Por Luca Contro
No dia 27 de junho, Jô Soares apresentou em seu programa na Rede Globo de Televisão algo diferente do normal. Foram reunidas quatro jornalistas diferentes: Lúcia Hippólito, Lilian Witte Fibe, Cristiana Lobo e Ana Maria Tahan, em uma espécie de mesa redonda, em que foram discutidos os atuais acontecimentos políticos e outros assuntos.
Entre essas discussões, tiveram grande destaque as peripécias de Renan Calheiros (PMDB-AL) e de nossos ilustríssimos senadores e políticos, além da violência e a crise no sistema aéreo do País de todos.
O mais intrigante nesse episódio é que várias figuras foram fortemente criticadas em rede nacional, em especial, o presidente do senado. Essa atitude da rede mais poderosa da televisão não é muito comum, já que seu jornalismo político muitas vezes é providencialmente parcial e "shownarlístico", com raríssimas exceções, como o trabalho do excepcional Arnaldo Jabor.
Entretanto, o apresentador do programa se referiu a certos políticos de maneira absolutamente diferente. Como no caso de Pedro Simon (PMDB-RS) lembrado pelos participantes como, de certa forma, excluído de toda essa podridão política. É óbvio que Simon nos últimos tempos tem se colocado ferreamente contra as atitudes e acontecimentos lastimáveis no caso dos bois-voadores, das licitações e do triângulo amoroso novelístico e, bem a moda Televisa, de Renan. Mas então fica a pergunta: será que foi somente e, realmente por isso, que a Globo, resolveu realizar esse debate?
E mais, será que, de maneira providencial, esqueceram certas posições duvidosas e de omissão assumidas pelo próprio Simon?
Um exemplo dessas atitudes é a questão levantada por José Arbex Jr., na entrevista da edição nº 90 da revista Caros Amigos, em que este indaga o político dizendo: "Não vi uma intervenção sua no Senado contra a Monsanto por ela ter feito contrabando de semente transgênica no Brasil, contrariando a Constituição. Não vi ninguém no Senado dizer que não é qualquer empresa transnacional que vai obrigar o governo brasileiro a botar uma medida provisória que autoriza a produção de transgênico, contra o que diz a Constituição. Não vi dizerem que os executivos dela que promoveram esse contrabando tem que pôr na cadeia. Não, o Brasil vai e dá um prêmio pra eles, autoriza a plantação e a Embrapa diz que é uma questão técnica”.
Simon, nesta mesma entrevista, responde a Arbex dizendo: "Você não ouviu esse discurso nem de mim nem de ninguém. No Rio Grande do Sul, a questão ficou muito complicada. Quando você diz “é contra a lei, prende”, pouca gente soube da lei. Isso não é bem assim, você fala com uma tranqüilidade que eu, do outro lado..."
Outro que saiu do programa de Jô Soares como uma exceção à sujeira política, foi o senador Eduardo Suplicy (PT-SP). Provavelmente não interessava, naquele momento, lembrar que o mesmo foi multado pelo Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo (TRE-SP) por ter feito campanha em plena tribuna do Senado, em 20 de setembro do ano passado, quando divulgou sua candidatura e seu site na Internet enquanto discursava.
É inegável que as carreiras políticas de Suplicy e Simon, comparativamente as de outros, são infinitamente menos escandalosas e, que eles parecem buscar muitas vezes solitariamente o combate à corrupção. Contudo, a atitude inesperada da Globo de inserir essa discussão num programa de entrevistas é algo curioso. Ainda mais perturbador é o fato de que, em outros casos gravíssimos de corrupção e de incrível falta de vergonha em nossa política, a mesma emissora pouco ou nada fez, quanto mais dedicar grande espaço de seu tempo, disputado ferozmente por publicitários, à discussões como a do programa de ontem.
Infelizmente, até quando a Globo se coloca contra as falcatruas tão comuns no Brasil, simplesmente não convence, mesmo num programa de um humorista de tanta qualidade e inteligência como Jô Soares. Quem, por sinal, mesmo na ditadura, criou personagens e participou de quadros que, de maneira perspicaz, agulhavam os militares e denunciavam absurdos dessa época. Assim, o apresentador, trabalhando na emissora em que trabalha, não pode ser totalmente responsabilizado por aquilo que apresenta em seu programa, como no caso de ontem (sabe-se do caráter nem um pouco desinteressado e manipulador daquilo que a Globo apresenta). Entretanto, por trabalhar há tanto tempo, ele não pode ser ausentado de culpa, pois já deve ter a consciência daquilo a que está sujeito.
Entre essas discussões, tiveram grande destaque as peripécias de Renan Calheiros (PMDB-AL) e de nossos ilustríssimos senadores e políticos, além da violência e a crise no sistema aéreo do País de todos.
O mais intrigante nesse episódio é que várias figuras foram fortemente criticadas em rede nacional, em especial, o presidente do senado. Essa atitude da rede mais poderosa da televisão não é muito comum, já que seu jornalismo político muitas vezes é providencialmente parcial e "shownarlístico", com raríssimas exceções, como o trabalho do excepcional Arnaldo Jabor.
Entretanto, o apresentador do programa se referiu a certos políticos de maneira absolutamente diferente. Como no caso de Pedro Simon (PMDB-RS) lembrado pelos participantes como, de certa forma, excluído de toda essa podridão política. É óbvio que Simon nos últimos tempos tem se colocado ferreamente contra as atitudes e acontecimentos lastimáveis no caso dos bois-voadores, das licitações e do triângulo amoroso novelístico e, bem a moda Televisa, de Renan. Mas então fica a pergunta: será que foi somente e, realmente por isso, que a Globo, resolveu realizar esse debate?
E mais, será que, de maneira providencial, esqueceram certas posições duvidosas e de omissão assumidas pelo próprio Simon?
Um exemplo dessas atitudes é a questão levantada por José Arbex Jr., na entrevista da edição nº 90 da revista Caros Amigos, em que este indaga o político dizendo: "Não vi uma intervenção sua no Senado contra a Monsanto por ela ter feito contrabando de semente transgênica no Brasil, contrariando a Constituição. Não vi ninguém no Senado dizer que não é qualquer empresa transnacional que vai obrigar o governo brasileiro a botar uma medida provisória que autoriza a produção de transgênico, contra o que diz a Constituição. Não vi dizerem que os executivos dela que promoveram esse contrabando tem que pôr na cadeia. Não, o Brasil vai e dá um prêmio pra eles, autoriza a plantação e a Embrapa diz que é uma questão técnica”.
Simon, nesta mesma entrevista, responde a Arbex dizendo: "Você não ouviu esse discurso nem de mim nem de ninguém. No Rio Grande do Sul, a questão ficou muito complicada. Quando você diz “é contra a lei, prende”, pouca gente soube da lei. Isso não é bem assim, você fala com uma tranqüilidade que eu, do outro lado..."
Outro que saiu do programa de Jô Soares como uma exceção à sujeira política, foi o senador Eduardo Suplicy (PT-SP). Provavelmente não interessava, naquele momento, lembrar que o mesmo foi multado pelo Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo (TRE-SP) por ter feito campanha em plena tribuna do Senado, em 20 de setembro do ano passado, quando divulgou sua candidatura e seu site na Internet enquanto discursava.
É inegável que as carreiras políticas de Suplicy e Simon, comparativamente as de outros, são infinitamente menos escandalosas e, que eles parecem buscar muitas vezes solitariamente o combate à corrupção. Contudo, a atitude inesperada da Globo de inserir essa discussão num programa de entrevistas é algo curioso. Ainda mais perturbador é o fato de que, em outros casos gravíssimos de corrupção e de incrível falta de vergonha em nossa política, a mesma emissora pouco ou nada fez, quanto mais dedicar grande espaço de seu tempo, disputado ferozmente por publicitários, à discussões como a do programa de ontem.
Infelizmente, até quando a Globo se coloca contra as falcatruas tão comuns no Brasil, simplesmente não convence, mesmo num programa de um humorista de tanta qualidade e inteligência como Jô Soares. Quem, por sinal, mesmo na ditadura, criou personagens e participou de quadros que, de maneira perspicaz, agulhavam os militares e denunciavam absurdos dessa época. Assim, o apresentador, trabalhando na emissora em que trabalha, não pode ser totalmente responsabilizado por aquilo que apresenta em seu programa, como no caso de ontem (sabe-se do caráter nem um pouco desinteressado e manipulador daquilo que a Globo apresenta). Entretanto, por trabalhar há tanto tempo, ele não pode ser ausentado de culpa, pois já deve ter a consciência daquilo a que está sujeito.