sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

Aos cidadãos do "Mundo da Cásper"

Tive algumas conversas avulsas, bem de corredor mesmo, com pessoas sobre o futuro desse weblog, que perteceu às avaliações da disciplina de Filosofia, com o professor Dimas Künsch. Não cheguei em conclusão nenhuma, pois toparia até continuar, embora tenha outros projetos.

Cheguei num consenso pessoal, nem tanto com os outros integrantes do grupo, de deixar esse espaço da internet "aceso", mesmo que ninguém visite, que ninguém se importe. Parte de nossas histórias pessoais se encontram nessas páginas, mesmo que feitas sem planejamento, sem nenhum senso histórico ou algo do tipo.

Outro ponto interessante a ressaltar é, se os calouros, vulgo bixos, se apresentarem ano que vem com trabalhos que necessitem de blogs, que o nosso seja, quem sabe, um modelo.

Não tenho muito o que dizer com essa postagem. Talvez tenha sábias palavras do filósofo Friedrich Nietzsche, do livro Assim Falou Zaratustra para esse momento:





"Criar é a grande emancipação da dor e o alívio da vida; mas para o criador existir são necessárias muitas dores e transformações. Sim, criadores, é mister que haja na vossa vida muitas mortes amargas. Sereis assim os defensores e justificadores de tudo o que é perecível. Para o criador ser o filho que renasce, é preciso que queira ser a mãe com as dores de mãe."


Aos meus amigos de grupo e colegas da Cásper Líbero,

Um forte abraço com sentimento de amigo, desejos que não sejam só de "bom Natal e feliz Ano-Novo", mas sim de inspirações para concluírmos um curso realmente bom em nossas vidas. Que a caminhada seja única, mesmo com as coisas que temos em comum.

Aos demais,

Obrigado pela paciência de comentarem, obrigado pelas contribuições inspiradoras e obrigado por nos ajudar a existir, até mesmo nos problemas de grupo.



Fiquem livres para reler o weblog, fiquem livres para esquecê-lo também. Revivam o que acharem que deve e enterrem o que deve morrer. Boa sorte a todos.

terça-feira, 13 de novembro de 2007

Parabéns!!! É 100!!

Olha só!! Parabens Cidadãos do Mundo, vocês chegaram ao post número 100!!!!

Com uma reles ajudinha do Pedro e da Marília, o Cidadão do Mundo se consolida como um dos blogs de filosofia de 1º ano da Cásper Líbero que possui o maior número de posts. Ser um dos mais produtivo não é para qualquer um não!!

Por isso, dirijo meus parabéns a cada membro do grupo e...

Ah, vocês sabem que são bons.

Sem mais.

Ai de nós...

CANÇÃO DO SUICIDA

Não me matarei, meus amigos.
Não o farei, possivelmente.
Mas que tenho vontade, tenho.
Tenho, e, muito curiosamente.

Com um tiro. Um tiro no ouvido,
Vingança contra a condição
Humana, ai de nós! sobre-humana
De ser dotado de razão.



(Manuel Bandeira, 1963)

Razão! Temos razão.

Orgulho de nossa condição.

Tormeto. Agonia. Depressão.

Nos faz rimar... Melhor fosse que não.

Suspiro do Copyleft?

"Privatizado

Privatizaram sua vida, seu trabalho, sua hora de amar e seu direito de pensar.
É da empresa privada o seu passo em frente,
seu pão e seu salário. E agora não contente querem
privatizar o conhecimento, a sabedoria,
o pensamento, que só à humanidade pertence."


De Bertold Brecht, 1898 - 1956.

Naquele tempo ele já pensava em copyleft? Que estava perdendo os direitos artísticos pelos direitos autorais? Será?

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

A própria voz é a que mais machuca

Sexta-feira, por ocasião de um evento, fui convidada a visitar uma base de aviação do Exército. Vimos toda a estrutura do lugar, a logística, o refeitório, o batalhão de manutenção, um hangar de helicópteros e o centro de ensino de pilotos e mecânicos (Aliás, o próprio Exército montou a estrutura de ensino dos pilotos, o que inclui um software desenvolvido pelos sargentos, que custaria mais de 400 mil reais se fosse encomendado em uma empresa civil. Senhores, contemplem: talvez o ÚNICO software NÃO pirateado do Brasil).

Como todo bom jovem, fiquei besta na frente de todo aquele maquinário voador de 740 cavalos que provavelmente eu nunca verei de novo. Você sabe né? Aquele lugar onde a parte pivete-de-onze-anos do seu cérebro sempre sonhou em estar. Tudo muito bem organizado, entiquetado e limpo.

O comandante nos levou a uma sala onde havia um simulador, baseado na tecnologia de um jogo da Microsoft, porém mais complexo, com um telão, dois monitores para imitar os relojinhos e dois controles de helicóptero adaptados ao computador. Tudo muito caseiro, porém extremamente bem feito, como é o hábito dos militares.

O sargento-professor perguntou se algum dos civis queria experimentar. Haha, veja se eu, uma apreciadora de jogos eletrônicos (mas não tão fã de simuladores de vôo, pois isso é jogo para meninos, eu prefiro os de ação), perderia uma chance dessas? Meu dedinho coçou, e, timidamente, mas energicamente, se levantou. O comandante me convidou à cadeira, eu me sentei, emocionada. Ele deu uma demonstração, explicou os comandos, eu bebia suas palavras.

Aquela base tinha em torno de 2.400 militares, se 100 deles tivessem sentado uma vez na vida onde eu estava, era muito. Civis como eu? Cof, cof.

Puxei a alavanca que parecia um freio de mão. O helicóptero na tela subiu, como eu planejava. Com os pedais eu o fazia girar no próprio eixo vertical, para esquerda ou para a direita. Confesso que manter essa estabilidade me foi uma tarefa dificultosa, pois os pedais estavam descalibrados. Pô-lo no ar e deixá-lo lá foi fácil. O difícil era mantê-lo equilibrado, através do joystick que eu controlava com minha mão direita. Achei o máximo conseguir pilotar aquele brinquedinho, principalmente porque estava na frente dos militares. Uma moça também experimentou antes de mim, mas ela foi muito mal mesmo, seja por inexperiência (que eu tamém tinha) ou falta de vontade ou até mesmo uma farda bem preenchida (que eu também via), fato é que, nas mãos dela, as pás da aeronave sempre chegavam antes no chão.

Comigo não foi assim, não. Eu não caí. Não perdi (muito) o controle. Só parecia um helicóptero meio bêbado, mas tudo bem. Fui pra lá, fui pra cá. Voei? Voei. Cheguei a algum lugar no cenário? Aí já é pedir muito, meu chapa. Mas, no fim, um major me elogiou, acho que estava só brincando, disse que eu levava jeito, que era a primeira vez que mexia e já conseguia muita coisa, conseguiu ir muito bem, parabéns, mulheres têm jeito com essas coisas, porque tem as mãos delicadas e precisas (engraçado, isso ele não falou na vez da moça), e blablablá. Mesmo assim, fiquei muito lisonjeada com o elogio. Muito mesmo. Se fosse uma cantada... com certeza seria melhor do que "Oi, você tem miopia ou astigmatismo?". Enfim, adorei aquilo mesmo, de coração e honra, encheu meu ego, e olha que raras vezes me sinto confortável quando elogiada.

Alguém não-lembro-quem-isso-não-importa, perguntou se mulheres poderiam ser pilotos. O comandante respondeu que não, que ainda não havia esse tipo de abertura, pelo mesmo motivo que não havia mulheres praças (os que se metem com a parte de combate mesmo), aquela velha discussão maçante que volta e meia sempre volta e não leva a nada. E o Quico? Pois é. Dane-se. Sabe, não me importo mais com essas coisas. Tá cheio de mulher lá dentro e é questão de alguns anos que elas consigam tudo o que querem. Isso não tem nada a ver comigo. Eu nunca quis me meter com forças armadas, não gosto de armas. Aliás, por motivos além dos habituais, quero distância desse meio. É legal? É legal para um deslumbrado de onze anos, mas não para uma vida. Aqueles homens e mulheres são muito corajosos. Mexer com a vida dos outros não é para qualquer um. Meu negócio ali foi brincadeira.

Cheguei em casa. Contei a história do simulador para todos, a mãe, a irmã, o gato e até o primo (que nunca me deixou usar o Comandos em Ação para dar carona para a Barbie, ela sempre tinha que andar a pé, porque só os brinquedos dele tinham carro, os meus não. Claro, até porque o carro da Barbie era mais caro por ser bem mais equipado do que um blindado de plástico), que ficou deliciosamente morrendo de inveja. À noite, resolvi contar tudo para o meu pai, que ficou admirado de tantas coisas novas que agora eu sabia. Até de motor eu aprendi bastante!

No fim de tudo, ele olhou para mim e perguntou:
- Por que você não presta concurso para a Aviação do Exército?

E eu respondi com a maior tranqüilidade do mundo:
- Ah, nem rola. Nem quero. E não posso, porque sou mulher.

Aí, fui fazer outra coisa qualquer. Trinta segundos depois, comecei a chorar, foi como se tivesse tomado uma facada no peito. Meu pai sempre gostou dessas coisas, talvez por isso tenha se tornado engenheiro. Tentou entrar na Aeronáutica quando moço, mas desistiu ao ser reprovado por ter 0,25 de miopia no olho esquerdo. Eu tenho 2,5 em cada olho, nunca passaria num troço desses, e mais do que isso, nunca tentaria, credo, fora de questão.

Então, por que me de repente fiquei tão mal? Que remorso era esse que eu sentia! Sentia até culpa por ser mulher, dar despesa pro País e não retribuir, olha que absurdo.

Acho que respondi isso por não querer admitir que era míope, fraca, sem cordenação, burra, ou qualquer outra coisa. Era mais fácil me desculpar pela falta de oportunidade do que pela falta de competência.

Pensando bem, nunca mais farei isso. É doloroso demais.

Vida na Terra? (Life on Mars?)



Life On Mars? (Vida em Marte?)
David Bowie

"It's a God awful small affair
É um pequeno romance trágico
To the girl with the mousey hair,
Para a garota com o cabelo castanho claro,
But her mummy is yelling, "No!"
Mas a mãe dela está gritando "Não!"
And her daddy has told her to go,
E o pai dela a mandou ir,
But her friend is no where to be seen.
Mas o amigo dela não está em lugar algum.
Now she walks through her sunken dream
Agora ela anda através do seu sonho afogado
To the seats with the clearest view
Para os assentos com melhor vista
And she's hooked to the silver screen,
E ela está vidrada pela tela prateada,
But the film is sadd'ning bore
mas o filme é terrivelmente tedioso
For she's lived it ten times or more.
Pois ela o viveu dez vezes ou mais.
She could spit in the eyes of fools
Ela poderia cuspir nos olhos dos tolos
As they ask her to focus on
Assim como eles pedem para ela se concentrar

Sailors
Marinheiros
Fighting in the dance hall.
Brigando no salão de dança.
Oh man!
Oh, cara!
Look at those cavemen go.
Olhe aqueles primitivos irem.
It's the freakiest show.
É o show das loucuras.
Take a look at the lawman
Dê uma olhada no juiz
Beating up the wrong guy.
Espancando o cara errado.
Oh man!
Oh, cara!
Wonder if he'll ever know
Imagino se ele vai saber
He's in the best selling show.
Que ele está no melhor show comercial.
Is there life on Mars?
Existe vida em Marte?

It's on America's tortured brow
Está na testa torturada da América
That Mickey Mouse has grown up a cow.
que o Mickey Mouse virou uma puta.
Now the workers have struck for fame
Agora os trabalhadores atacam por fama
'Cause Lennon's on sale again.
Porque "Lennon" esta à venda de novo.
See the mice in their million hordes
Veja os ratos em suas milhões de hordas
From Ibeza to the Norfolk Broads.
De Ibeza até Norfolk Broads.
Rule Britannia is out of bounds
Dominar Britania está além dos limites
To my mother, my dog, and clowns,
Para a minha mãe, meu cachorro e palhaços,
But the film is a sadd'ning bore
Mas o filme é tragicamente tedioso
'Cause I wrote it ten times or more.
Porque eu o escrevi dez vezes ou mais
It's about to be write again
Está prestes a ser escrito de novo
As I ask you to focus on
Enquanto eu peço que você se concentre


Sailors
Marinheiros

Fighting in the dance hall.
Brigando no salão de dança.
Oh man!
Oh, cara!
Look at those cavemen go.
Olhe aqueles primitivos irem.
It's the freakiest show.
É o show das loucuras.
Take a look at the lawman
Dê uma olhada no juiz
Beating up the wrong guy.
Espancando o cara errado.
Oh man!
Oh, cara!
Wonder if he'll ever know
Imagino se ele vai saber
He's in the best selling show.
Que ele está no melhor show comercial.
Is there life on Mars?
Existe vida em Marte?"

Embora minha tradução porca tenha deturpado a música do gênio do rock pop e estrela do andrógino, David Bowie, o intuito foi apenas um.

Apesar da letra não ter frases concisas, não seria nossa vida, um show comercial?

Acho essa música excelente na crítica que ela se propõe, mas é preciso um cuidado especial ao lê-la.

O desafio dos desafios

"Vestibular

Paulo Roberto Parreiras
desapareceu de casa.
Trajava calças cinza e camisa branca
e tinha dezesseis anos.
Parecia com teu filho, teu irmão,
teu sobrinho, parecia
com o filho do vizinho
mas não era. Era Paulo
Roberto Parreiras
que não passou no vestibular.

Recebeu a notícia quinta-feira à tarde,
ficou triste
e sumiu.
De vergonha? de raiva?
Paulo Roberto estudou
dura duramente
durante os últimos meses
Deixou de lado os discos,
o cinema,
até a namoradinha ficou dias sem vê-lo,
Nem soube do carnaval.
Se ele fez bem ou mal
não sei: queria
passar no vestibular.
Não passou. Não basta
estudar?

Paulo Roberto Parreiras
a quem nunca vi mais gordo,
onde quer que você esteja
fique certo
de que estamos do seu lado.

Sei que isso é muito pouco
para quem estudou tanto
e não foi classificado (pois não há mais
excedentes), mas
é o que lhe posso oferecer: minha palavra
de amigo
desconhecido.
Nesta mesma quinta-feira
em Nova York morreu
um menino de treze anos que tomava entorpecentes.
Em São Paulo, outro garoto
foi preso roubando um carro.
E há muitos outros que somem
ou surgem como cometas ardendo em sangue, nestas noites,
nestas tardes,
nestes dias amargos.

Não sei pra onde você foi
nem o que pretende fazer
nem posso dizer que volte
para casa,
estude (mais?) e tente outra vez.
Não tenho nenhum poder,
nada posso assegurar.
Tudo que posso dizer-lhe é que a gente não foge
da vida,
é que não adianta fugir
Nem adianta endoidar.
Tudo o que posso dizer-lhe
é que você tem o direito de estudar.
É justa a sua revolta:
seu outro vestibular."

Ferreira Gullar.

Morin, sim, Edgar Morin, defende uma escola diferente. Mestres diferentes, alunos pensantes, principalmente no livro Cabeça Bem-Feita.

Agora, com a poesia de Gullar, me indago se a luta por essa outra educação, passando pelos moldes da de hoje e sua reprovação com outras, vale a pena (...).