sexta-feira, 23 de março de 2007

A "falha aristotélica" da guerra americana


"Câmara americana aprova retirada das tropas em 2008

A Câmara de Representantes (deputados) dos EUA aprovou nesta sexta-feira o projeto de lei que determina o prazo, até 1º de setembro de 2008, para a retirada das forças americanas do Iraque. Numa votação de 218 a favor e 212 contra, os democratas conseguiram incluir o prazo à legislação que autoriza o uso de US$ 124 bilhões em fundos de emergência, a maior parte destinada para as guerras do Iraque e do Afeganistão. A votação desta sexta-feira foi uma vitória significativa para a presidente da Câmara, Nancy Pelosi, e seus colegas democratas, que obtiveram o controle do Congresso nas eleições de novembro com a promessa de acabar com a Guerra do Iraque. "Faremos a diferença com este projeto. Vamos trazer as tropas para casa", disse John Murtha, da Pensilvânia. A Casa Branca alertou que Bush vetará o projeto."

Folha Online, 23 de março de 2007.

Operação militar executada desde 20 de março de 2003, o processo de ocupação de Iraque ocorreu pela acusação de seu antigo ditador, Saddam Hussein (recentemente executado pelo novo tribunal iraquiano, pena de enforcamento), de guardar armas químicas e atômicas de destruição, além de uma suposta ligação com o grupo terrorista Al-Qaeda. Nessa ofensiva, os Estados Unidos da América têm perdidos soldados e prestígio da ONU, que vetou desde o começo sua ofensiva.

Analisando filosoficamente esses fatos e a apelação da câmara em retirar seus soldados da guerra, temos o caso do pensador bastante influente na formação da sociedade ocidental: Aristóteles de Estagira, discípulo de Platão. Com um pensamento bem distinto de seu mestre, Aristóteles propôs uma divisão clara entre os ensinamentos humanos, tais como Lógica, Psicologia, Metafísica e Biologia (matéria que exerceu forte influencia por gosto adquirido pelo pai, que era médico), fundando, assim, uma escola filosófica distinta da Academia de Platão, o Liceu. No campo Político, a filosofia aristotélica deve muito às experiencias desse homem com o famoso estadista e monarca da Macedônia, Alexandre, o Grande. Convocado pelo pai do jovem principe, Filipe II da Macedônia, Aristóteles tornou-se professor daquele rapaz. Com seus ensinamentos e as futuras experiencias que aguardavam Alexandre, ele desenvolveu uma prática de dominação e influência por toda a civilização clássica conhecida como Cultura Helenística. Esse tipo de prática política permitiu uma associação, "absorção", da herança cultural dos dominados à influencia territorial macedônica, garantindo, assim, a Alexandre um imenso Império composto por toda a Pérsia, a Babilônia e a Grécia, entre outros. Da Ásia Central até o Mediterrâneo Oriental pertencia a Alexandre o Grande.

Diferente disso, a ocupação norte-americana exerce, atualmente, um forte fator esmagador no povo dominado. Não seria a falta desses ensinamentos aristotélicos bélicos entre os responsáveis pela operação que gera os temidos atentados terroristas entre civis e militares no Iraque? Não havia, em 2003, outras formas de resolver a questão das suspeitas que existiam acerca de Saddam Hussein?

6 comentários:

Carlos Antonechen disse...

Apesar de ser um avanço no término na guerra, é frustante como demoram para realizar algo fácil e necessário.
Colocação interessante entre Aristotéles e a guerra, comprovando a falta de argumentos e estratégia da parte norte-americana, que firma-se apenas por seu poder bélico.

Anônimo disse...

Além do poder bélico, eles insistem em demonstrar o total desperdício de dinheiro. Por mais que seu povo esteja na maioria bem servido, deveriam gastar esses absurdos em algo mais produtivo.

Anônimo disse...

Enquanto governo, os EUA possuem um poder bélico bem alicerçado, pois seus governantes tem consciência que para manter o domínio sobre suas fronteiras comerciais devem manter grande vigilância. Infelizmente, diferente dos ensinamentos de Aritóteles, para eles vale tudo nessa conquista, inclusive a morte de jovens que desconhecem os reais objetivos de tal guerra.

Cecília do Lago disse...

Enquanto o governo Bush e o Congresso ficam numa discussão interminável entre democratas e republicanos, a verba de emergência que sustenta os rapazes no Iraque acabará em três semanas.
Mas, claro, sempre temos fé que o governo americano tenha sempre dinheiro para sustentar suas empreitadas [até porque, se ELES não tiverem, niguém mais vai ter] Eu não consigo imaginar o exército americano passando por dificuldades desse tipo. Seria ilógico, visto a posição dos EUA no cenário mundial. O que será dos garotos americanos depois disso? O que será do Iraque depois disso? Mais perigoso do que um exército forte e absurdamente armado é um exército forte, absurdamente armado e faminto. Se isso acontecer aí sim vai começar o vale-tudo, um tremendo caos civil, que reduz o valor da vida humana a zero.

Anônimo disse...

Atendendo a pedido do estimado colega Pedro, faço alguns comentários sobre a coluna:
Realmente os EUA se colocaram em uma situação complicada no Oriente Médio ao se envolver em uma guerra mal explicada, esquecendo-se de seus objetivos iniciais na luta frente ao terrorismo mundial.
Sair imediatamente do Iraque seria gerar um vácuo de poder, ao qual o governo fantoche iraquiano não teria a menor condição de ocupar.
Manter a ocupação é demasiadamente cara aos EUA. Sem contar a gigantesca pressão interna( tanto população, quanto congresso democrata).
Não existe solução fácil. Os EUA cometeram erros estratégicos um após o outro no Iraque. Esqueceram que para a conquistar a vitória total, é preciso conquistar o coração do povo ocupado.
Como foi colocado por Clausewitz, a vitória total não é alcançada ao se exterminar o seu inimigo, mas ao desarmá-lo e eliminar sua vontade de continuar lutando.
Como cada vez mais o Iraque se parece com o Vietnã, a saída pode ser a defendida por Henry Kissinger naquele momento: Vietnamização do conflito. Nesse caso, a iraquização do conflito.
Infelizmente Bush nunca leu Aristóteles ou Clausewitz.
Obrigado pela oportunidade e peço desculpas caso tenha me excedido no tamanho do comentário.

Priscila Jordão disse...

Acredito que ressaltando o quanto Alexandre era culto acabamos dando margem à maior aceitação do seu imperialismo. Embora ele permitisse ás áreas conquistadas a manutenção de seus costumes e construísse bibliotecas Europa afora, muito diferente de Bush por sinal, isso não o redime de seu imperialismo, apesar de desqualificar mais ainda a imagem do presidente norte-americano, péssimo estrategista se comparado à Alexandre.