segunda-feira, 30 de abril de 2007

Sobre os demais seminários do bimestre

Mini-seminário do Grupo 3, dedicado ao Estudo do Método, de René Descartes: houve a escolha do tema de racismo. A abordagem tendeu por um ponto de vista diferente do convencional, mostrando repressões existentes hoje em dia por parte dos antes reprimidos, os negros, por exemplo. No entanto, apesar de muito bem apresentado pelas cenas de filmes como Mississipi em Chamas e piadas de humor negro, a sala não aprovou, especialmente, quando houve a menção de um "Dia do Orgulho Branco" ou as represálias que existem dos que se sentem "orgulhosos" de uma história de repressão. Embora não abordassem por um filósofo em si, o tema provocou tanta curiosidade e polêmica da sala que é filosófico em si.

Seminário de Apologia de Sócrates, de Platão, feita pelo Grupo I: fizeram uma abordagem minunciosa dos fatores históricos gregos que contextualizam o filósofo mestre de Platão, compararam com a célebre obra de Sófocles, Edipo Rei, para explicar como os gregos trataram da tragédia e da crítica. Deixaram a cargo da classe a opção por explicações segundo a Logos ou Mito e demonstraram como surgiu a filosofia propriamente dita por Sócrates. Foi um seminário que tratou com amplitude e detalhe a importância escrita da obra.

Quanto ao nosso seminário, do grupo 4, fizemos sobre "A Proposta de Televisão Estatal: Um estudo sobre comunicação", relacionada com o projeto promovido pelo ministro Hélio Costa. Exibimos vídeos presentes nesse blog, como o discurso de Adolf Hitler para representar a dissimulação promovida por um Estado e as entrevistas com Laurindo Lalo Filho, que fala sobre a BBC e como ela funciona efetivamente no Reino Unido. Não farei críticas à respeito, acho que os demais blogs de nossa sala podem fazer isso. Mas deixo aqui minha impressão sobre os seminários, carregada de outras impressões de membros desse grupo.

sexta-feira, 27 de abril de 2007

Ser pai e ser mãe

"Bebê morto esquecido em carro pelo pai é enterrado em Guarulhos

O corpo do menino de um ano e quatro meses que morreu na quinta-feira (12), em Guarulhos (Grande São Paulo), ao ser esquecido pelo pai dentro de um carro foi enterrado por volta das 9h30 desta sexta-feira no cemitério Memorial, no Jardim Diogo.
De acordo com a Polícia Civil, o menino ficou ao menos cinco horas dentro do carro da família depois de ter sido esquecido pelo pai, o biólogo Ricardo César Garcia, 31. Depois de tentar socorrer o filho, Garcia foi preso em flagrante por homicídio culposo (sem intenção). Ele pagou fiança e foi liberado.
Em depoimento, o pai disse que saiu com a criança para deixar a mulher no trabalho, às 7h de quinta-feira. Quando chegou em casa, no bairro Jardim Macedo, ele passou mal e dormiu até as 12h, quando ligou para a mulher. Questionado sobre o bebê, ele percebeu que o havia esquecido dentro do carro, na garagem do prédio em que a família mora."

13 de abril de 2007, 09h48. Publicado na Folha Online.

Displicência ou acidente?

Há alguns dias, estava muito presente na mídia, o caso do pai que esqueceu o filho em seu carro, durante tanto tempo que o mesmo veio a falecer. Apesar da efemeridade extrema dos assuntos nos meios de comunicação, algo ainda chama atenção : Afinal o que dizer sobre uma notícia verdadeiramente tão bizarra e tão trágica?
Muitos pesquisadores e psicólogos entrevistados deram depoimentos a favor do pai, dizendo que se tratava de algo não tão anormal. Os especialistas justificaram afirmando que quando uma pessoa acaba saindo de sua rotina, como foi o caso, esquece de muitas coisas, até de extrema importância, como um filho.
Mas mesmo com o aval desses profissionais ainda resiste a pergunta: Será mesmo que se trata de algo comum assim?
Disso não se tem ainda certeza absoluta, mas algo que é muito certo é o fato de que muitos pais nunca cometeram esquecimentos desse tipo. Assim como é também clara, a total desvalorização da paternidade atualmente, pois hoje é tão comum observar pais irresponsáveis e imprudentes, que na verdade nunca pensaram no verdadeiro significado de ter um filho.
Com a existência de pais cada dia menos conscientes, deixaram de pensar no fato de que uma criança tem a maioria de suas noções de mundo, de seus conceitos, de seus sentimentos e de si mesma a partir de seu ciclo familiar, como diz a Sociologia. Esqueceram-se então, como um todo, da imensa responsabilidade que é criar uma criança.
Não se trata de fazer aqui uma caça as bruxas ou de usar a situação, citada anteriormente, como um exemplo para pregar com demagogia a moralidade, assim como grande parte da mídia fez.Afinal, todos somos humanos e até psicólogos apoiaram esse pai nesse caso.
É sim, uma reflexão necessária não para julgar, mas para que se veja a imagem da paternidade hoje. E entender que as pessoas, atualmente, não têm noção do que ela realmente significa. E assim, para concluir tristemente, que talvez essa displicência com “o ser pai” ou com “o ser mãe” seria diferente, se esses tivessem lido um tratado de Sociologia, ou algum texto de Filosofia ou até, quem sabe, “Memórias Póstumas de Brás Cubas”.

Por Luca Contro

segunda-feira, 23 de abril de 2007

Vários modos de "ver o século XX"

"Nós que Aqui Estamos... estamos custou apenas R$ 140 mil, e foi o grande vencedor do Festival de Recife com os prêmios de melhor filme, roteiro e montagem, além de ganhar a competição internacional do festival de documentários É Tudo Verdade."

Fonte: ZAZ Cinema.

Também relembrando coisas da época de colegial, esse filme, Nós que aqui estamos por vós esperamos, de Marcelo Masagão, forneceu através da forma simples de amostragem de imagens, como um documentário, e uma trilha sonora elaborada por Wim Merthens, as fortes passagens desse século marcado por angústia, frustrações e transformações drásticas.

Assisti esse filme após algumas aulas introdutórias das teorias de Sigmund Freud, médico influente na criação da psicanálise, na criação do pensamento que deixou de focar apenas em grandes massas, dando um maior estudo individual. Outra fonta de inspiração para o autor do filme de fotografias, filmagens e música foi o historiador Eric Hobsbawn, que estamos estudando em História Contemporânea. Marcelo constrói o filme não numa linearidade tradicional ou numa seqüência desmembrada: ele valoriza idéias e imagens que, de alguma maneira, se manifestam mais ou menos como os sonhos. A própria introdução do filme nos remete à um sono que estamos tendo, com um despertar que nos leva a refletir.

Inspirado no nome de um cemitério, o nome do filme flui bem para a reflexão sobre os "fantasmas" que rechearam esse século maluco em inúmeros aspectos. Ele faz uma ponte filosófica semelhante ao que nós, alunos da Cásper, fazemos em nossos blogs: partem dos pressupostos e pensamentos de Hobsbawn e Freud e estabelecem uma ligação com os fatos. O filme não possui o mesmo compromisso jornalístico que teremos em nossas carreiras, mas é uma produção audiovisual criativa para nosso crescimento individual, em especial na crítica.

sábado, 21 de abril de 2007

Casca

Essa semana, presenciei um fato que me fez pensar o que é nossa sociedade, senão uma grande peça de teatro, onde todos, sem exceção, procuram representar para si e principalmente para os outros um personagem que lhes seja conveniente. Passando em uma das travessas da Avenida Paulista, vi um executivo doando algumas moedinhas para uma senhora e duas menininhas que estavam pedindo nas ruas. Ao perceber que o executivo doaria, ainda que pouco, alguma quantia, uma das garotas não resistiu e levantou-se, correndo para perto dele, com as mãos posicionadas como as de quem vai receber a hóstia, antes do engravatado completar a sua boa ação. Até aí, seria mais uma cena comum, se não viesse o sermão da mãe: "Filha, você não pode fazer isso! Quando alguém vier entregar o dinheiro, você tem que esperar sentada, não dá para sair correndo assim!!"

Nesse mundo classe média do qual fazemos parte, como bem ilustrou o Paulo com a música "Classe Média", estamos acostumados com esse jogo de aparências, mas realmente me espantou a consciência da senhora, de que ela também tem que tratar de sua "casca", caso contrário a sua stituação poderia piorar (na hora, fiquei revoltado, mas depois percebi que a sua atitude era necessária dentro do triste contexto em que está situada).

Para ilustrar um pouco como vivemos neste mundo de aparências e ilusões cultivadas por nós mesmos, eis abaixo uma música de Tiago Bettencourt, do grupo português Toranja (que se apresentou no Brasil em junho do ano passado, abrindo os shows do Los Hermanos), chamada "Casca":

Continuamos a tratar da casca
Continuamos a moldar a casca
Continuamos a remar de costas
E a provar águas quase mortas
A viver ruas já pisadas
A levar pedras já usadas
Num saco meio roto
Num saco meio morto

Tentamos não manchar a casca
P'ra fazer brilhar a casca
Tentamos não parar de costas
Tentamos não falhar respostas
Que nunca nos vejam de fora!!
É para nós que o mundo adora
Passos de dança no chão
É para nós que os olhos olham.

Casca é o tempo que dói,
a janela fechada que estilhaça quando se olha p'ra trás...
Vento é o que bate na cara
É só largar a casca,
Ninguém olha pr'a trás.

Tentamos disfarçar demónios
Por medo desviamos olhos
Por fuga apagamos fogos
Por escudos renascemos novos
Sem rasto esquecemos lábios
Altivos, rastejamos, sábios
Cada vez mais fundo
No buraco do mundo

Com força agarra-se a casca
Que é só o que nos resta
Que o mastro derreteu
Mais, tudo encolheu
Quisemos testar barreiras
E construímos teias
Difíceis de romper
Aqui ficamos presos na...

Casca é tempo que dói
É janela fechada que estilhaça quando se olha para trás..
Vento é o que bate na cara
É só largar a casca!!
Ninguém olha para trás!

quinta-feira, 19 de abril de 2007

É, Freud explica.

"Vídeo de atirador assusta estudantes da universidade
Por Andrea Hopkins


BLACKSBURG (Reuters) - Estudantes manifestaram aversão e descrença diante das fotos e do vídeo raivoso enviado a um rede de televisão pelo homem que massacrou 32 pessoas na universidade Virginia Tech.
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As imagens e o longo monólogo, cheio de paranóia e sentimentos de perseguição, mostram uma visão diferente de Cho, de 23 anos, que era descrito pelos professores e por outros estudantes como um rapaz quieto e reservado.
"Ele não pára -- isso deve ser mais do que falou em toda a vida", disse Jeremiah. "Pensei, bem, 'ele sabe falar'."
Devin Cornwall, 19, que viu a fita em um dormitório com dois amigos, disse que o ódio do atirador contra crianças ricas não faz sentido.
"Para mim, isso não representa nenhum estudante da Tech que eu conheça. Eu sempre acho que somos um lugar de assalariados", disse Cornwall.
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"Vocês achavam que estavam acabando com a vida de um menino patético. Agradeço a vocês por morrer como Jesus Cristo, para inspirar gerações de fracos e indefesos.""

Mesma fonte, MSN Notícias. Quinta-feira, 19 de abril de 2007, 09:25.

Agora sim me proclamo para fazer uma reflexão. De fato, Freud explica pela psicanálise no processo de paranóia as ações desmedidas de um indivíduo obsecado por um objeto que desencadeia um fato. O menino usou da posição social para autorizar o assassinato de seus colegas, de seus amigos até. Fez uso de seu id, seu instinto, mas de uma forma consciente, alarmante. Talvez o único lado inconsciente de sua atrocidade seja o fato de que, ele, como estrangeiro, se sentia frustrado diante dos demais americanos.
Isso não constrói um quadro mais agravante do que a situação da Guerra no Iraque, nem mais aterrorizante do que a situação africana. Mas, mesmo assim, uma mente de um estudante universitário conseguiu se firmar a ponto de sacrificar pessoas contra uma desigualdade que existe, talvez não como ele tenha dito nos vídeos, mas existente mesmo assim.
Podemos constituir essa análise para avaliar também como ocorreu o 11 de setembro, onde Osama Bin Laden justificou a morte de 3.000 pessoas pela religiosidade. O próprio presidente George W. Bush, ao autenticar as perseguições "aos terroristas" age com a mesma precipitação do estudante. Agressividade e dissociação em cadeia? Paranóia coletiva?

terça-feira, 17 de abril de 2007

Freud explica...?

A polêmica do filme Tiros em Columbine, de Michael Moore, mostrando a monstruosidade da sociedade americana, ficou "no chinelo" após acontecimentos recentes nos Estados Unidos da América.
Não vou fazer nenhuma reflexão ou aprofundamento, mas...
O psicanalista Sigmund Freud, que criou a análise, explica isso?
Que pensamento ou filosofia explicaria esse fato?

Matéria do MSN Notícias de terça-feira, 17 de abril de 2007, 11:07.


"Atirador de universidade dos EUA era sul-coreano

BLACKSBURG, EUA (Reuters) - O atirador que matou 32 pessoas e depois se suicidou na Universidade Virginia Tech, na segunda-feira, foi identificado pela polícia como Cho Seung-Hui, um sul-coreano que estudava na instituição.
A polícia afirmou, nesta terça-feira, que ele tinha 23 anos e que uma das duas armas recuperadas foi usada nos dois tiroteios no campus.
"A evidência não nos leva a dizer com toda certeza que o mesmo atirador estava envolvido nos dois tiroteios", disse em entrevista à imprensa Steven Flaherty, superintendente da polícia do Estado de Virgínia.
"É certamente razoável para nós assumirmos que Cho foi o atirador em ambos os lugares."
Na terça-feira, a polícia e dirigentes da universidade viram-se pressionados para explicar como um homem armado, após ter assassinado duas pessoas, conseguiu escapar para matar outras 30, duas horas mais tarde, no pior massacre do tipo já ocorrido nos EUA.
O agressor acabou se suicidando em uma classe da universidade depois de abrir fogo contra estudantes e funcionários, em um ataque aparentemente premeditado e realizado na manhã de segunda-feira, deixando o campus mergulhado em pesar e choque.
"Nem sei se algum dos meus amigos foi morto porque foi muito difícil entrar em contato com as pessoas na noite passada", afirmou na terça-feira de manhã Brittany Jones, 19, uma estudante da universidade.
"Mas, mesmo que não haja, isso não seria menos triste. A gente não espera que isso vá acontecer na escola da gente. Eram apenas garotos", afirmou enquanto assistia a exercícios realizados pela guarda militar da universidade antes das aulas.
O presidente dos EUA, George W. Bush, e a mulher dele, Laura Bush, devem comparecer a uma cerimônia a ser realizada na universidade à tarde.
Imagens de TV mostrando os estudantes aterrorizados e a polícia arrastando corpos ensanguentados lembraram o massacre na escola de Columbine, em 1999, e reacenderam o debate sobre as leis de controle de armas no país.
A polícia afirmou que o agressor parecia ter usado correntes para trancar as portas, impedindo as vítimas de escapar. Além dos mortos, 15 pessoas ficaram feridas, entre as quais os que receberam tiros e os que se machucaram pulando de janelas para fugir do tiroteio."

Plano Marshall Montezuma

Não pretendo fazer nenhuma reflexão filosófica hoje, mas achei interessante esse texto para pensarmos sobre a imporância da América Latina e o quanto é justa ou injusta a dívida que possuímos.

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DISCURSO DO EMBAIXADOR MEXICANO
Um discurso feito pelo embaixador Guaicaípuro Cuatemoc, de descendência indígena, sobre o pagamento da dívida externa do seu país, o México, embasbacou os principais chefes de Estado da Comunidade Européia.

A conferência dos chefes de Estado da União Européia, Mercosul e Caribe, em Madri, viveu um momento revelador e surpreendente: os chefes de Estado europeus ouviram perplexos e calados um discurso irônico, cáustico e de exatidão histórica que lhes fez Guaicaípuro Cuatemoc.

Eis o discurso:
"Aqui estou eu, descendente dos que povoaram a América há 40 mil anos, para encontrar os que a "descobriram" só há 500 anos. O irmão europeu da aduana me pediu um papel escrito, um visto, para poder descobrir os que me descobriram. O irmão financista europeu me pede o pagamento - ao meu país- , com juros, de uma dívida contraída por Judas, a quem nunca autorizei que me vendesse. Outro irmão europeu me explica que toda dívida se paga com juros, mesmo que para isso sejam vendidos seres humanos e países inteiros sem pedir-lhes consentimento. Eu também posso reclamar pagamento de juros.
Consta no "Arquivo da Cia. das Índias Ocidentais" que, somente entre os anos 1503 e 1660, chegaram a São Lucas de Barrameda 185 mil quilos de ouro e 16 milhões de quilos de prata provenientes da América.
Teria sido isso um saque? Não acredito, porque seria pensar que os irmãos cristãos faltaram ao sétimo mandamento! Teria sido espoliação? Guarda-me Tanatzin de me convencer que os europeus, como Caim, matam e negam o sangue do irmão.
Teria sido genocídio? Isso seria dar crédito aos caluniadores, como Bartolomeu de Las Casas ou Arturo Uslar Pietri, que afirmam que a arrancada do capitalismo e a atual civilização européia se devem à inundação de metais preciosos tirados das Américas.
Não, esses 185 mil quilos de ouro e 16 milhões de quilos de prata foram o primeiro de tantos empréstimos amigáveis da América destinados ao desenvolvimento da Europa. O contrário disso seria presumir a existência de crimes de guerra, o que daria direito a exigir não apenas a devolução, mas indenização por perdas e danos.
Prefiro pensar na hipótese menos ofensiva. Tão fabulosa exportação de capitais não foi mais do que o início de um plano "MARSHALL MONTEZUMA", para garantir a reconstrução da Europa arruinada por suas deploráveis guerras contra os muçulmanos, criadores da álgebra e de outras conquistas da civilização.
Para celebrar o quinto centenário desse empréstimo, podemos perguntar: Os irmãos europeus fizeram uso racional responsável ou pelo menos produtivo desses fundos?
Não. No aspecto estratégico, dilapidaram nas batalhas de Lepanto, em navios invencíveis, em terceiros reichs e várias formas de extermínio mútuo. No aspecto financeiro, foram incapazes, depois de uma moratória de 500 anos, tanto de amortizar o capital e seus juros quanto independerem das rendas líquidas, das matérias-primas e da energia barata que lhes exporta e provê todo o Terceiro Mundo.
Este quadro corrobora a afirmação de Milton Friedman, segundo a qual uma economia subsidiada jamais pode funcionar e nos obriga a reclamar-lhes, para seu próprio bem, o pagamento do capital e dos juros que, tão generosamente, temos demorado todos estes séculos em cobrar. Ao dizer isto, esclarecemos que não nos rebaixaremos a cobrar de nossos irmãos europeus, as mesmas vis e sanguinárias taxas de 20% e até 30% de juros ao ano que os irmãos europeus cobram dos povos do Terceiro Mundo.
Nos limitaremos a exigir a devolução dos metais preciosos, acrescida de um módico juro de 10%, acumulado apenas durante os últimos 300 anos, com 200 anos de graça. Sobre esta base e aplicando a fórmula européia de juros compostos, informamos aos descobridores que eles nos devem 185 mil quilos de ouro e 16 milhões de quilos de prata, ambas as cifras elevadas à potência de 300, isso quer dizer um número para cuja expressão total será necessário expandir o planeta Terra.
Muito peso em ouro e prata... quanto pesariam se calculados em sangue?
Admitir que a Europa, em meio milênio, não conseguiu gerar riquezas suficientes para esses módicos juros, seria como admitir seu absoluto fracasso financeiro e a demência e irracionalidade dos conceitos capitalistas.
Tais questões metafísicas, desde já, não inquietam a nós, índios da América. Porém, exigimos assinatura de uma carta de intenções que enquadre os povos devedores do Velho Continente e que os obriguem a cumpri-la, sob pena de uma privatização ou conversão da Europa, de forma que lhes permitam entregar suas terras, como primeira prestação de dívida histórica..."

Quando terminou seu discurso diante dos chefes de Estado da Comunidade Européia, Guaicaípuro Guatemoc não sabia que estava expondo uma tese de Direito Internacional para determinar a Verdadeira Dívida Externa.
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E a nossa dívida?
O que o Brasil deve fazer?
Devemos aumentar os impostos, enxugar o orçamento e pagar logo de uma vez para escapar dos juros?
Devemos continuar pagando pequenas e choradas prestações infinitas??
Declarar moratória??
Cobrar de Portugal todo o ouro que o Império levou?

Alienações da vida

Aproveitando que nosso colega Rodrigo expôs um texto que o ajudou em suas decisões, coloco aqui uma letra de música que tive a felicidade de conhecer no ano passado. Ela resultou em importantes reflexões sobre meu papel e posição na sociedade, ajudando muito em uma época que foi importante para decidir os rumos de minha vida, como vestibulando.

Classe média, de Max Gonzaga

"Sou classe média
Papagaio de todo telejornal
Eu acredito
Na imparcialidade da revista semanal
Sou classe média
Compro roupa e gasolina no cartão
Odeio "coletivos"
E vou de carro que comprei a prestação
Só pago impostos
Estou sempre no limite do meu cheque especial
Eu viajo pouco, no máximo um pacote cvc tri-anual
Mais eu "to nem ai"
Se o traficante é quem manda na favela
Eu não "to nem aqui"
Se morre gente ou tem enchente em itaquera
Eu quero é que se exploda a periferia toda
Mas fico indignado com estado quando sou incomodado
Pelo pedinte esfomeado que me estende a mão
O pára-brisa ensaboado
É camelo, biju com bala
E as peripécias do artista malabarista do farol
Mas se o assalto é em moema
O assassinato é no "jardins"
A filha do executivo é estuprada até o fim
Ai a mídia manifesta a sua opinião regressa
De implantar pena de morte, ou reduzir a idade penal
E eu que sou bem informado concordo e faço passeata
Enquanto aumenta a audiência e a tiragem do jornal
Porque eu não "to nem ai"
Se o traficante é quem manda na favela
Eu não "to nem aqui"
Se morre gente ou tem enchente em itaquera
Eu quero é que se exploda a periferia toda
Toda tragédia só me importa quando bate em minha porta
Porque é mais fácil condenar quem já cumpre pena de
vida"

Faço aqui um pequeno ressalto para a reflexão de um trecho do ultimo verso: "pena de vida"
Sugiro que assistam ao clipe:

sexta-feira, 13 de abril de 2007

O Buscador

Esses dias, estive relendo algumas coisas originalmente lidas no ano passado, quando decidi mudar o rumo da minha vida, e que de certa forma me ajudaram a estar aqui, postando no blog de um grupo de estudantes de Jornalismo da Cásper Líbero. Uma das coisas que li foi um conto, do argentino Jorge Bucay, e que decidi agora traduzir para o Português (livremente, já que não há traduções deste texto). Espero que aproveitem a mensagem.

"O buscador

Esta é a história de um homem que eu definiria como um buscador...
Um buscador é alguém que busca, não necessariamente alguém que encontra.
Tampouco é alguém que, necessariamente, sabe aquilo que está buscando, é simplesmente alguém para quem sua vida é uma busca.
Um dia, o buscador sentiu que devia ir até a cidade de Kammir. Ele havia aprendido a valorizar estas sensações que vinham de um lugar desconhecido de si mesmo, então deixou tudo e partiu.
Depois de dois dias de marcha pelos empoeirados caminhos, enxergou, ainda distante, Kammir. Um pouco antes de chegar à cidade, uma colina à direita do caminho chamou muito a sua atenção. Era coberta de um verde maravilhoso e havia diversas árvores, pássaros e flores encantadoras; era rodeada por todos os lados de uma espécie de pequena cerca de madeira lustrada.
... Um portãozinho de bronze o convidava a entrar.
Prontamente, sentiu que esquecia da cidade e sucumbiu à tentação de descansar por um momento nesse lugar.
O buscador atravessou o portão e começou a caminhar lentamente entre as pedras brancas que estavam distribuídas como que ao acaso, entre as árvores.
Deixou que seus olhos pairassem como mariposas em cada detalhe deste paraíso multicolorido.
Seus olhos eram os de um buscador, e talvez por isso descobriu, sobre uma das pedras, aquela inscrição:


Abdul Tareg, viveu 8 anos, 6 meses, 2 semanas e 3 dias


Surpreendeu-se um pouco ao se dar conta de que essa pedra não era simplesmente uma pedra, era uma lápide.
Sentiu pena ao pensar que uma criança de tão pouca idade estava enterrada nesse lugar.
Olhando ao seu redor, o homem se deu conta de que a pedra ao lado também tinha uma inscrição. Aproximou-se dela para ler a inscrição, que dizia:


Yamir Kalib, viveu 5 anos, 8 meses e 3 semanas,



O buscador sentiu-se terrivelmente comovido.
Este lindo lugar era um cemitério e cada pedra, uma tumba.
Uma a uma, começou a ler as lápides.
Todas tinham inscrições similares: um nome e o tempo de vida exato do morto.
Mas o que realmente lhe causou espanto, foi comprovar que quem mais tempo tinha vivido ultrapassava apenas os 11 anos....Embargado por uma terrível dor, o buscador sentou-se e pôs-se a chorar.
O cuidador do cemitério passava por ali e se aproximou. Observou o buscador chorar por um momento em silêncio e logo lhe perguntou se ele chorava por algum familiar.
- Não, nenhum familiar - disse o buscador - mas o que acontece com este povo? Que coisa tão terrível há nesta cidade? Por que tantas crianças mortas enterradas neste lugar? Qual é a horrível maldição que recai sobre esta gente, que lhes obrigou a construir um cemitério infantil?!!!
O ancião sorriu e disse:
- Você pode ficar tranquilo. Não existe tal maldição. O que acontece é que aqui temos um velho costume. Vou lhe contar...
Quando um jovem completa quinze anos, seus pais lhe presenteiam com um caderninho, como este que tenho aqui, carregando no pescoço.
E é tradição entre nós que a partir daquele momento, cada vez que alguém desfruta intensamente de alguma coisa, abre o caderninho e anota nele:


À esquerda, o que desfrutou...
À direita, quanto tempo durou o gozo.


Conheceu sua noiva, e se apaixonou por ela. Quanto tempo durou essa paixão enorme e o prazer de conhecê-la? Uma semana? Duas? Três semanas e meia?....
E depois... a emoção do primeiro beijo, o prazer maravilhoso do primeiro beijo, quanto durou? O minuto e meio do beijo? Dois dias? Uma semana?....
E a gravidez ou o nascimento do primeiro filho...?
E o casamento dos amigos...?
E a viagem mais desejada...?
E o encontro com um irmão que volta de um país distante?
Quanto tempo durou o desfrutar destas situações?... Horas, dias?....
Assim...vamos anotando no caderninho cada momento que desfrutamos...cada momento.
Quando alguém morre,
é nosso costume,
abrir seu caderninho
e somar o tempo desfrutado,
para escrevê-lo sobre sua tumba,
porque Esse é, para nós,
o único e verdadeiro tempo VIVIDO."

quarta-feira, 11 de abril de 2007

Música de morte

Diversas vezes o escritor e historiador egípcio, Eric J.Hobsbawn, cita em seu livro, "Era dos Extremos - o Breve Século XX", a Primeira e a Segunda Guerras Mundiais como "conflitos democratizados". No primeiro capítulo, "A era da guerra total", ele explicita pontos como quando essas batalhas tiveram massacres programados, quais foram as reações dos países afetados e também como, paradoxalmente, houve desenvolvimento humano no período. E na Guerra Fria isso não seria diferente, mesmo com as péssimas recordações relatadas por Hobsbawn em seu livro.
Megadeath, ou "Mega-mortes", para quem não sabe, é uma medida para mortes no número de um milhão de pessoas. Foi criada durante a II Guerra Mundial, no contexto do lançamento das bombas nucleares e está sendo citada nas aulas do professor José Augusto Jr, de História Contemporânea na Cásper Líbero.

Para ilustrar, uma letra, com tradução: In the flesh, Pink Floyd

"So ya
Então você
Thought ya
Pensou que
Might like to go to the show
Gostaria de ir ao show
To feel the warm thrill of confusion
Para sentir a quente emoção da confusão
That space cadet glow
Aquele ardor de uma estrela cadente
I've got some bad news for you sunshine
Eu tenho algumas notícias ruins para você querido
Pink isn't well he stayed back at the hotel
Pink não está bem, ele ficou no hotel
And they sent us along as a surrogate band
E eles nos mandaram pra cá com uma banda substituta
And we're going to find out where you fans
Nós vamos descobrir o quanto fãs vocês
Really stand
Realmente são
Are there any queers in the theatre tonight
Há alguma bicha no teatro esta noite?
Get 'em up against the wall
Ponha-os contra o muro!
Now that one in the spotlight, he don't look right to me
Agora aquele na luz do holofote, ele não parece bem pra mim
Get him up against the wall
Ponha-o contra o muro!
That one looks Jewish
Aquele parece ser judeu!
And that one's a coon
E aquele é um negro!
Who let all this riff raff into the room
Quem deixou toda essa escória entrar?
There's one smoking a joint and
Tem alguém fumando maconha
Another with spots
E outro com manchas!
If I had my way
Se eu os tivesse na minha frente
I'd have all of you shot
Eu fuzilaria todos vocês!"

Essa música é a abertura e contém reprise no album The Wall, da banda de rock progressivo Pink Floyd, lançado em 1979. Na época, as músicas deles causaram polêmica por criticar regimes totalitários, massacres, o Muro de Berlim e a situação global na Guerra Fria, o pós-II Guerra.

Ao invés de fazer uma extensa reflexão, irei apenas citar duas frases de um importante cientista, físico, mas também filósofo da conteiporaneidade e da II Guerra Mundial, Albert Einstein:

"O irracional respeito à autoridade é o maior inimigo da verdade."
"Há duas coisas infinitas: o Universo e a tolice dos homens."

Apresentação da música In the flesh num show em 1980:

Necessidade de governos?


Discurso de Adolf Hitler para a juventude nazista (com legendas em português) exibido no mini-seminário de nosso grupo, o número 4 (aqui está na íntegra).

A escolha desse vídeo ocorreu, além da discussão sobre manipulação na comunicação do seminário, para a comparação do poder vigente, das ditaduras passadas e das medidas que um governante se vale.

Hitler foi famoso pelo Holocausto, a matança desenfreada de judeus para a "purificação da raça" na nação, na Segunda Guerra Mundial, um ato reprovável. No entanto, como o discurso explicita bem, uma das bases da confiança de seu povo eram as promessas de uma "Alemanha forte, destemida" frente à crise que assolou o país após o Tratado de Versalhes, que marcou sua depressão econômica do pós-I Guerra.

Um filósofo com quem podemos fazer uma relação para explicar esse fenômeno é o inglês Thomas Hobbes. Ele justificou, principalmente em sua obra de maior repercussão, "Leviatã", a necessidade de uma ordem superior para coordenar a sociedade. No livro, Leviatã é um monstro que se ergue quando não há relacionamento estável entre os indivíduos, "estado de sociedade", quando estão em "estado de natureza". Conceitos que acabam por integrar o Iluminismo, o racionalismo e o pensamento vindo de René Descartes, Hobbes autentica o poder autoritário que visa a igualdade entre seus patriotas. Não teria Hitler, combatendo a inflação descomunal na Alemanha com mortes em série, integrado os ensinamentos do inglês? O pensamento dualista, embora útil em muitos momentos quando o relativismo pecou por sua hesitação, atingiu seu ápice no regime nazista?


A criação de sistemas pela sociedade é um fenômeno comum na sociologia tanto clássica quanto a contemporânea. No entanto, tratar o governo como uma necessidade, um bem que nenhum de nós pode conceber não é renunciar aos nossos próprios direitos, independente de viver ou não num regime democrático? Divinizar a imagem do governante não favorece déspotas como na Revolução Francesa? (que elegeu outro tirano chamado Napoleão Bonaparte, um paradoxo na história francesa no ponto de vista das lutas populares)

Juntamente com o filósofo italiano Maquiável, Thomas Hobbes constitui a parte de pensadores iluministas e racionalistas que pensaram na autenticação do poder absoluto, das instituições funcionando em torno de um indivíduo físico. Quando o governo brasileiro tem seus casos de corrupção, mensalão e similares, isso não seria uma manifestação, não total porque os filósofos defendiam o bem social pelos líderes, desse desejo absolutista e, talvez, aproveitador no governo? Até onde, em qualquer lugar do mundo, rendemos nossas vontades ao governante, a uma ideologia dita "para o povo" e consolidada em alguns poucos? Não se trata de um questionamento sobre revolução ou não, mas sobre como se baseiam, talvez, algumas das maiores tiranias da humanidade.

sexta-feira, 6 de abril de 2007

"Sofismas" nas declarações do governo


Esses dois vídeos foram outro fruto de um trabalho de filmagem feito por mim, Pedro de Araújo, e Karina Gomes novamente fez as entrevistas. O evento foi "Sempre um Papo", promovido pelo SESC-Paulista no dia 4 de abril para a divulgação do livro "Videologias", trabalho de Eugênio Bucci e da psicanalista Maria Rita Kehl. Interessante a fala de Eugênio Bucci, presidente do orgão público de comunicação Radiobrás, sobre as declarações governamentais sobre a emissora estatal. É um "não projeto", conforme dito por Fraklin Martins, encarregado da iniciativa. Fazendo um paralelo filosófico, podemos dizer que o governo então age como os sofistas gregos.

Sofisma, nome dado ao raciocínio lógico, mas inconclusivo, foi fortemente criticado por Sócrates e por seus discípulos: Platão e, mais posteriormente, Aristóteles. Com pensamentos aparentemente válidos, os sofistas vendiam tal conhecimento para que seus discípulos pudessem convencer as grandes massas com sua linha discursiva altamente desenvolvida. Górgias de Leotini, por exemplo, conseguia provar pela sua linha de pensamento a não existência do ser, pois ele não pode ser captado pelo pensamento. Não estaria o governo, com o projeto de Hélio Costa, tentando convencer as massas após retirar boa parte de suas declarações pelas críticas? Qual é a real intenção por detrás das palavras? Eugênio Bucci, no segundo vídeo, já não faz um trabalho de comunicação satisfatório com a Radiobrás ou seria necessária outra emissora?

quarta-feira, 4 de abril de 2007

Quando começa a vida humana?

No dia 20 de Abril, o Supremo Tribunal Federal irá, pela primeira vez em sua história, ouvir um conselho de especialistas antes de tomar uma decisão. E o tema da discussão não poderia ser mais polêmico: podemos usar células-tronco embrionárias para pesquisas científicas?
Células-tronco são células indiferenciadas, que podem, em teoria, substituir células de todos os tecidos, o que poderia possibilitar a cura de inúmeras doenças e revolucionar a medicina. Essas células podem ser encontradas em tecidos adultos e em embriões. Porém, as células retiradas de tecidos adultos podem se transformar em um número limitado de tecidos, o que explica o interesse pela pesquisa com células embrionárias, que poderiam se diferenciar em qualquer tipo de célula. Mas há um grande problema ético na pesquisa com células-tronco embrionárias: a retirada dessas células causa a morte do embrião.
Atualmente, essas pesquisas são permitidas no Brasil. A Lei de Biossegurança, aprovada no Congresso em 2005, após um debate entre setores da sociedade, permite o uso de células-tronco de embriões humanos produzidos por fertilização in vitro e não utilizados, desde que sejam inviáveis ou congelados há mais de três anos, com o consentimento dos genitores. No entanto, muitos argumentam que um embrião é um ser humano, e é portanto, protegido pelo artigo 5º da Constituição, que garante a “inviolabilidade do direito à vida”. Mas um embrião pode ser considerado um ser humano? Afinal, quando começa a vida humana? Essa questão é altamente complexa, não tendo uma única resposta, e pode levar a outra questão ainda mais complexa: o que é um ser humano?
Essas questões têm sido discutidas há milênios, por filósofos, teólogos, cientistas... com certeza, não será uma comissão formada por 17 “especialistas” convocados pelo STF que vai resolver questões que já fascinaram Platão, Aristóteles, Hipócrates e Leonardo da Vinci. Todos esses grandes pensadores já gastaram anos de pesquisa para descobrir quando começa a vida humana.
Até hoje há diversas versões diferentes: alguns afirmam que a vida começa no momento da fecundação (posição defendida pela Igreja Católica); outros dizem que ela começa quando o coração do feto começa a bater, por volta da 4ª semana; alguns insistem que a vida só começa no momento do nascimento; há ainda alguns que afirmam que a vida começa aos quarenta. Chegar a um consenso sobre isso é impossível.
O uso de células-tronco embrionárias é uma das maiores discussões éticas atuais. O que será que diria Aristóteles, considerado por muitos o “pai da Ética”? Bem, ele, por volta de 322 aC, já havia elaborado uma teoria que pode ser citada: ele afirmava que o embrião humano teria primeiramente um princípio vital meramente vegetativo; depois seria animado por um princípio vital vegetativo e sensitivo, e só posteriormente por um princípio (anima) vegetativo, sensitivo e intelectivo ou por uma alma humana propriamente dita. Só a partir desse ponto, que ele afirmava ser por volta dos 40 dias de gestação, o embrião se tornava um ser humano propriamente dito. Como os embriões usados em pesquisas têm no máximo 2 semanas, não são propriamente humanos, segundo a definição aristotélica, e podem ser sacrificados para salvar vidas humanas. Quem diria que Aristóteles, que viveu no século IV aC, seria a favor das pesquisas com células-tronco!

terça-feira, 3 de abril de 2007

A BBC segundo professor Laurindo Leal Filho

"Pós-doutorado pela Universidade de Londres, é doutor em Ciências da Comunicação pela ECA-USP, mestre em Sociologia pela PUC-SP e graduado em Ciências Sociais pela USP. Sociólogo, jornalista e autor dos livros: Atrás das Câmeras, relações entre Estado, Cultura e Televisão; A melhor TV do mundo, o modelo britânico de televisão e A TV sob controle, a resposta da sociedade ao poder da TV, publicados pela editora Summus. Atuou como repórter, editor e apresentador nas redes Globo, Cultura e Bandeirantes, onde dirigiu o Jornal da Band. Apresenta o programa VerTV, transmitido pela TV Câmara e TV Nacional de Brasília, entre outras emissoras. No Mestrado da Cásper, leciona Rádio e TV: Novos Formatos e os Conglomerados de Mídia."

Biografia do professor Laurindo Leal Filho, site da Faculdade Cásper Líbero.

http://www.facasper.com.br/pos/professores/lato/laurindo.php

Entrevista feita por Karina Gomes da Silva e filmada por Pedro Zambarda de Araújo. Não farei relações filosóficas, mas é interessante a apresentação desse vídeo para compreensão da importância da emissora BBC, do quanto é desenvolvido os veículos de comunicação no Brasil e as contradições das declarações acerca da "emissora estatal", desde o mês de março, pelo ministro das comunicações do governo Lula, Hélio Costa.

segunda-feira, 2 de abril de 2007

Chávez ou "Chaves"?

A pergunta do título pode parecer inoportuna num veículo em que as mensagens carregam um “quê” de hermética filosófica e não admitem questões “popularescas”, todavia, tem lá a sua pertinência. Não se trata simplesmente de uma dúvida ortográfica, mas de uma questão nacional que muitos sequer ouviram comentários a respeito: a criação de uma TV estatal.

Lembremos daquele bom e velho seriado mexicano, exibido pelo canal SBT há longos e longos anos. Deve-se tamanho sucesso ao público, que segundo alguns adora um besteirol, segundo outros não tem uma “estrutura cultural” suficiente para assistir a outros tipos de programa. A TV estatal vem para acabar com este déficit intelectual da população, oferecendo programação de qualidade, bem diferente das porcarias que circulam pelos canais abertos da mídia televisiva brasileira. Será? É aí que entra o nosso primeiro Chávez.

O atual (e quem sabe, eterno) presidente da Venezuela, Hugo Chavéz, apresenta em “sua” emissora o Aló Presidente – uma espécie de culto contra George Bush e as multinacionais que devastam as economias pelo mundo. O programa é um fenômeno de audiência e assim fundamenta os argumentos daqueles que defendem a implantação de uma emissora do Estado brasileiro. Comete-se dessa forma uma grande falácia: Hugo Chávez, aos olhos de seus tele-espectadores, é um herói de cinema, um verdadeiro super-homem paraguaio, ou melhor, venezuelano, que luta contra o terrível Bush e seus comparsas. O que há de diferente entre este cenário e as nossas tão famigeradas novelas? Talvez a “TV Lula” nem seja tão inflamada, mas certamente acolherá as metáforas de nosso presidente em algum programa. Quebra-se, portanto, aquela história de valorização da cultura ou de um meio alternativo para aqueles já saturados de Luciana Gimenez, Ratinho e afins. Abordemos, agora, o nosso segundo Chaves.

Televisões estatais já existem, mas as pessoas ainda preferem o Chaves do SBT (inclusive Hélio Costa, ministro das Comunicações). É fato que a audiência de uma TV nesses moldes se torna irrelevante, uma vez que é sustentada pela União e não por anúncios publicitários. Entretanto, seria interessante criar algo que chamasse a atenção do público, não somente pelo custo (orçamento inicial de R$ 250 milhões para a sua implantação), mas também pelo conteúdo de sua programação. Quem garante que esta não será composta por uma série de propagandas partidárias visando futuras eleições? Ou ainda repleta de falsos debates em torno de problemas aparentemente sérios, mas que em nada acrescentam na bagagem cultural do brasileiro?

O governo garante que a TV será pública e não estatal, isto é, a emissora terá autonomia sobre o que for transmitido, sem qualquer interferência do poder da situação, garantindo imparcialidade ao que é passado para os espectadores. Por falar neles, alguém parou para pensar sobre o que o povo acha a respeito deste assunto? Não precisa; depois a gente vê na TV. Vamos nos “aculturar” com nossos políticos, os homens mais sábios e sensatos da nação brasileira, sempre preocupados em investir no país, porque quanto mais “programas sociais” para a população, mais dinheiro pode ser desviado, mais pessoas conhecerão seus nomes e mais fácil será para se reelegerem. Enquanto eles decidem se a TV pode ou não ser igual a do Chávez de lá, a gente segue assistindo ao Chaves daqui. Só para não dizerem que não comentei sobre filosofia, encerro com uma frase cunhada pelo excelentíssimo presidente Lula (e plagiada por ninguém menos que Sócrates) em cima da questão da TV estatal ou pública: “Só sei que nada sei”.