segunda-feira, 2 de abril de 2007

Chávez ou "Chaves"?

A pergunta do título pode parecer inoportuna num veículo em que as mensagens carregam um “quê” de hermética filosófica e não admitem questões “popularescas”, todavia, tem lá a sua pertinência. Não se trata simplesmente de uma dúvida ortográfica, mas de uma questão nacional que muitos sequer ouviram comentários a respeito: a criação de uma TV estatal.

Lembremos daquele bom e velho seriado mexicano, exibido pelo canal SBT há longos e longos anos. Deve-se tamanho sucesso ao público, que segundo alguns adora um besteirol, segundo outros não tem uma “estrutura cultural” suficiente para assistir a outros tipos de programa. A TV estatal vem para acabar com este déficit intelectual da população, oferecendo programação de qualidade, bem diferente das porcarias que circulam pelos canais abertos da mídia televisiva brasileira. Será? É aí que entra o nosso primeiro Chávez.

O atual (e quem sabe, eterno) presidente da Venezuela, Hugo Chavéz, apresenta em “sua” emissora o Aló Presidente – uma espécie de culto contra George Bush e as multinacionais que devastam as economias pelo mundo. O programa é um fenômeno de audiência e assim fundamenta os argumentos daqueles que defendem a implantação de uma emissora do Estado brasileiro. Comete-se dessa forma uma grande falácia: Hugo Chávez, aos olhos de seus tele-espectadores, é um herói de cinema, um verdadeiro super-homem paraguaio, ou melhor, venezuelano, que luta contra o terrível Bush e seus comparsas. O que há de diferente entre este cenário e as nossas tão famigeradas novelas? Talvez a “TV Lula” nem seja tão inflamada, mas certamente acolherá as metáforas de nosso presidente em algum programa. Quebra-se, portanto, aquela história de valorização da cultura ou de um meio alternativo para aqueles já saturados de Luciana Gimenez, Ratinho e afins. Abordemos, agora, o nosso segundo Chaves.

Televisões estatais já existem, mas as pessoas ainda preferem o Chaves do SBT (inclusive Hélio Costa, ministro das Comunicações). É fato que a audiência de uma TV nesses moldes se torna irrelevante, uma vez que é sustentada pela União e não por anúncios publicitários. Entretanto, seria interessante criar algo que chamasse a atenção do público, não somente pelo custo (orçamento inicial de R$ 250 milhões para a sua implantação), mas também pelo conteúdo de sua programação. Quem garante que esta não será composta por uma série de propagandas partidárias visando futuras eleições? Ou ainda repleta de falsos debates em torno de problemas aparentemente sérios, mas que em nada acrescentam na bagagem cultural do brasileiro?

O governo garante que a TV será pública e não estatal, isto é, a emissora terá autonomia sobre o que for transmitido, sem qualquer interferência do poder da situação, garantindo imparcialidade ao que é passado para os espectadores. Por falar neles, alguém parou para pensar sobre o que o povo acha a respeito deste assunto? Não precisa; depois a gente vê na TV. Vamos nos “aculturar” com nossos políticos, os homens mais sábios e sensatos da nação brasileira, sempre preocupados em investir no país, porque quanto mais “programas sociais” para a população, mais dinheiro pode ser desviado, mais pessoas conhecerão seus nomes e mais fácil será para se reelegerem. Enquanto eles decidem se a TV pode ou não ser igual a do Chávez de lá, a gente segue assistindo ao Chaves daqui. Só para não dizerem que não comentei sobre filosofia, encerro com uma frase cunhada pelo excelentíssimo presidente Lula (e plagiada por ninguém menos que Sócrates) em cima da questão da TV estatal ou pública: “Só sei que nada sei”.

2 comentários:

Pedro Zambarda disse...

Comparação interessante sobre a televisão privada e a estatal, sobre as declarações "duvidosas" do ministro Hélio Costa e recheada de um bom humor mais intimista, menos distante.

Cecília do Lago disse...
Este comentário foi removido pelo autor.