domingo, 24 de junho de 2007

Sem celular...Sem MSN...Sem Orkut...Sem vida

Por Luca Contro

Os alunos do 1° JO-B conhecem bem Luis Fernando Carrasco, um aluno bem humorado e amigável. Porém, algo curioso ocorreu certo dia na faculdade, envolvendo-o. Acontece que estávamos fazendo um trabalho na Cásper mesmo e, como é bem comum, nosso colega sumiu. Enquanto nos perguntávamos onde ele estaria, alguém teve a idéia de procurá-lo no celular, então lembrei de uma coisa: O apelidado Carrasco não tem celular.
Foi aí que começamos a pensar, que o mesmo além de não ter celular, não possui Orkut e nem MSN. Então lembrei do porque algumas vezes é difícil encontrá-lo.
Essa simples e cotidiana situação faz lembrar uma coisa que freqüentemente nos esquecemos e consideramos como banal: A maneira como essas pequenas modernidades nos envolvem.
É interessante observar como no caso acontecido, todos nós nem sequer lembramos que seria possível nosso colega não ter celular, como se tê-lo fosse algo básico. Essa atitude ocorreu talvez, porque a grande maioria dos alunos da nossa faculdade, ou pelo menos daqueles que me lembro, tem um telemóvel. O fato é que esse envolvimento com essas pequenas maquininhas e facilidades não é algo tão trivial, quanto parece, pois nos faz recordar da sociedade em que vivemos hoje, a temível Sociedade de Controle.
Nesse tipo de organização social o homem não é mais retido e comandado diretamente, como na antiga Sociedade Disciplinar, mas sim de uma maneira implícita e que se incorpora como normal. Sem querer aqui fazer uma caça às bruxas, até porque seria uma incoerência, já que eu mesmo faço uso de diversos aparelhos e de muitas outras facilidades de nossa tecnologia atual. Mas o que realmente assusta é pensar em como essas pequenas bugigangas se tornaram indispensáveis para nossas vidas e, como sem elas fica tão mais difícil realizar algumas das mais simples tarefas do dia-dia. Para que fique mais simples ver como essa dependência realmente existe, é só imaginar uma situação: Como seria numa daquelas nervosas e irritantes semanas de prova para um dos alunos casperianos de nossa classe, ou para qualquer outro aluno, ficar sem os seguintes maquinários: computador, internet, impressora ou copiadora.
Entretanto, se hoje em dia esse envolvimento ainda não é uma coisa que aterrorize muito, há algo a ser temido sim: a extrema valorização do que é tecnológico e a ostentação do “infoinútil” num futuro não muito distante. Aliás, falando nisso, lembro de um filme que, apesar de não ser uma grande produção intelectual e culta como as que os alunos do JO-B estão acostumados, nos dá uma visão sobre essa situação. Trata-se de uma cena da superprodução o Quinto Elemento, dirigida por Luc Besson e estrelada por Bruce Willis, Milla Jovovich, Gary Oldman e Chris Tucker. O filme se passa na Nova York do século 23, num cenário totalmente futurista. Em uma cena específica, o vilão Jean Baptiste Emmanuel Zorg (Gary Oldman), dono de uma grande empresa de armas, riquíssimo e igualmente maléfico, se engasga com um caroço enquanto discursava sobre seu grande poder e sua impotência frente a todas as facilidades tecnológicas luxuosas.
É então que o personagem Vito Cornelius, um humilde Padre interpretado por Ian Holm o observa e pergunta ironicamente, enquanto ele se retorce: “onde esta o robô para bater nas suas costas?”.
Como ainda não parece ter surgido uma reposta final sobre o assunto, finalizo com uma frase de Gilles Deleuze, de seu texto “Sobre as sociedades de controle”, em que ele se refere bem a essa indefinição. Nela o autor se pergunta como será maneira com a qual os jovens se colocarão em relação às sociedades de controle, questionando como responderão ao seu domínio: “Muitos jovens pedem estranhamente para serem motivados, e solicitam novos estágios e formação permanente; cabe a eles descobrir a que estão sendo levados a servir, assim como seus antecessores descobriram, não sem dor, a finalidade das disciplinas”.

5 comentários:

Anônimo disse...

Aos amigos e amigas do blog, deixo um abraço, parabenizando-os pelo trabalho!

Cecília do Lago disse...

Moral da história

Carrasco é o Quinto Elemento





Muito bom o post Luca!!!

Anônimo disse...

q q tem a ver o 5º elemento?

Pedro Zambarda disse...

A cena, não o filme inteiro, ilustra bem como as pessoas não param pra se questionar sobre a importância que dão às coisas matérias. Piadas como a do padre são comuns para quem tem noção sobe isso.

ítalo puccini disse...

mais uma bela reflexão neste espaço!
gostei!

até que ponto o avanço tecnológico nos tira a privacidade e a liberdade? ou eles ajudam a ampliar esta última?...

abraços,
Ítalo.