quinta-feira, 5 de julho de 2007

Um Conto?....Por que não?

Peço desculpas por erros de datilografia, ortografia e conjugação. Como legítimos estudantes de jornalismo, entendam que, principalmente nas férias, a criatividade sobrepõe-se às regras gramaticais.

Altos e Baixos

Dedicado ao meu irmão, que deu, ultimamente, de que querer encarnar o Michael Jordan

Estendido ao chão como uma estrela do mar na areia de uma praia deserta, admirava o céu azulado preenchido de nuvens brancas. Beirava os dez anos, e, legitimando o porte de sua idade pueril, um baderneiro de carteirinha. Tinha um desejo diferente do de seus colegas escolares. Astronauta? Bah! Jogador de futebol? Qual nada! Queria sim, brilhar no piso brilhante das quadras de basquete. Mas brilhante mesmo era sua habilidade. Mostrava-se um hábil jogador, deixando os grandalhões da sétima serie a beira do nos nervos com suas esquivadas ágeis e até então inimagináveis para um garoto daquela idade.
- Três pontos! - dizia ele entusiasmado, brincando com sua bola imaginária no quintal.
Seu pai, reconhecido desembargador da região, prezava pela sua autoridade dentro de fora de casa. Família conservadora, casa confortável, viviam com conforto. Já plantava desde cedo o futuro do filho: seguiria a carreira de advogado, não há de ser outra coisa. Mas os olhos ansiosos do chefe de família cegavam-se para os desejos do menino.
- Querida, ando estranhando muito o comportamento de nosso filho - olhando-o pela janela da cozinha, a desviar de barreiras invisíveis no jardim.
- Ora, lá vem você de novo com seus princípios de conduta para cima do Ricardinho. Deixe o garoto em paz! Melhor ele ficar a brincar no quintal do que solto na rua, nessa cidade que é faminta para levar um jovem inocente as drogas – censurando o marido, sem olhá-lo diretamente, pois terminava de lavar os pratos sujos do jantar.
- Não é isso querida, concordo que ele deva se divertir, afinal eu também me divertia nos meus tempos de moleque, mas convenhamos, liberdade em excesso nunca é saudável. Não condiz com a educação que temos em mente para o Ricardo. Irritada com os comentários do marido, ignora-o e põe-se em passos pesados a sala de televisão para assistir a sua novela preferida, como fazia todas as noites. Ricardinho gostava de estudar, se interessava muito pelas aulas de história da professora Clotilde. Era um exímio escritor mirim, sem falar em sua admirável capacidade de detalhamento, que expunha nas aulas de artes. Mas sua paixão era uma só e ninguém, nem nada poderia impedi-lo de realizá-la. Porém, uma pedra teimava e colocar-se no se caminho. Ricardo Traltiano Ribeiro, possuía um nome pomposo que, somado ao prestigio de seu respeitado pai, herdaria para sempre reconhecimento e fama, e com ele alcançaria os mais altos cargos da carreira arquitetada pelo coroa. Falando em alcançar, eis algo que o tempo e o espaço – mais uma questão de espaço do que tempo – impunha-se a frente do pueril sonhador: Ricardo era um menino de baixa estatura, ou melhor dizendo, um tampinha. Um dia, o atarefado pai, como diariamente fazia ao chegar em casa depois do trabalho, vai em direção ao quarto do filho para dar-lhe um carinhoso beijo de boa noite – acreditando ele poder compensar as vastas horas longe de casa com o afetivo gesto -, mas, ao subir as escadas, escuta gritos de alegria procedidos de sucessivos estrondos que ressoavam pelo chão, como se um bando de cangurus tivesse invadido a casa e fossem aproximando-se rapidamente. À medida que se encaminhava ao quarto de Ricardinho, sentia-se um pequeno terremoto, estremecendo as paredes de alvenaria do corredor principal. Abrindo silenciosamente a porta, espiou pela pequena festa entre ela e o batente, o garoto pulando sobre a cama, atirando a uma cesta de lixo, bolas amassadas feitas de papel. Estaseado, após um primeiro suspiro audível somente a si mesmo, reparou como o filho acertava com precisão cirúrgica precisão todos os arremessos que fazia. Privou-se do rotineiro procedimento do beijo na testa, e, cabisbaixo rumou ao seu quarto, pensativo. "Oras, e não é que o moleque é bom mesmo!" Após alguns dias, quase como um movimento condicionado o pai retornava ao quarto para o beijo na testa, mas desta vez por detrás das costas carregava entre as mãos um embrulho arredondado.
- Uma bola de basquete! Obrigado papai! - disse o menino beirando aos prantos.
- Olha Ricardo, quero que me prometa uma coisa, não quero vê-lo em nenhuma circunstância deixando seus estudos para trás porque quis jogar basquetebol antes de fazer a lição de casa, ouviu bem? O menino movimentou a cabeça positivamente fixando os baixos olhos ao pai, como se fosse um soldado recebendo ordens de um general.
Passavam-se os anos, e Ricardinho, – o nome ficou no diminutivo mesmo, pois era assim que seus amigos o chamavam - aprimorava cada vez mais suas técnicas “basqueteiras”. Já não se dedicava tanto ao estudo, matava as aulas de matemática para jogar vinte e um. Tornou-se uma grande e precisa enciclopédia esportiva. Sabia quem jogava em que time, o nome dos técnicos, as regras. NBA, NLB, LBN, conhecia as ligas como quem conhece a própria casa. Aos poucos, ia despindo-se das vestes daquele garoto que apenas sonhava na idéia de jogar profissionalmente. No terceiro colegial, tomou uma importante decisão para si próprio: "Vou defender o time da escola no campeonato estadual!" Mas a bendita pedra que o perseguia desde a infância pôs-se a sua frente antes mesmo por as mãos na caneta para assinar a lista de inscrição.
- Nome?
- Ricardo Traltiano Ribeiro
- Série?
- Terceiro Colegial
- Altura?
- Um metro e cinqüenta e seis
- Peso... Não, peraí... Um metro e cinqüenta e seis? - indaga o treinador – me desculpe jovem, mas a altura mínina para entrar no time é de um metro de setenta.
Naquele momento sentiu-se como se alguém tivesse dado lhe uma bofetada na cara, com uma pedra obviamente. Saiu do escritório do treinador banboleando para os lados, estupefato. Os mais velhos ali presentes, diziam que estava embriagado.
- Jovens! Bebem até altas horas e depois vem se comportar dessa maneira até dentro da escola! Jogue um balde de água fria sem si mesmo...bêbado... – resmungou um velho funcionário do colégio. Depois daquele dia, Ricardinho nunca mais tocou em uma bola de basquete.
Não havia jeito. Tomado a si mesmo como um fracassado no basquete, decidira seguir os planos do pai. Revivera seus tempos de bom aluno, mostrando bons resultados nos vestibulares. Entrou na São Francisco. Com um sorriso falsamente aberto em forma de uma banana, segurava o diploma para posar para a foto que ficaria exposta em cima da lareira na sala de jantar. Motivo de eterno orgulho de seu gratificado velho. O tempo ia passando e, como era se esperar, começava a constituir sua família. Barriga saliente aparecia um dia se surpresa, uma jovem esposa, um filho, boa educação. Sua vida projetava-se como um reflexo do espelho do pai.
Um dia, deitado no sofá com uma cerveja em uma das mãos e o controle remoto na outra, mudava de canal a procura de algum programa de seu interesse. No pequeno intervalo de tempo que concedia a cada canal, um jogo da Liga Nacional passou despercebido, meio que propositalmente. "Será que devo? Já faz tanto tempo!" - relutava ele mentalmente. Não resistiu. Assistiu ao jogo. Aos poucos foi afrouxando a gravata, sentia um ardor pelo corpo. Porque estou tão quente? Pôs-se ereto no sofá, agora com os olhos vidrados no desenrolar do jogo. Ao fim do primeiro tempo, foi jogar no lixo sua garrafa, porém, antes mesmo de chegar a cozinha, deixou-a a cair no chão, paralisando-se por completo...
- Como não pensei nisso antes! - gritou, como se tivesse inventado a fórmula para a máquina do tempo.
Bom, pequeno ele era mesmo, não havia “Biotônico Fontoura” ou ovo de codorna que o fizesse crescer mais. As regras eram claras: um metro e setenta. Aquela frase solidificou-se na cabeça de Ricardo durante toda sua vida.
Mas ao ver aquele jogo, meio que contra sua vontade, mas não contra seus mais profundos desejos, encontrou a solução para finalmente entrar nas quatro linhas das brilhantes quadras de seu imaginário e que de certo não haveria pedra alguma no caminho para tropeçar novamente: viraria juiz de basquetebol.

2 comentários:

Pedro Zambarda disse...

Gostei do conto. Bem criativo, sobre o futuro profissional que, certamente, é importante também para o nosso prazer pessoal.

ítalo puccini disse...

belo conto!
gostei muito também!
um conto propriamente dito. com um "quê" de moral na medida, que não o torna "lição de vida".

abraços,
Ítalo.