quarta-feira, 16 de maio de 2007

A vingança da vingança

No último sábado, dia 12, o ex-policial Alexandre Bicego Farinha passava em sua picape Strada pela Avenida Santa Cruz, na Zona Oeste do Rio, quando foi morto por três criminosos em um carro vizinho. A polícia acredita que o assassinato seja uma vingança por um fato que ocorreu há 14 anos: Farinha foi um dos PMs responsáveis pela chacina de Vigário Geral, em 30 de agosto de 1993.

Nessa chacina, aproximadamente 50 policiais militares, que queriam vingar a morte de quatro colegas assassinados por traficantes, invadiram a favela de Vigário Geral (Zona Norte do Rio) e abriram fogo contra os moradores. 21 pessoas foram mortas. Nenhuma delas tinha vínculos com o tráfico.

Dos 52 denunciados pelo Ministério Público nos processos sobre a chacina, apenas sete foram condenados. Entre eles Farinha, que já foi condenado a 72 anos de prisão, teve a pena diminuída para 59 anos e seis meses, mas continuava em liberdade.

A morosidade, incompetência e parcialidade da Justiça causam revolta e desejo de vingança. Afinal, como as pessoas que assassinaram aqueles 21 inocentes podem estar livres? Não devemos fazer justiça com as próprias mãos? Quantos inocentes mais terão que morrer?

Pelo menos mais um inocente teve que morrer nessa história. O sobrinho de Farinha, Felipe Pimenta Farinha, 14 anos, estava no carro, também foi baleado e morreu no Hospital Albert Schweitzer, em Realengo. Felipe nasceu no mesmo ano da chacina de Vigário, e era tão inocente quanto as 21 vítimas de 1993.

O desejo de vingança faz parte da natureza humana. Vários filósofos já tentaram entendê-lo, ou formular uma “ética da vingança”. Será que vingar a morte de alguém querido pode fazer você suportar melhor a perda? E qual é, se existe, o limite entre o que chamamos de “vingança” e o que chamamos de “justiça”?

Para vingar o sangue de seus colegas, os PMs derramaram sangue inocente. Para vingar sangue inocente, mais sangue inocente foi derramado. Justo?


“Olho por olho, dente por dente”
Lei de Talião

“Tiveste sede de sangue, e eu de sangue te encho”
Dante Alighieri

“A justiça é a vingança do homem em sociedade, como a vingança é a justiça do homem em estado selvagem”
Epicuro

"A vingança nunca é plena, mata a alma e a envenena"
Seu Madruga

6 comentários:

Anônimo disse...

Por algum motivo de nada insólito a sensação de revidar algo é fascinante.

Pedro Zambarda disse...

Revidar é se perder no erro do inimigo, eu acho.

Anônimo disse...

Grande Seu Madruga!!!

Cecília do Lago disse...

GRANDE GRAAAAANDE SEU MADRUGA!!!

Cecília do Lago disse...

(comentário sério, agora)
Eu acho muito fácil a gente, todo estudado, filhinho de papai, vir aqui e falar o que é politicamente correto, principalmente porque a gente não sabe o que é viver debaixo da bala de polícia e de bandido. Por que eu digo uma coisa da qual eu não sei, mas mesmo assim vou dizer: Quando você vê o teu filho ou o teu irmão ali no chão com a cabeça macetada de bala você não quer nem saber de nada, só quer saber o nome de quem fez aquilo. O cara não quer nem saber de filósofo nessa hora. É um instinto de auto-defesa, porque se ele não fizer nada, a sensação vai piorar. O ódio é natural. Até os animais odeiam. Me sinto presunçosa de tentar julgar o ódio de gente que torce pra morrer dormindo, só pra não ter que ver a realidade à sua volta.

Pedro Zambarda disse...

Cecília, eu sei que sou filho de papai estudado, que não estou na mira de ninguém (sim, eu não sou hipócrita pra fugir disso). Mas sei também que, embora seja nosso instinto, a vingança gera ainda mais vingança.

É um erro a que estamos todos expostos. Poucas pessoas conseguem realmente lidar com essa situação.