segunda-feira, 29 de outubro de 2007

Produção de dissonância eletromagnética

Ligo um sintetizador por cabos até um computador. Abro o software e posso reproduzir toda uma escala de notas numa velocidade alta, como se estivesse dedilhando freneticamente ou palhetando algo que não conseguiria normalmente em uma guitarra elétrica. Não satisfeito com isso, eu ainda posso reproduzir sons em alturas e seqüências que me demandariam tempo e prática se fosse executar em um piano, em um teclado ou em um banjo.

Conhecido por ter explodido na música pop na década de 1980, a música eletrônica é isso: poder de tornar o som que você deseja real. Não se resume ao techno, às festas raves e ao pessoal dançando uma música considerada estranha para os padrões mais eruditos. Os primeiros testes que geraram música através dos sintetizadores remontam o começo do século XX: o movimento futurista que se apropriou das mais diversas formas de arte e rompeu fronteiras dentro delas, além da criação dos primeiros dínamos elétricos, que convertiam energia mecânica em energia elétrica, sendo induzidos e produzindo freqüências.

Essa forma técnica, praticamente industrial, de criar arte começou a ocupar o tempo de personalidades mais experimentalistas, como bandas de rock famosas, os Pink Floyd e The Beatles. No entanto, as composições consideravam a geração de sons por sintetizadores algo secundário, dando mais atenção ainda aos instrumentos em si. Teclados e guitarras elétricas eram amplificados por sons alterados, mas permaneciam necessários na geração dele.

Considerando esse passado mais esquecido, é bom ressaltar que a consolidação das experiências eletrônicas na música como um gênero posteriormente não a tornou a “decadência da música”. Por algum período dos anos 80, com bandas como Pet Shop Boys, New Order (com a morte recente de Ian Curtis e do movimento punk) e Depeche Mode, pensou-se que a digitalização da produção do som eletrônico aboliria os demais instrumentos musicais. Apesar do som cada vez menos trabalhado e mais “pronto”, os anos 1990 provaram que o peso da música instrumental não morreu com a ascensão da música eletrônica.

Um último exemplo que uso para encerrar essa minha crítica é um compositor famoso em filmes, formado como maestro em música no Japão, mas especializado em música eletrônica. Ryuichi Sakamoto, autor das trilhas sonoras como Merry Christmas Mr. Lawrence (Furyo) e Little Buddha (O Pequeno Buda), é um expoente em associar composições mais clássicas, mais focadas no erudito das orquestras, mas não sem deixar de explorar a capacidade dos sintetizadores, dos teclados e suas funções que ultrapassam a funcionalidade simples do piano. Prova de seu êxito musical, Sakamoto tocou, entre 1980 e 1990, com estrelas da música pop, como Iggy Pop e David Sylvian. Pertenceu a famosa Yellow Magic Orquestra, banda de eletropop que se inspirou em outra famosa alemã chamada Kraftwerk. Essa última é percursora de muitos sub-estilos do eletrônico dos anos 80, tais como o próprio techno, house, hip hop e industrial.

Entre as inspirações de Sakamoto, está o maestro Antônio Carlos Jobim, que contribuiu com os conhecimentos de jazz desse músico de renome.

Para fechar, uma música da banda inglesa de rock Radiohead, Idioteque, onde não há nada de guitarras, somente sintetizador, chocalho e bateria. Representa bem a mesclagem da produção de som X fazer arte na música:


E a obra-prima de Sakamoto para os cinemas. Merry Christmas Mr. Lawrence, incluindo suas partes eletrônicas.


sábado, 27 de outubro de 2007

"Faz o que tu queres pois é tudo da Lei"


Sociedade Alternativa- Raul Seixas

Viva, viva, viva a sociedade alternativa
(Viva! Viva!)
Viva, viva, viva a sociedade alternativa
(Viva o novo aeon)
Viva, viva, viva a sociedade alternativa
(Viva! Viva! Viva!)
Viva, viva, viva a sociedade alternativa

Se eu quero e você quer
Tomar banho de chapéu
Ou esperar Papai Noel
Ou discutir Carlos Gardel
Então vá
Faz o que tu queres
Pois é tudo
Da lei, da lei

(Viva, viva, viva a sociedade alternativa)

Faz o que tu queres há de ser
Tudo da lei

(Viva, viva, viva a sociedade alternativa)

Todo homem, toda mulher
É uma estrela

(Viva, viva, viva a sociedade alternativa)

Mas se eu quero e você quer
Tomar banho de chapéu
Ou discutir Carlos Gardel
Ou esperar Papai Noel
Então vá
Faz o que tu queres
Pois é tudo
Da lei, da lei

(Viva, viva, viva a sociedade alternativa)

O número 666 chama-se Aleister Crowley

(Viva, viva, viva a sociedade alternativa)

Faz o que tu queres
Há de ser tudo da lei

(Viva, viva, viva a sociedade alternativa)

A lei de Thelema

(Viva, viva, viva a sociedade alternativa)

A lei do forte, essa é a nossa lei, e a alegria do
mundo.

(Viva, viva, viva a sociedade alternativa)


A música “Sociedade alternativa”, de Raul Seixas, é até hoje um grande sucesso. Muitos ainda cantam essa música, sempre que em um grupo de amigos com um violão alguém grita: “Toca Raul!”. Mas será que essas pessoas sabem o que está por trás de sua letra, conhecem a filosofia que inspirou Raul a compô-la? Será que sabem quem é Aleister Crowley?

Aleister Crowley foi um polêmico ocultista britânico que se autodenominava “Besta 666”. Ele desenvolveu (em seu famoso Livro da Lei) a Lei da Thelema, que inspirou inúmeros músicos, como os Beatles, Led Zeppelin, Iron Maiden e Ozzy Osbourne (que o homenageou na música Mr. Crowley).

A Lei da Thelema se resumia na frase “Faz o que tu queres há de ser o todo da Lei”. Segundo essa lei, todo ser humano era divino, e perdia essa divindade por negar seus verdadeiros desejos, através de valores falsos, como a moral, os padrões de comportamento da sociedade e o conceito de pecado. Todos deveriam então conhecer sua Verdadeira Vontade, e persegui-la, sem que ninguém pudesse impedir a realização de seus verdadeiros desejos.

Porém, ao contrário do que muitos afirmam, isso não significa se entregar a caprichos e vícios. Primeiro, a pessoa deveria tentar conhecer sua Verdadeira Vontade, uma vontade superior, que não é um simples capricho e que não interfere nas vontades das outras pessoas. Afinal, segundo a Thelema, “Todo homem e toda mulher é uma estrela”, ou seja, eles vivem independentemente, sem que a vontade de um possa atrapalhar a de outro.

Assim, Crowley e muitos que acreditavam nele sonhavam em uma nova era, o Novo Aeon, em que cada um buscaria seu verdadeiro propósito, com liberdade, sem falsos moralismos ou sentimentos de culpa, e sem interferir nas vontades de outros. Raul acreditava nisso, o que o levou a escrever “Sociedade Alternativa”.

Muitos projetos de construir sociedades alternativas fracassaram. Hoje, muitos cantam a música de Raul Seixas sem ter idéia das idéias contidas em sua letra. O sonho de uma sociedade alternativa parece cada vez mais distante e impossível. Será?

terça-feira, 23 de outubro de 2007

Na estrada das privatizações


Seguindo o caminho trilhado pelo governo F.H.C, o governo de Lula - mais uma vez contrariando um antigo princípio – encabeçou outro processo de privatização: dessa vez o alvo é o sistema rodoviário.

Após a largada dada pelo governo, realizou-se uma verdadeira corrida entre as empresas privadas para a privatização das rodovias federais. De Brasília partiram algumas determinações que deixaram claras as características de sua realização.

Houve, por exemplo, a não exigência de que participassem empresas com experiência na gestão de concessões rodoviárias. Esse fator é muito preocupante, pois acaba por deixar claro a priorização da questão do lucro pelos cofres nacionais. Mais inquietante ainda são as palavras do superintendente da Exploração da Infra-Estrutura da ANTT, Carlos Serman, que explicitam os interesses do governo: "Entendemos que o grande requisito é a capacidade financeira", afirmou Serman. "Depois que ganhar, o vencedor vai buscar os parceiros especializados que precisar”. Essas posições são alarmantes, porque os grandes acidentes ocorridos na construção das linhas do metrô em São Paulo tem como um de seus grandes causadores um sistema parecido, no qual é dada preferência ao lucro e ao prazo de entrega.

Realmente, as dimensões do negócio impressionam: calcula-se que a operação envolveu algo em torno de 20 bilhões. Nela, estiveram em jogo a concessão de 2.601 quilômetros de rodovias federais por 25 anos, incluindo os trechos São Paulo-Curitiba da BR-116 (Régis Bittencourt) e São Paulo-Belo Horizonte da BR-381 (Fernão Dias).

Na disputa a espanhola OHL Brasil predominou no leilão, arrematando cinco editais, que somam 2.078 quilômetros. Após isso, a empresa tornou-se a maior concessionária de rodovias no país. Outra empresa que adquiriu trechos foi a empresa BRVias – que tem como uma das sócias a família Constantino, dona da Gol Linhas Aéreas - arrematando um trecho da BR-153, de 321,6 quilômetros. A espanhola Acciona do Brasil também tornou-se dona de um trecho de 200,4 quilômetros da BR-39. Um dos quesitos para a concretização das vendas foi o menor preço de pedágio oferecido pelas empresas.

Desde já, o leilão enfrenta representações na justiça para seu cancelamento, uma delas foi apresentada pela Justiça Federal do Paraná, antes de sua realização. A liminar concedida suspendeu o leilão de rodovias naquele Estado. No pedido de liminar, o MP alega que não se ofereceram vias alternativas às rodovias leiloadas e aponta a falta de audiências públicas para discutir o assunto com a comunidade.

A controvérsia é mais um indicador de que o processo de privatização trará duvidosas conseqüências para a população. Mostra também que os utilizadores das rodovias, principais influenciados pelas privatizações, não estão convencidos dos benefícios trazidos pelas resoluções tomadas. Só é de se esperar que mais uma vez o consumidor não seja prejudicado em detrimento aos lucros do governo, como já é comum em tantas outras privatizações.

Por Luca Contro

segunda-feira, 22 de outubro de 2007

Eternidades de segundo

Noite de domingo. E não é que a musiquinha do Fantástico realmente faz a gente querer morrer? Deito na cama, respiro fundo e encaro o teto até passar.
Mamãe chama: - Joana, vem jantar!
Tudo o que eu preciso agora é aquela conversinha sobre futuro que papai insiste em abordar toda vez que eu sento à mesa com o olhar perdido. Olho perdida... A bunda ainda dói devido ao pé que levou na sexta-feira. Perco-me para não pensar. Quando penso, um outro lugar dói, o ego, a cabeça, o cotovelo. Como dói o cotovelo!
- Joana, vem jantar!
Mamãe insiste. Melhor levantar. Respiro fundo. Adeus teto. Um som lá fora me faz parar. É só o vento nas árvores. ... Se é assim, por que eu tive que olhar?
O vento nas árvores são os deuses fazendo uma criança rir. Um momento, a dor sumiu. E a lembrança...
Alguém cantarolando nas escadas do metrô.
...
Jantei. Dormirei. E quero, como quero acordar!

Se fosse dor tudo na vida,
Seria a morte o sumo bem.
Libertadora apetecida,
A alma dir-lhe-ia, ansiosa: - "Vem!

(...)
Mas horas há que marcam fundo...
Feitas, em cada um de nós,
De eternidades de segundo,
Cuja saudade extingue a voz.

(...)

A vida assim nos afeiçoa,
Prende! Antes fosse toda fel!
Que ao se mostrar às vezes boa,
Ela requinta em ser cruel...
A vida assim nos afeiçoa - Manuel Bandeira

sexta-feira, 19 de outubro de 2007

Sobre Hegel: Note a semelhança


Sistema racionalista do filósofo moderno Hegel (razão É história, é processo, dialética, tese-antítese-síntese) em esquema segundo o site hegel.net (http://www.hegel.net/br/b0.htm)

Personagem Link (de verde), dos jogos de videogame da série The Legend of Zelda, usando uma relíquia do jogo chamada Triforce, uma arma que reúne três virtudes: Coragem, Poder e Sabedoria (Coragem + Poder).

Eu sei que associações em excesso fazem mal à saúde, mas não é MUITO parecido os conceitos da Triforce no joguinho e a filosofia hegeliana? (o que diria, então, das figuras?)


Postagem sem nenhum compromisso sério, exceto essas relações bizarras (...).

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Eu tenho o sexto sentido, e você?

Diz por aí que o ser humano tem cinco sentidos. A professorinha faz a gente decorar isso religiosamente. Pois isso é uma grande besteira. Todos temos seis. EU DISSE 6 (meia dúzia). E eu não estou concordando com os místicos paranormais que têm por aí. Até o fim desse post você estará convencido de que são seis... ou não.

Não, nem todos podem ver gente morta. Não é a aura, não é o espírito, não é visão do futuro.

O sexto sentido é o equilíbrio.

— Hã? Só isso? — diriam uns.

Como assim só isso, rapaz? Nada mais banal, revelador e imprecindível que o equilíbrio. Já imaginou sua vida sem ele? Ah, os bebuns que sabem como é. Não poderíamos ser chamados de bípedes sem ele. Toda a orientação espacial que temos está ligada a esse pequeno labirinto membranoso dentro do osso da têmpora.

Seria pretenção minha querer explicar como funciona o equilíbrio, porém segue aqui um pequeno resumo para não dizer que eu não falei das flores.

A função do equilíbrio é gerada a partir de um órgão no ouvido, mas não é totalmente restrita a ele. Essa sensação direcional que sentimos é uma resultante e está relacionada a três sistemas:

O Sistema de Entrada Visual

Nós recebemos muita informação sobre o que nos rodeia a partir do que vemos. Quando estamos desequilibrados nos baseamos muito na imagem para nos orientarmos.

O Sistema Proprioceptivo

Receptores nos pés e nas juntas e também no pescoço nos fornecem informações sobre como o corpo está se movendo e se estamos em chão firme.

O Sistema Vestibular

Calma, não se assuste, já passou... você já está na faculdade... isso... calma... respira. Ufa. O sistema vestibular é o órgão do equilíbrio que está localizado no ouvido interno. O caracol está ligado à audição. Os canais semicirculares estão ligados ao equilíbrio. Claro que há detalhes muito mais complexos que minha ignorância não permite descrever, mas se quiser saber mais leia essa página [BioCiência.org]. Cada um deles está disposto direcionalmente de forma a interpretar cada uma das três "dimensões" do espaço. Ou seja, um está horizontal, o outro está vertical e o terceiro está vertical também, porém transversal em relação ao segundo. Não entendeu? É simples, eles estão estruturados de forma a poder sentir o posicionamento da sua cabeça nos três planos espaciais.

Feche os olhos de uma pessoa e vire-a de todo jeito e depois pergunte para onde é o chão (não tente isso em casa). Se ela souber que o chão fica sempre para baixo com certeza vai acertar. O equilíbrio sempre garante que saibamos para onde o santo ajuda, estejamos sendo girados horizontalmente, verticalmente ou transversalmente.

Isso dá pano pra manga de uma discussão exposta por Edgar Morin em seu livro A Cabeça Bem Feita, a retroação do ser humano como ser biológico e como ser cultural. A partir da constituição do ouvido podemos compreender que o ser humano não é apenas culturalmente capaz de perceber as três dimensões (através do pensamento e da filosofia) é também biologicamente capaz de sentí-las. Por outro lado, só nos percebemos seres biológicos com todos os nossos aparatos quando nos estudamos, o que já configura uma construção cultural. Ou seja, o ser cultural pensa o ser biológico, que por sua vez permite a plena existência e capacidade do ser cultural. O ser cultural não é uma coisa abstrata e nem o ser biológico é um amontoado de carne.

Voltando ao sexto sentido: É por causa desses canais que quando você dá um tapa em uma pessoa na orelha, mesmo que fraco, ela tende a cambalear. Isso porque, por um momento, os canais semicirculares do ouvido que foi atingido vão vibrar por causa da força do impacto, bagunçando e agitando a endolinfa (líquido que estimulas as células sensoriais e que serve de referência para a mudança de posição), o que faz o cérebro fazer uma medição errada, logo, cambaleamos por falta de orientação. O outro ouvido tende a compensar evitando que a pessoa caia. Bata nas duas orelhas e a pessoa irá ao chão (não tente isso em casa).

Quando sua cabeça muda de ângulo em relação à superfície da Terra, a endolinfa mudará para o ângulo oposto, estimulando as células sensoriais e avisando que você (seu eixo de equilíbrio, cada pessoa tem o seu) não está alinhado com a direção da força da gravidade, na posição ideal que o faz ficar de pé, correndo o risco de cair. Esses três sistemas trabalhando em conjunto, de forma complexa, enviando um fluxo contínuo de avisos ao cérebro e à medula espinhal acabam nos dando noção de posição do corpo inteiro, embora a posição da cabeça seja a mais perceptível e precisa por causa do sistema vestibular. Já notou como temos a tendência a sempre deixar a cabeça em posição vertical? Toda pessoa quando aprende a andar desenvolve a percepção de seu próprio eixo para usá-lo como ponto ideal e tudo que estiver fora disso o equilíbrio irá alertar o cérebro de que algo precisa ser feito.

Vale lembrar: o equilíbrio não é uma bússola que aponta para o centro da Terra. É apenas um sentido que capta a aceleração do seu corpo e a usa para determinar seu posicionamento e a mudança dele.

Importante salientar: aceleração.

Fisicamente, não há diferença entre um corpo em repouso e um corpo em velocidade constante. Você está dirigindo um carro em altíssima velocidade, porém constante. Se fechar os olhos, sua sensação será de total imobilidade (não tente isso em casa). Se não fosse assim, ficaríamos malucos ao sentir a absurda velocidade de rotação do planeta, que, ainda bem, é constante.

Agora, porque o equilíbrio não foi reconhecido antes como sexto sentido? Principalmente por sua condição estrutural. Ele praticamente divide o aparato neural com a audição e é auxiliado em parte pela visão e pelo tato. Não podemos esquecer também que a recíproca também acontece com todos os sentidos entre si, se tratarmos como um sistema complexo, já que o corpo humano não é apenas uma receita de bolo cheia de carbono, enxofre e oxigênio como pensa o alquimista Edward Elric (do anime Full Metal Alchemist) ou um amontoado de braços, tripas e cicatrizes como em Frankstein. Não podemos conhecer o todo sem conhecer as partes, mas também não podemos conhecer as partes sem conhecer o todo, como já diria Pascal.

Já notamos anteriormente que a visão contribui para o equilíbrio e que o equilíbrio contribui para a percepção visual das três dimensões. A audição está ligada ao equilíbrio porque estão localizados na mesma região. O tato, através do sistema proprioceptivo, também contribui para nossa sensação de orientação e peso. Por sua vez, o tato enriquece a visão dando-nos idéia de textura associada às sombras de uma superfície. Daí podem vir infinitas combinações só para exemplificar que temos na verdade um complexo sistema sensorial (biológico) e que por ele passa e se baseia nossa percepção de realidade (cultural). O que sentimos na verdade é a resultante da ação conjunta de todos os nossos sentidos. Isoladamente e separadamente duvido que eles sejam tão úteis, preciosos e significantes quanto seu conjunto.

Se você se centra em uma maçã na árvore, você pode ver seu formato, sua cor vermelha, sentir seu cheiro, pode compreender sua posição no espaço, pode ouvi-la cair na sua cabeça e mesmo perceber antes que ela caia o lugar exato onde irá cair, pode tocá-la, comprovar sua textura lisa, sentir seu volume, seu peso, depois seu sabor ao mordê-la. Se um dos seis sentidos faltasse, a realidade que percebemos seria modificada drasticamente, pois todos os outros sentidos seriam de alguma forma comprometidos, uns mais que outros, pois estão todos interligados, trabalhando juntos, não dependentes, mas aliados e, como diria Edgar Morin, complexos.

Sobre o sétimo sentido? Isso para mim é um mistério.

terça-feira, 16 de outubro de 2007

Algum cheirinho de alecrim

O décimo nono artigo da Declaração Universal dos Direitos Humanos nunca foi tão importante: “Todo indivíduo tem direito à liberdade de opinião e de expressão”.

Que o diga Lobão. O polêmico roqueiro lançou no final de setembro o “Peidei, mas não fui eu”. Trata-se de um misto de movimento anárquico e embrião de partido político. Destina-se, segundo ele, a combater a corrupção que grassa no país.

Um dos objetivos do “Peidei” é o de “acordar” a oposição que, a seu juízo, anda meio “adormecida”. Para tanto, Lobão lançou uma música tema para o movimento: uma paródia da célebre melodia “Que será que será”, do lulista Chico Buarque.

Na versão de Lobão, “Que será” virou “Quem Será que Peida”. O cantor revisita não só a música de Chico, mas também o espírito de luta contra as barbáries promovidas pelos políticos de nossa nação.

Mas não está tudo sob controle? Claro que está. E este é o problema. Tenhamos, pá, a febre d’Além-Mar, pois do contrário não passaremos de cadáveres adiados que procriam. Naveguemos para um porto seguro, onde estejamos fadados ao axé de todos os santos. Desbravemos o mar de lama do Planalto, nem que seja no mais frágil dos barcos de papel.
Precisamos revitalizar o velho Chico. Acabar com os estigmas de um país “que não tem governo nem nunca terá/ que não tem vergonha nem nunca terá”. Lobão nos traz um cravo, ao som de um alegre fado. Esperamos que o “Peidei” nos traga novamente algum cheirinho de alecrim.

sábado, 13 de outubro de 2007

Homens e Mulheres - Trilogia Musical Parte II

Olá a todos! Devido ao estrondoso sucesso de crítica e público (2 comentários até o momento!), imploraram para que eu adiasse ao máximo a continuação desta empreitada, que não são os sete saberes que o Pedro estudou, mas que é minha humilde colaboração a tão querido e tradicional veículo de comunicação, o blog Cidadão do Mundo! Conforme sugestão do nosso ilustre administrador, Pedro, este é Homens e Mulheres Reloaded (sem quaisquer referências ao Macaco Simão), que vai falar de “A Gente é Tudo Igual”, música de Roger Moreira em parceria com o baixista Mingau, também encontrada no disco “Os Invisíveis” (letra logo abaixo).

Depois daquela noite em que você chutou a Miss Simpatia, talvez no domingo pós-ressaca tenha vindo um certo arrependimento, algo que te fez refletir sobre sua gloriosa carreira amorosa. Das suas inúmeras conquistas (vejamos, você sai uma vez por semana, nunca volta zerado, faz uns três anos que a balada é sua companheira de aventuras... são cento e poucas conquistas! E você nem começou direito!), quantas realmente valeram a pena? Quantas, como conta Roger (e olha que ele gosta de mulher!), você não quis que sumissem logo depois da primeira vez? E depois do primeiro encontro fora da balada, quantas não te trouxeram aquele baita arrependimento, do tipo, Meu Deus, era melhor eu ter ficado quieto em casa? Pois é... mas fique tranqüilo, porque o Roger já perguntou pros amigos dele, que confirmaram: homem é tudo igual!

Mas como tudo tem dois lados (para o Samuel Rosa, chega a ter três lados...), a gente também sofre. Quantas vezes você não foi surpreendido por uma paixão fulminante, achando que sim, ela era a garota que você ia pedir em namoro assim que encontrasse novamente (e eis aqui um conselho, que nem é meu: take it easy, my brother Charles). Mas ela te atende no telefone com aquela voz de quem está louca para desligar e fazer coisa melhor, mesmo que passar esmalte esteja nessa categoria. Aí você liga de novo, ela não atende (tudo bem, ela deve estar ocupada, eu tento mais tarde). Você liga mais tarde... será que ela bloqueou o meu número??? Para descobrir, você, um cara esperto, pede o celular do irmão, pai, mãe ou até o do amigo emprestado e ela atende: AHÁ, o problema é mesmo seu! Isso para ficar nas relações que não chegam a se estabelecer, porque quando a gente namora, só nós importamos com nosso par, chega a tomar jeito, ficar responsável e fiel, não é mesmo?

Bem... e se ela não pensar assim? Quem ainda não foi traído, más notícias: a chance de que isso aconteça no futuro é maior do que eu desejaria. Pouts, será que isso acontece só comigo, pensaríamos os mais desavisados? Acho que não, isso deve ser normal, porque o Roger perguntou para os amigos dele, que felizmente confirmaram: mulher é tudo igual!

Espero apenas que um dia alguém tenha provado ou possa provar o contrário para todos nós, embora individualmente: que ele ou ela, desde que não tivéssemos desejado que sumisse, não é igual a todos os demais! Para o grand finale, a mais famosa das três músicas desta incrível (e felizmente independente de bilheterias) trilogia: “Agora é Tarde”. Até lá!

“De todas as mulheres que eu já tive/ Acho que só duas ou três/ Que eu não desejei foi que sumissem/ Logo depois da primeira vez

Será que acontece só comigo?/ Acho que não, isso deve ser normal/ Eu já perguntei pros meus amigos/ E eles me confirmaram/ Homem é tudo igual!

De todas as mulheres que eu já tive/ Acho que só duas ou três/ Que não foram ciscar noutro terreiro/ Nem que fosse só uma vez

Será que acontece só comigo?/ Acho que não, isso deve ser normal/ Eu já perguntei pros meus amigos/ E eles me confirmaram/ Mulher é tudo igual!

De todas as besteiras que eu já disse/ Acho que só duas ou três/ Que eu preferia não ter dito/ E acho que essa é uma das três!”

sexta-feira, 12 de outubro de 2007

Brasil com P

Mesmo enfrentando muitas resistências e preconceitos, o rap continua transformando a realidade em poesia, e a poesia em protesto.
Bom exemplo é o genial rap "Brasil com P", composto pelo rapper Gog, mas que ficou mais famoso na versão dos Racionais MC's.

Pesquisa publicada prova:
Preferencialmente preto, pobre, prostituta pra polícia prender
Pare
Pense
Por quê?

Prossigo...
Pelas periferias praticam perversidades
PMs
Pelos palanques políticos prometem, prometem...
Pura palhaçada
Proveito próprio
Praias, programas, piscinas...
Palmas

Pra periferia?
Pânico, pólvora, pá-pá-pá!
Primeira página!
Preço pago:
Pescoço, peito, pulmões perfurados
Parece pouco?

Pedro Paulo
Profissão: pedreiro
Passatempo predileto: pandeiro
Preso portando pó passou pelos piores pesadelos
Presídios, porões, problemas pessoais, psicológicos
Perdeu parceiros, passado, presente,
Pais, parentes, principais pertences

PC
Político privilegiado preso parecia piada
Pagou propina pro plantão policial
Passou pela porta principal

Posso parecer psicopata
Pivô pra perseguição
Prevejo populares portando pistolas
Pronunciando palavrões
Promotores públicos pedindo prisões
Pecado
Pena
Prisão perpétua
Palavras pronunciadas
Pelo poeta, irmão

domingo, 7 de outubro de 2007

Um tapa do cinema na classe média


Um filme sério numa época de muitas palhaçadas, não só no Brasil.

José Padilha, o diretor, estruturou o filme para não esconder nada, mesmo que seja numa obra de ficção como Elite da Tropa. Wagner Moura interpreta dois personagens dentro de um: o capitão Nascimento narrador e o Nascimento personagem, chefe do BOPE (Batalhão de Operações Policiais Estratégicas, Rio de Janeiro). Os recrutas são avatares do caos da sociedade, tendo Matias como contato na corrupção civil e Neto na corrupção do Estado.

E o que resta ao final do filme é uma forte mensagem convocando as pessoas para uma cidadania, para um repúdio de vez ao tráfico de drogas e às corrupções. Resolve? Não sei, mas eu saí do cinema satisfeito com uma obra de arte e consciente de que há pessoas querendo transmitir mensagens.

Se você não gosta de filmes sobre tráfico, eu faço o desafio de você assistir esse filme e verificar, realmente, se a violência é de graça.

Se você já fumou um beck, uma maconha, faço o convite pra ver se você não se envergonha do que faz.

Falta de auto-educação. É.

Trailer do filme:

quarta-feira, 3 de outubro de 2007

Reutilizando a prosa poética

Toda renovada lá estava sem seu lugar a atrair excursões, admiradores, de cabelos brancos aos mais coloridos possíveis, rosa púrpura brilhava em meio a todos os outros.
Um universo paralelo que se configurava naquele momento e reunia diversas intenções, desejos secretos que se revelavam pelo simples modo de olhar.
Era um mar de gente com estrelas no lugar dos olhos, e que por mais diferentes que fossem entre si, conseguiam compreender o sorriso bobo, ainda meio tímido de quem lê uma poesia na parede de gesso e ali encontra uma parte sua que estava faltando.
O que não teria a dizer a Antropologia?
Nas palavras da poeta: “Queria ao menos entender que não entendo”, é nesse segundo que o peso da idade apoiado na bengala encontra o olhar vislumbrante da mocidade e como em um passe de mágica uma gotinha de chuva cai de cada estrela que ocupava o lugar dos olhos. Entendem-se de modo que a careca parece ser amiga íntima daquele black power que há pouco estranhara.
As centenas de gavetinhas marrons são portas que nos imergem em uma interação surreal em instante nada virtual. Cada uma abre espaço para percepções distintas que incrivelmente tocam a todos de maneiras diferentes e ao mesmo tempo similares. São pequenas gotas d’água escorrendo, são verdadeiras tempestades inundando rostos, são sorrisos tímidos de quem ainda não se permitiu gostar e são também verdadeiras gargalhadas de emoção.
O céu se faz na mesa azul que não só pela cor o remete, são sufixos e radicais unidos a formar muito mais do que palavras, eles formam brincadeiras entre pessoas que antes diriam nem se conhecer.

terça-feira, 2 de outubro de 2007

Canção Simples

Ontem, dia 1 de outubro, foi lançado em Portugal "Jardim", o primeiro álbum solo de Tiago Bettencourt, antigo vocalista e letrista dos Toranja, banda portuguesa que excursionou pelo Brasil a convite do Los Hermanos no ano passado, época em que as duas bandas ainda existiam.

O primeiro single chama-se "Canção Simples", e tanto a letra quanto o clipe me fascinaram. A música é trilha sonora da novela portuguesa "Deixa-me Amar". Espero que vocês também gostem!




"Há qualquer coisa de leve na tua mão,
Qualquer coisa que aquece o coração
Há qualquer coisa quente quando estás,
Qualquer coisa que prende e nos desfaz

Fazes muito mais que o sol
Fazes muito mais que o sol

A forma dos teus braços sobre os meus,
O tempo dos meus olhos sobre os teus
Desço nos teus ombros para provar
Tudo o que pediste para levar

Fazes muito mais que o sol
Fazes muito mais que o sol
Fazes muito mais que o sol
Fazes muito mais...

Tens os raios fortes a queimar
Todo o gelo frio que construí
Entras no meu sangue devagar
E eu a transbordar dentro de ti

Tens os raios brancos como um rio,
Sou quem sai do escuro para te ver,
Tens os raios puros no luar,
Sou quem grita fundo para te ter

Fazes muito mais que o sol
Fazes muito mais que o sol
Fazes muito mais que o sol
Fazes muito mais...

Quero ver as cores que tu vês
Para saber a dança que tu és
Quero ser do vento que te faz
Quero ser do espaço onde estás

Deixa ser tão leve a tua mão,
Para ser tão simples a canção
Deixa ser das flores o respirar
Para ser mais fácil te encontrar

Fazes muito mais que o sol
Fazes muito mais que o sol
Fazes muito mais que o sol
Fazes muito mais...

Vem quebrar o medo, vem
Saber se há depois
E sentir que somos dois,
Mas que juntos somos mais

Quero ser razão para seres maior
Quero te oferecer o meu melhor
Quero ser razão para seres maior
Quero te oferecer o meu melhor

Fazes muito mais que o sol
Fazes muito mais que o sol
Fazes muito mais que o sol
Fazes muito mais que o sol
Fazes muito mais que o sol"