriam fazer, do mundo que vivem. Mas nem Marx nem Engels escaparam desses erros", diz o filósofo francês, ex-membro da Resistência Francesa durante a Segunda Guerra Mundial.

Citando exemplos de que o jornalismo reducionista não é amplo, em especial da sua pesquisa em revistas como Istoé, Veja e Época, nosso professor novamente dialoga com Morin que afirma, categoricamente, "o conhecimento não é um espelho das coisas ou do mundo externo". Edgar Morin amplia ainda mais a crítica, confirmando que não somos biologicamente perfeitos, nem racionalmente e muito menos ao considerar que nossa capacidade de seleção de memória é falha.

O filósofo francês conclui, após diversas análises de noologia (psicologia) e normalização (constituição de leis), que é necessário, especialmente no novo mundo globalizado, o ensinamento das incertezas do conhecimento através da aceitação do erro. Focando mais especificamente para nosso campo profissional, entendi que nosso professor Dimas ensinou a incerteza, dentro da complexidade, no campo aparentemente tão certo e determinado como o jornalismo deseja ser.

Para encerrar a postagem, deixo links de algumas reportagens publicadas no site da Faculdade Cásper Líbero (uma delas, minha. As outras, eu falo sobre a mesa 3 do Fórum de Pesquisa) e um para o começo da análise dessa obra de Morin: