quinta-feira, 17 de maio de 2007

Ser manipulado é uma necessidade!



Atitude pouco comum de minha parte, logo após chegar em casa fui conferir ansiosamente a indicação feita em aula pelo professor José Eugênio, de Teoria da Comunicação. Trata-se do documentário A Revolução não será televisionada, filmado e dirigido pelos irlandeses Kim Bartley e Donnacha O’Briain.


Originalmente, os cineastas estavam na Venezuela desde setembro de 2001, em um projeto que procurava contar a história de Hugo Chávez, já presidente eleito e personagem controverso no cenário internacional, porém acabaram testemunhando a tentativa de golpe de estado que ocorreu em abril de 2002.


O resultado dessas filmagens são um rico testemunho de um desenrolar político extremamente confuso e emocionante. Independentemente de o documentário possuir tendências pró-chavistas, vemos na prática o poder monumental que a mídia possui.


Todos nós, como bons estudantes de jornalismo, já lemos diversos textos sobre o poder que a comunicação de massa tem, ou acredita-se que tem. Porém, sem eufemismos, terminei de ver o documentário um tanto perplexo. O que ocorreu na Venezuela foi uma luta em que as massas triunfaram sobre os meios de comunicação. De que outro modo podemos explicar o fato de um golpe, que possuía o suporte da grande maioria dos veículos de comunicação do país, e de grande parte da elite econômica do país, falhar?


Esse foi o meu primeiro pensamento. Chávez é máximo, um verdadeiro herói, o guia incontestável de uma revolução infalível. Afinal, se ele derrotou os vilões da história, que possuíam todas as armas e monstros do mal, quem haveria de se opor? Assim, logo vieram as reflexões, “Seria esse um documentário que conta a versão real da história? Existe a versão real de alguma história?” e todas essas idéias que se tornam tema de inúmeros ensaios e teorias complexas sobre o que é realidade e os poderes da manipulação.


Aí veio a tristeza. Por que aprendemos a contestar tanto as coisas? Hoje, em tudo o que leio, escuto e vejo, acabo notando (ou inventando) intenções secretas e sórdidas por trás. Nós todos nos achamos o máximo quando percebemos as verdadeiras conspirações das coisas. Como somos inteligentes! Nunca seremos enganados! Olhamos as pobres almas que acreditam em tudo com uma superioridade divina.


A verdade é que o breve momento em que o documentário acabou, em que eu estava emocionado pela alegria do povo, dos ministros batendo palmas, do herói que voltava à liderança, me senti envolvido pelos acontecimentos, com vontade de levantar e ir à luta, de bater na cara do porta-voz da casa branca, de cuspir na face de toda essa elite maldita. E depois?


Vejo que o ato de manipular é algo indispensável em nossa sociedade. Sem a manipulação, o modo de vida “civilizado” como nós conhecemos não existiria... Será?

4 comentários:

Pedro Zambarda disse...

Você derruba todas as instituições, todos os enganadores, todos os obstáculos da sua felicidade.

Mas fico pensando também se Chavez não manipulou em determinadas situações, se falta consciência dele sobre diversos assuntos.

Deixo aqui uma sugestão. Ao invés de nos acharmos sabichões de determinados assuntos, não é mais prudente apurar a crítica, ler sem esperar nada e, acima de tudo, deixar as imagens "de molho" por algum tempo?

Anônimo disse...

Essa semana eu tive uma experiência sobre "ser moldado". A empresa em que trabalhava, tentou por muito tempo me moldar. Percebia isso, porém, não era nada declarado, via nas pequenas atitudes que me forçavam a tomar. Ia sempre contra elas, o que resultou em minha demissão. É o que ocorre quando você é contra a manipulação, a não seguir o caminho que te fazem seguir. Se você tem opinião, entendimento das coisas e principalmente discernimento do que é manipulação ou não, você se torna uma pessoa diferente e vencedora desse mundo atual.

Diante de nossa sociedade atual, eu sou da opinião que é possível sim não se deixar levar pela manipulação, sem que isso te exclua de nossa sociedade, é um caminho difícil e tortuoso, mas com muita frieza e inteligência, esse caminho pode ser tomado.

Acho que todos devíamos ter um senso de desconfiança aguçado, para que possamos absorver apenas aquilo que é realmente algo neutro em nossas vidas, não obrigando você a formular opiniões contrárias ao seu pensamento. Nada exagerado, nada paranóico, apenas um pensamento de que devemos ter conciência para pensar e agir com inteligência, sempre.

Anônimo disse...

manipulação vai acontecer sempre, ponto.
o ser humano é assim, é da nossa natureza. sempre tem alguém influenciando, nos dizendo o que fazer, e mesmo quando achamos que estamos nadando contra a maré, na verdade estamos seguindo mais um modismo, etc.

tão chato saber que é inevitável.

Guilan disse...

Acho que o cidadão crítico se deixa ser manipulado pelos fatores de que aprecia ou gosta.

Ele gosta ou deixa-se ser moldado por assuntos de seu interesse.

É inverdade afirmar que uma pessoa não se deixa manipular.